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Desenvolvimento pessoal

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Um retrato da juventude brasileira

Atlas das Juventudes faz diagnóstico de um quarto da população do País e sugere iniciativas para que os jovens cheguem ao mercado de trabalho capacitados

Angela Miguel

16 de Julho

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Artigo Um retrato da juventude brasileira

Em linha com os últimos anos do boom demográfico, o Brasil possui quase 50 milhões de jovens com idades entre 15 e 29 anos – um quarto da população total do País. E embora tenham, em sua maioria, saúde e força de vontade para construir caminhos brilhantes, a realidade de grande parte desses jovens é bem distante de uma estrada tranquila.

Não basta apenas “vontade” de ser o protagonista de sua história. Na verdade, o que as pesquisas mostram, dia após dia, é que todas as outras condições econômicas, sociais, culturais e políticas pesam muito mais do que a “força de vontade”. A juventude brasileira precisa lidar com a evasão escolar, com a capacitação insuficiente, com o agravamento das desigualdades sociais, com a insegurança alimentar e com o difícil acesso a serviços essenciais. É uma discussão que aprofunda as diferenças e os privilégios sociais.

Apesar da complexidade existente, há muitas instituições que acreditam na transformação dessa realidade com a aplicação de iniciativas concretas, consistentes e sustentáveis. Assim, nasceu o Atlas das Juventudes, que tem o objetivo de produzir, sistematizar e disseminar dados sobre os jovens brasileiros, de maneira a estimular um futuro bem-sucedido. A iniciativa do Em Movimento e do Pacto das Juventudes pelos ODS teve apoio de diversas empresas, como Sicoob, Instituto Arapyaú, Itaú, FGV, British Council, Globo e Eureca.

O retrato diverso da juventude

A diversidade é a principal característica dos jovens brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a juventude é composta por negros (61%), brancos (38%), amarelos (0,5%) e indígenas (0,4%). Entre homens e mulheres, há um equilíbrio: de 15 a 24 anos, a maioria é masculina; de 25 a 29, feminina.

Entre as regiões do País, os jovens se concentram nas regiões Norte (28%) e Nordeste (26%), e a maioria está presente nas áreas urbanas, especialmente nas periferias metropolitanas nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Ceará. Entre as capitais, a maioria ocupa São Paulo, Curitiba, Salvador, Recife e Belém.

Estimativas de grupos do movimento LBGTQIA+ apontam que existem cerca de 20 milhões de jovens gays (10% da população), 12 milhões de lésbicas (6%) e 1 milhão de pessoas trans (0,5%).

Quanto à educação e colocação no mercado de trabalho, o Brasil ocupa o 11º lugar entre 30 países a respeito do potencial dos jovens de se adaptar às mudanças tecnológicas. Ao mesmo tempo, a juventude tupiniquim apresentou índice acima da média internacional sobre o engajamento em atividades empreendedoras.

Porém, ainda há um espaço grande entre a quantidade de jovens e a quantidade de oportunidades no País. Para movimentar as reflexões, o Atlas das Juventudes analisou as condições do acesso à educação, ao emprego e outras questões fundamentais para o desenvolvimento dessa grande parcela da população.

Educação em primeiro lugar

O direito à educação deve ser encarado como uma das necessidades básicas para os jovens. Somente assim cidadãos poderão nascer. Contudo, ainda há uma série de obstáculos para que as crianças e os jovens completem seus estudos de maneira adequada e esperada pelo mercado de trabalho, sejam as condições socioeconômicas, a escassez de oportunidades educacionais ou a qualidade da educação em si.

Dados da plataforma Juventude, Educação e Trabalho (JET), ferramenta da Fundação Roberto Marinho (FRM), ainda que a grande maioria dos jovens de 15 a 17 anos frequentem o Ensino Médio, ainda há um grande atraso escolar, e as desigualdades nesse período são ainda maiores: em 2020, entre os 25% mais ricos do Brasil, mais de 90% deles estudam no Ensino Médio; entre os 25% mais pobres, o acesso cai para 50%. Para isso, são esperadas iniciativas como as listadas a seguir:

  1. Facilitar a entrada e frequência escolar, por meio de novas escolas, novas vagas e redução de custos, e prevenir a evasão escolar com a promoção de espaços de diálogo com jovens e responsáveis, além de oferta de programa de transferência de renda;

  2. Favorecer o desempenho acadêmico a partir de mudanças pedagógicas, como gestão educacional, clima e cultura escolar, currículo e relacionamento da escola com a comunidade;

  3. Desenvolver habilidades socioemocionais, aprofundando as relações entre jovens e comunidade;

  4. Aplicar recursos tecnológicos na instrução, o que pode envolver tablets, computadores, videoaulas e organizadores gráficos;

  5. Promover o bem-estar dos professores e do time educacional, necessidade diretamente ligada à contratação de mais professores e com melhores condições.

Trabalho e renda

A falha na educação causa outra consequência séria aos jovens: a dificuldade do ingresso ao mercado de trabalho. Com a capacitação insuficiente e a desaceleração econômica, os jovens enfrentam desafios crescentes ao chegar à idade de profissionalização. De acordo com dados do IBGE, a taxa de desemprego entre brasileiros de 18 a 24 anos foi quase 30% maior no fim de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. A pesquisa sugere quatro ações para abrir o caminho aos jovens em direção ao mercado de trabalho:

  • Desenvolver habilidades e promover a capacitação dos jovens, utilizando especialmente a habilidade tecnológica quase que inerente desses cidadãos;

  • Proporcionar serviços que apoiam a busca por colocação no mercado de trabalho, unindo o treinamento para negócios, assessoria e acesso ao capital;

  • Facilitar a contratação dos jovens, ofertando subsídios às empresas;

  • Promover o empreendedorismo jovem, possibilitando acesso ao microcrédito e ao desenvolvimento de aprendizados nesta área.

Segurança e justiça

De acordo com o Atlas da Violência 2020, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os jovens negros são as maiores vítimas de assassinatos no Brasil, cerca de 53% do total. De quebra, na totalidade, foi identificada uma alta de 13,3% nos casos de jovens mortos no País.

Principalmente devido aos exemplos diários de violência contra a juventude, a confiança na segurança e na justiça caem a cada dia. O estudo sugere cinco ações que podem envolver diversos atores da sociedade na mudança desse retrato.

  • Prevenção da violência desde a primeira infância, que inclui o acompanhamento do ambiente domiciliar periodicamente;

  • Promoção de enriquecimento acadêmico e das habilidades sociais, de maneira a prevenir o bullying, o preconceito e a violência no namoro;

  • Acompanhamento dos jovens em situação de maior risco, por meio de abordagens terapêuticas e programas de capacitação, mentoria e prevenção de violência de rua;

  • Prevenção da violência sexual, a partir da identificação de sinais de violência e acolhimento;

  • Fortalecimento da estratégia comunitária, uma vez que o local de nascimento e as relações são fundamentais na redução da violência.

Reflexões permanentes

O Atlas das Juventudes traz ainda reflexões e sugestões de iniciativas acerca de cultura, lazer, comunicação, liberdade de expressão, saúde, sustentabilidade, meio ambiente, mobilidade, cidadania, participação social e política e representação juvenil. Por fim, o material traz ainda abordagens transversais para que haja uma coordenação entre governo e instituições da sociedade para que os jovens brasileiros sejam quem desejam ser e ocupem seus lugares no mercado de trabalho.

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Autoria

Angela Miguel

Angela Miguel é editora de conteúdos customizados das revistas HSM Management e MIT Sloan Management Review Brasil.

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