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Liderança

6 min de leitura

Quatro elementos para construir um ambiente que inspira e desenvolve pessoas

Simon Sinek diz que “existem duas maneiras de influenciar o comportamento humano. Você pode inspirá-los ou manipulá-los”

Colunista Augusto Júnior e Davi Lago

Augusto Júnior e Davi Lago

11 de Fevereiro

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Artigo Quatro elementos para construir um ambiente que inspira e desenvolve pessoas

No documentário “Quem se importa?”, sobre empreendedorismo social, um dos entrevistados é Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. Em sua entrevista, ele fala sobre como um bonsai pode ser uma pequena árvore em uma bandeja ou pode se tornar a árvore mais frondosa de uma floresta, e o que vai determinar isso é o ambiente.

Existem três tipos de ambientes: ambiente inóspito (sem condições para aquela planta), ambiente inadequado e o ambiente ideal. Pensando nessa metáfora, qual é o ambiente da sua organização e da sua área hoje? A resposta não deve ser dada exclusivamente pela liderança, mas sim por todos do time, para de fato haver uma visão coesa da realidade.

Para um bonsai crescer, ele precisa de duas condições: a primeira é espaço para suas raízes se aprofundarem e ramificarem na terra; a outra é a existência de fatores que estimulem seu desenvolvimento.

Impasse do crescimento nas organizações

No mundo corporativo, também é preciso haver condições de crescimento. No entanto, existe um grande dilema nesse contexto: do lado dos gestores, a pergunta é: como vamos manter nossos colabores de alto potencial engajados e inspirados? E do lado dos times, a questão é: como encontrar um ambiente propício para meu crescimento?

Daniela Diniz, que também é colunista desta HSM Management, falou em um evento algo que chamou bastante atenção: “Pare de tentar reter talentos, construa uma relação que seja boa enquanto dure”.

Essa afirmação foi bastante pertinente, pois sempre que falo sobre o tema ‘jovens talentos’ em aulas para executivos da Fundação Dom Cabral ou em programas in company da Eureca, vejo que a liderança se preocupa em conseguir manter àquelas pessoas de alto potencial inspiradas e engajadas na organização.

Ambientes de trabalho e “o melhor de si”

Realmente, o ambiente vai determinar o tipo de cultura que será criado e o nível de engajamento e satisfação dos colaboradores. Simon Sinek, um dos autores de negócios mais lidos dos últimos anos, diz no livro “O jogo infinito” que “líderes são responsáveis por criar um ambiente em que as pessoas sintam que podem ser o melhor de si”. Lideranças precisam criar esses ambientes que inspiram, desafiam e fazem seus times evoluírem.

Ao estudarmos grandes autores do mundo corporativo como Martin Seligman, Dan Pink, Shawn Achor e Mihaly Csikszentmihalyi, podemos tirar bons princípios para aplicarmos ao contexto das nossas empresas.

Nesse sentido, fizemos uma curadoria de quatro elementos que podem ser usados para construir um ambiente que inspire e faça as pessoas darem o melhor de si:

- Significado – Essa pauta de busca por propósito pode até parecer “modinha”, mas de fato isso é importante. O ser humano tem uma necessidade intrínseca de entender porque faz o que faz. É essencial que se tenha consciência das suas atividades.

Alguns líderes pensam que basta ter o grande propósito da empresa e tudo está resolvido, mas não é bem assim. Além do propósito organizacional, é preciso ter a consciência do propósito da sua área e como ela está contribuindo para o propósito maior. Na verdade, cada pessoa precisa conectar o propósito dela aos da área e da empresa.

- Desafio – Ser desafiado é essencial para o crescimento. Mihaly traz, em seu livro “Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade”, sua teoria de que “flow” é um estado mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. Esse estado é alcançado por dois eixos: o tamanho da competência e o nível do desafio que se tem.

- Contribuição – Esse elemento diz respeito a quanto o trabalho da pessoa é reconhecido e o quanto ela percebe que seu trabalho é útil para a organização. Temos uma cultura em que as pessoas são obrigadas a cumprir carga horária e, às vezes, mesmo que não tenha o que fazer, precisam esperar o tempo passar. Isso vai desmotivando e tirando o nível de engajamento. Muitos líderes acham que o reconhecimento estraga, mas, na verdade, é uma excelente maneira de manter as pessoas engajadas.

O professor Cortella (que, inclusive, já foi entrevistado aqui em nossa coluna) afirma em uma entrevista que: “reconhecimento não é só pecuniário, financeiro, é autoral. É necessário que a empresa exalte, mostre quem colaborou com aquilo. À medida que você tem reconhecimento, comemoração, celebração, isso dá energia vital para continuar fazendo.”

- Pertencimento – Um estudo global realizado pelo Boston Consulting Group, com mais de 200 mil pessoas em todos os continentes, fez um levantamento dos 26 principais fatos que motivam uma pessoa no seu ambiente de trabalho. Esse estudo apresenta na segunda posição as relações com os colegas de trabalho, e em quarto lugar a relação com seu superior. Isso indica que faz parte das necessidades humanas querer pertencer a um lugar e fazer parte de algo.

Avaliando ambientes inspiradores

Diante desses quatro elementos descritos acima, faça uma análise com as seguintes perguntas para identificar o perfil do ambiente da sua organização:

1. Sua área tem um propósito que contribui com o propósito da empresa como um todo?

2. Todas as pessoas que trabalham com você saberiam explicar o seu propósito?

3. É possível enxergar o propósito no dia a dia de atividades?

4. As pessoas têm autonomia para começar novos projetos?

5. As tarefas das pessoas são pensadas como formas de ajudá-las a se desenvolverem?

6. Os liderados têm liberdade para dar feedback aos seus líderes?

7. Existe algum tipo de reconhecimento diário?

8. As pessoas diariamente falam de suas conquistas e têm senso de realização?

9. Os times comemoram micro vitórias e pequenos avanços?

10. Existe uma cultura de colaboração intensa e frequente entre os diferentes times?

11. Existe uma relação de amizade e respeito além do ambiente de trabalho entre as pessoas?

12. Os objetivos e sonhos são co-criados e compartilhados entre os times?

Para cada pergunta, dê uma nota de 0 a 3.

Resultados: até 15, seu ambiente é inóspito. Entre 15 e 25, seu ambiente é inadequado. Entre 25 e 36, seu ambiente é ideal.

E aí, como foi essa autoanálise? E se fôssemos rodar essa pesquisa na sua equipe, qual seria a resposta dos colaboradores? É preciso constantemente cuidar do seu ambiente para, de fato, fazer com que as pessoas prosperem e se desenvolvam.

Dessa forma, haverá um espaço que consegue extrair o melhor de cada pessoa, fazer com que todos continuem crescendo e, consequentemente, que sua área também evolua e se desenvolva.

Insights para sua carreira

Por fim, outras perspectivas podem ajudar líderes e talentos na criação de ambientes inspiradores nas organizações. Aos líderes, dois insights são pertinentes.

De início, faça um diagnóstico para entender como as pessoas do seu time percebem o ambiente de trabalho. Em seguida, escolha um dos quatro elementos para começar a trabalhar e criar uma rotina de trabalho para desenvolver esse ambiente.

Aos talentos, cabe avaliar seu ambiente atual de trabalho para perceber quais desses elementos estão presentes na empresa, de modo a propor, posteriormente, as mudanças que enriqueçam os ambientes, tornando-os inspiradores para toda a organização.

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Colunista

Colunista Augusto Júnior e Davi Lago

Augusto Júnior e Davi Lago

Davi Lago e Augusto Jr

Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito

Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

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