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Dossiê: Saúde mental nas empresas

6 min de leitura

Líderes desempenham fator de proteção à saúde mental dos colaboradores

GSK mostra como suporte robusto das lideranças ajuda a preservar segurança psicológica no ambiente de trabalho

Paulo César Teixeira

20 de Setembro

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Artigo Líderes desempenham fator de proteção à saúde mental dos colaboradores

Em tempos de pandemia, crise econômica, desastres naturais e outras fontes de comoção coletiva, uma das questões que preocupam as lideranças corporativas é como preservar a saúde mental e emocional dos colaboradores. Exemplos positivos podem ajudar a implementar políticas de promoção da saúde e do bem-estar dos funcionários. E, de quebra, fortalecer o papel dos líderes como agentes de proteção psicológica no ambiente de trabalho.

Foi o que aconteceu na GSK LatAm, que ganhou o This Can Happen Award na categoria Campanha Saúde Mental, em julho de 2021. A premiação é concedida pela This Can Happen, principal organização mundial de saúde mental no ambiente de trabalho. No caso da GSK LatAm, a premiação foi obtida com o Programa de Prevenção ao Suicídio, adotado em 2020.

Com sede em Londres, a GSK produz medicamentos e outros produtos relacionados à saúde em segmentos como aparelho respiratório, HIV, imunoinflamação e oncologia. “Naturalmente, como produtora de bens de consumo do setor farmacêutico, já somos uma empresa voltada para saúde e bem-estar. Mas essa preocupação se estende também aos colaboradores”, afirma Marina Tavares Ribeiro, gerente de saúde e bem-estar da GSK Brasil.

A empresa está entre as cinco mais lembradas e reconhecidas pela comunidade brasileira de RH, na categoria Promoção da Saúde. A premiação promovida pelo Top of Mind de RH é alcançada por meio de indicação de profissionais da área. Na última etapa, uma das cinco indicadas será proclamada vencedora, em 21 de outubro deste ano.

Enfrentando tabus

No caso do Programa de Prevenção ao Suicídio, a GSK demonstrou coragem ao enfrentar um tema considerado tabu não apenas no mundo corporativo, mas em toda a sociedade. Desde 2018, a empresa vem intensificando as ações de gerenciamento de estresse na América Latina – a princípio no México e, a partir de 2019, no Brasil.

Em geral, as campanhas de saúde e bem-estar da GSK estão baseadas em indicadores gerais de cada país onde a empresa atua, que apontam quais são as prioridades (um exemplo é o tabagismo, que tem conotações mais graves na Europa do que no Brasil). No caso da prevenção de suicídio, porém, o diagnóstico de um psiquiatra da empresa do Chile contribuiu para ajustar a lupa sobre o tema. Segundo o especialista, dados históricos indicam que os registros de doenças mentais e de suicídios costumam aumentar a partir de três a cinco anos depois de eventos globais traumáticos. “Tomando em consideração a atual pandemia, o alerta acendeu uma luz para que abordássemos de forma proativa a questão da saúde mental”, revela Marina Ribeiro.

A campanha teve início no “setembro amarelo” de 2020 com o recrutamento de Champions de Saúde Mental, que são funcionários de qualquer nível da empresa dispostos a contribuir com a conscientização dos colegas. “A gente entende que o tema deva ser abordado de forma horizontal”, diz a gerente de saúde e bem-estar da GSK.

Em junho de 2021, a empresa contava com 62 “Champions” na América Latina. Esses colaboradores recebem treinamentos específicos, que incluem escuta ativa para estimular a desconstrução de práticas equivocadas, como duvidar ou atenuar o sofrimento pelo qual a pessoa em situação de risco passa. Além disso, abrange exercícios de respiração: “Quando alguém está nervoso, um dos primeiros impactos fisiológicos é a respiração, como reconhecem os especialistas da área de saúde mental”, assinala Marina. A capacitação dos Champions abarca também primeiros cuidados psicológicos, conforme protocolo elaborado pela OMS.

