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Carreira

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Como a comunicação pode ajudar na sua carreira profissional

A arte da retórica e a comunicação não-violenta podem ser determinantes para o sucesso de nossas relações corporativas

Maytê Carvalho

15 de Julho

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Artigo Como a comunicação pode ajudar na sua carreira profissional

Sou autora do best-seller Persuasão: Como utilizar a retórica e a comunicação persuasiva na sua vida pessoal e profissional, e além de realizar treinamentos e cursos in-company, costumo ouvir com frequência de alunos e leitores que a minha obra ajudou fortemente em suas carreiras. Porém, para entender exatamente como, precisamos entender os fundamentos da retórica.

Mas o que é retórica? É a arte do bem falar; a persuasão, a arte do bem falar com a finalidade do convencimento. Com origem no grego rhetor, a arte de falar bem utiliza todos os recursos da linguagem para atrair e manter a atenção e o interesse do auditório, para informá-lo, instruí- lo e, principalmente, persuadi-lo das teses ou dos pontos de vista que o orador pretende transmitir. Em sentido amplo, designa a arte de usar a linguagem com objetivo de persuadir ou influenciar, podendo significar a própria técnica de persuasão.

“Só fala bem quem pensa bem.” Essa frase do Aristóteles ressignificou toda a minha relação pessoal com a própria persuasão inclusive. Deixei de me enxergar como uma impostora e passei a me ver como uma pessoa inteligente. Eu tinha vergonha de ser persuasiva porque a palavra, muitas vezes, carrega um viés ruim.

Mas não para Aristóteles. Não na Grécia Antiga. Desde Homero, a Grécia é eloquente e se preocupa com a arte do bem falar. Falar bem era tão importante para o herói quanto combater bem era para o rei. Tanto que o próprio foi mentor de Alexandre, o Grande, que nunca perdeu uma batalha sequer e, mesmo enfrentando o exército mercenário de Dario, com sua eloqüência e sedução cativava seus soldados e liderados.

Construção da imagem de si

Vamos traçar um paralelo com o mundo corporativo: como você cativa o seu time? Como você se comunica com os seus pares? Como você dá e recebe feedback?

A retórica aristotélica parte da premissa que são necessários três pilares para a construção de uma fala persuasiva: ethos (credibilidade do orador), pathos (emoção) e logos (razão). São esses os pontos que guiam desde entrevistas de emprego a descrições no LinkedIn e apresentações de projetos internos.

Pergunte-se: qual é o seu ethos? Como ele se alinha com o da empresa? Qual é a imagem de si que você faz? A construção de uma imagem de si, peça principal da máquina retórica, está fortemente ligada à enunciação. Todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si. Para tanto, é necessário que o locutor faça seu autorretrato e detalhe suas qualidades – nem mesmo que fale explicitamente de si. Seu estilo, suas competências linguísticas e enciclopédicas, suas crenças implícitas são suficientes para construir uma representação de sua pessoa. Assim, deliberadamente ou não, o locutor efetua em seu discurso uma imagem de si.

Posso te dar um feedback?

Quando essa construção chega ao ambiente corporativo, a comunicação não-violenta (CNV) aplicada a este ambiente pode nos orientar. É como que, quando abordados sobre o tema nas organizações, ficamos apreensivos e tensos com o que está por vir.

Contudo, é importante lembrar que muito do feedback tem a ver com a percepção do outro sobre um fato e a narrativa estabelecida. Às vezes, a gente acha que está com raiva e diz: “eu fui humilhada, estou sobrecarregada, fui excluída desse projeto”. Mas, muitas vezes, isso não passa de uma narrativa em nossa cabeça.

O processo de comunicação contribui decisivamente para a construção do poder no equilíbrio, no desenvolvimento e na expansão das empresas e das instituições. Este processo permite a integração e, por conseguinte, a disposição ordenada das partes de uma organização.

Um dos aspectos relacionados à comunicação é a tentativa de compreender e de se fazer compreendido de modo aprazível. Assim sendo, uma das exigências básicas do processo é o relacionamento com o outro, e este elemento pode afetar o clima em um ambiente de trabalho.

O feedback, principalmente quando realizado no ambiente corporativo, deve ser organizado a partir das concepções da comunicação não-violenta. Feedback bom é feedback que termina com ponto de interrogação, e não com ponto final.

Por uma comunicação não-violenta

A CNV, criada pelo psicólogo Rosenberg, se fundamenta em habilidades de linguagem e de comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Trata-se de uma filosofia aplicada à linguagem, a qual convida as pessoas a extinguirem de suas falas tudo o que o autor designa como “comunicação alienante da vida”.

O psicólogo entende que, as relações humanas, familiares ou profissionais, podem melhorar substancialmente. Sua teoria é afiançada por vários estudiosos e líderes mundiais, dentre eles Gandhi, o qual afirma que “se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo, e essa mudança começará por nossa linguagem e nossos métodos de comunicação”.

A filosofia compreende basicamente quatro componentes que se iniciam com a observação do que afeta nosso bem-estar e, consecutivamente, a identificação de como nos sentimos, o reconhecimento daquilo que gera nossos sentimentos e, por fim, as ações concretas que pedimos para colaborar, positivamente, com a nossa vida.

Então, em vez de falar: “poxa, fiquei esperando o seu retorno sobre o relatório, mas como você não falou nada, tive que mandar assim mesmo para a diretoria”, você pode dizer: “eu fico mais seguro quando você olha os relatórios antes. Para mim seria importante se pudesse analisá-los antes que eu encaminhasse para a diretoria”. Simples assim.

Da mesma forma, em uma situação de responsabilidade sobre um projeto: “você me entrega essas atividades sempre em cima da hora. Você estragou esse projeto”. Que tal dizer: “não consigo trabalhar com entregas em cima do prazo, gostaria de ter ao menos um dia para checagem e ajustes finais. Você poderia me entregar um dia antes?”.

Por fim, sobre pedidos claros e específicos, em vez de falar “gostaria que você confiasse mais em mim”, você pode dizer: “eu gostaria de ter a oportunidade de liderar sozinho, pela primeira vez, o projeto”.

Tais componentes permitem conhecer uma série de distinções precisas, tais como o modo de comunicação utilizado nas relações que levam a confrontos com o outro e ao início de ciclos de emoções dolorosas, e oferecem alternativas aos embates motivados por raiva, punição, vergonha e culpa. A CNV inspira uma ação compassiva, sincera e solidária, por meio de uma dinâmica cooperativa de comunicação, sem utilizar uma linguagem agressiva. Com o uso da retórica aristotélica e da comunicação não-violenta você pode consolidar uma carreira empática, humana, influente e protagonista no ambiente corporativo.

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Autoria

Maytê Carvalho

Comunicóloga e professora de Retórica nos cursos de extensão da ESPM, hoje atua como diretora de estratégia de negócios na TBWA\Chiat Day. Autora do livro Persuasão: Como usar a retórica e a comunicação persuasiva na sua vida pessoal e profissional.

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