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Teto e chão de vidro: barreiras culturais para lideranças femininas

O reconhecimento integral de mulheres nos ambientes de negócios deve acompanhar uma verdadeira evolução cultural que valoriza a equidade de gênero na sociedade

Colunista Stephanie Velozo Crispino

Stephanie Velozo Crispino

13 de Maio

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Artigo Teto e chão de vidro: barreiras culturais para lideranças femininas

Você já parou para pensar como a cultura organizacional influencia no desenvolvimento e ascensão de mais lideranças femininas? E como numa sociedade que precisa encarar o desafio de buscar uma maior equidade de gênero, a cultura pode apresentar barreiras que dificultam a trajetória profissional de mulheres?

A consciência dessas barreiras é fundamental para reverter os desafios de visibilidade, empoderamento e igual participação que, de acordo com a socióloga Sylvia Walby, são elementos chave no conceito de igualdade de gênero.

Um estudo Female Founders evidencia esse cenário, em especial no contexto empreendedor. Os dados mostram que entre empresas tradicionais, 46,2% são fundadas por mulheres. No entanto, entre startups brasileiras, apenas 4,7% foram fundadas exclusivamente por mulheres, e 5,1% por mulheres e homens.

Evoluir a cultura dos negócios é uma forma de evoluir a cultura da sociedade. Se reconhecermos esses padrões culturais que hoje reproduzem resultados indesejados como a falta de representatividade e a cultura do silêncio, poderemos redesenhar a estrutura que sustenta a cultura de modo a torná-la mais diversa e inclusiva. Vamos nessa?

Para começar a reconhecer esses padrões é preciso:

1. Observar com atenção o que acontece em volta;

2. Escutar de modo ativo e empático;

3. Acolher, de forma construtiva, as emoções que vierem.

Teto de vidro

Ao longo das suas carreiras, ao progredir para papéis de liderança, as mulheres encontram o famoso teto de vidro (glass ceiling, em inglês): barreiras invisíveis que as impedem de alcançar posições de liderança.

Embora sejam difíceis de ver, com um olhar atento é possível reconhecer algumas crenças limitantes e tensões culturais, como a maternidade, a carga mental, a visão de um estilo único de liderança heroica e, com uma energia masculina mais acentuada, a desvalorização de aspectos e valores femininos.

Fora isso, algumas análises apontam que as mulheres não recebem feedbacks de boa qualidade, apesar de pedirem por feedback tanto quanto os homens.

Essas barreiras são aprendidas desde a sua educação e, por isso, muitas mulheres interiorizam boa parte dessas crenças, acreditando que precisam preencher 100% dos requisitos de uma vaga antes de ocupá-la, diferentemente dos homens que se sentem completamente prontos mesmo que preencham apenas uma parte dos mesmos critérios.

Dentro desses estudos, entendemos que algumas barreiras são diferentes do que imaginamos. Por exemplo, é comum enxergarmos uma barreira de baixa autoestima nas mulheres. Porém, não se trata da falta de autoconfiança em si, relata a análise. Existe, na realidade, uma desconfiança sobre como os outros valorizam ou não as contribuições femininas.

Esses tetos de vidro não são intransponíveis. Ainda bem, pois vemos cada vez mais mulheres quebrando e ressignificando essas crenças. No entanto, junto à força das mulheres para seguirem em frente, apesar de qualquer barreira que encontrem pelo caminho, é preciso endereçar esses desafios de forma estrutural. Apenas assim será possível que as culturas se tornem cada vez mais diversas e inclusivas, potencializando a equidade de gênero.

Chão de vidro

Ao mesmo tempo, é importante saber que, uma vez que chegam lá, muitas dessas mulheres enfrentam o fenômeno do chão de vidro. Trata-se de uma estrutura muito frágil que não permite uma segurança psicológica, uma vez que estão na liderança. O chão de vidro significa que uma mulher será cobrada mais e mais cedo por demonstrar resultados e que, qualquer deslize que aconteça, pode ser definitivo para a sua carreira.

Um artigo do aplicativo She's the boss conta diferentes casos desde o contexto empresarial ao esportivo, nos quais o chão de vidro ou "escada quebrada", como intitulado pelo BBC News, denotaram uma forma diferente de avaliar homens e mulheres em posições de liderança, rapidamente quebrando o suposto avanço de parte destas lideranças femininas por expectativas muitas vezes não comunicadas e além dos resultados.

A provocação que ambos conceitos trazem é: Será que se fosse um homem, ela teria chegado na posição de liderança mais rápido? Será que, uma vez liderando, teria ganhado uma nova chance ou até mesmo sido avaliada de outra maneira se não correspondesse às expectativas?

Essas expectativas muitas vezes vêm da estrutura social em que vivemos, sendo reproduzida dentro dos ambientes de negócios. É por isso que o papel das empresas consiste em evoluir as suas culturas de modo a dar o devido espaço e valorização à voz das mulheres, às suas contribuições, garantindo visibilidade, oportunidades e participações iguais.

Interseccionalidade: um desafio ainda maior

Cada uma dessas barreiras é, infelizmente, ampliada a partir da interseccionalidade, ou seja, da sobreposição de diferentes marcadores sociais que representam um lugar de identidade.

Se estivermos falando de mulheres negras ou mulheres negras LGBTQIA+, mulheres 60+ ou mulheres PCD 60+, ou até mesmo quando levamos em conta questões de classe e regionalidade, os tetos de vidro ficam ainda mais baixos e o chão de vidro ainda mais frágil e instável.

Por isso, para reconhecer as mudanças estruturais necessárias é tão importante entender, também, como ela acontece parapessoas que enfrentam preconceitos e vieses inconscientes sobrepostos.

Afinal, é essa visão mais sistêmica e completa que a interseccionalidade nos permite ter que é a real. Caso contrário, não seremos capazes de evoluir a cultura de modo a trabalhar uma inclusão verdadeira, estaremos incluindo apenas uma parte mais privilegiada das lideranças femininas.

Sabemos que precisamos incluir todas as mulheres. Todas são importantes e, a partir de suas vivências, todas têm muito a nos ensinar e a contribuir para a evolução cultural, econômica e social que o mundo precisa vivenciar na prática.

Alguma ideia de como redesenhar essas estruturas culturais de teto e chão de vidro, atentando para as interseccionalidades? Conta com a Tribo para seguirmos juntas e juntos promovendo mais equidade de gênero nas empresas e na sociedade, afinal essa evolução é responsabilidade de todas as pessoas.

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Autoria

Colunista Stephanie Velozo Crispino

Stephanie Velozo Crispino

É uma das lideranças femininas do Grupo Anga&Din4mo, atuando como CEO da Tribo Global, consultoria que acredita no potencial de evoluir a cultura dos negócios para, assim, evoluir a cultura da sociedade. Também atua como embaixadora do Capitalismo Consciente Brasil, professora no MBA de Gestão Exponencial da Xpeed e foi palestrante no TEDx UFOP e TEDx Laçador.

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