Além da figura dos Champions, o programa da GSK envolve a promoção de webinares com psicólogos e cursos de conteúdo psicoeducativo, estes últimos em parceria com a plataforma Vitalk. “Em qualquer caso, não se aborda apenas o ato de tirar a própria vida, mas também comportamentos que antecedem o suicídio, aos quais é preciso identificar para agir de forma preventiva”, diz Ribeiro. Ademais, a companhia reforça a divulgação de contatos externos, como CVV, Samu e Corpo de Bombeiros, para que possam ser acionados em situações extremas dentro ou fora da empresa. “Não implementamos o programa pensando apenas no que pode acontecer dentro da GSK”, ressalta a executiva.

Aferição de resultados

Para medir internamente os impactos não apenas das ações de prevenção de suicídio, mas da política de gerenciamento de estresse como um todo, a GSK utiliza a Health & Safety Executive – Indicator Tool (HSE-IT), ferramenta do governo britânico em formato open source. A metodologia apresenta sete dimensões do ambiente laboral associadas à redução dos níveis de saúde, produtividade e bem-estar, além de elevados graus de absenteísmo. São elas:

  • Carga elevada de demandas de trabalho;
  • Falta de autonomia para tomada de decisões;
  • Suporte das lideranças;
  • Suporte dos colegas de trabalho em geral;
  • Importância e relevância do cargo;
  • Qualidade de relacionamentos (abrangendo políticas de promoção de atitudes positivas e de como lidar com situações negativas); e
  • Nível de comunicação de mudanças dentro da organização.

Para avaliar esse conjunto de itens, a HSE-IT estabelece pontuação de zero a 5, sendo que, abaixo de 3,5, há riscos elevado de burnout. De outra parte, pontuação acima de 4 indica grau de excelência no controle do estresse organizacional.

Na avaliação realizada em 2019, a GSK Brasil atingiu pontuação de 3,71, com risco de 30% de burnout, desempenho alinhado ao padrão do mundo corporativo brasileiro, segundo Marina Ribeiro. A pesquisa foi refeita em 2020, já colhendo os resultados das iniciativas de contenção do estresse organizacional, com a obtenção de nota 3,91 e risco de burnout de 15% (diminuição de 50% deste indicador, em comparação com o ano anterior).

Um dos pontos mais relevantes do levantamento com base na HSE-IT é a descoberta de que, entre os sete itens avaliados, o pilar da liderança é o de maior impacto. “Se eu tenho recursos para colocar em apenas um baldinho, é no baldinho da liderança que devo investir”, diz a gerente da GSK, com bom humor.

Segundo ela, os líderes representam o “fator mais protetor” do gerenciamento de estresse no ambiente de trabalho. “Ficou demonstrado que o melhor desempenho em suporte de lideranças eleva substancialmente a média geral de pontuação, compensando eventual menor desempenho em outras variáveis.”

Felicidade no trabalho

Para completar, o suporte robusto das lideranças auxilia também o enfrentamento de mudanças – a exemplo do período de pandemia da covid-19 – com menor impacto na saúde mental e no estresse organizacional.

Outro ponto a destacar na pesquisa da GSK é a relação direta entre redução dos níveis de estresse e burnout com aumento de performance dos colaboradores. “Após um ano, vimos que as equipes que conseguiram reduzir o estresse também melhoraram o desempenho. Tudo isso reforça a importância de um trabalho de saúde e bem-estar holístico”, afirma a gerente de Saúde e Bem-Estar.

Para o futuro, a companhia pretende fortalecer ainda mais as estratégias de preservação da saúde emocional dos funcionários, por meio do enfoque em felicidade no trabalho, com a utilização de plataformas móveis como a Happify, que melhoram a segurança psicológica e o bem-estar emocional. Desse modo, a GSK pretende continuar apresentando-se como um exemplo a ser seguido. Quando o assunto é a saúde mental, todos importam.

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Autoria

Paulo César Teixeira

É jornalista, colaborador de HSM Management e MIT Sloan Review Brasil, autor dos livros Esquina Maldita e Rua da Margem - Histórias de Porto Alegre, além de editar o portal do Rua da Margem.