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Sociedade

3 min de leitura

O antiladrão de profissões

Apesar das muitas afirmações em contrário, o mundo tem mais opções e oportunidades do que a supersimplificação dos fatos permite enxergar

Colunista Joseph Teperman

Joseph Teperman

11 de Novembro

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Artigo O antiladrão de profissões

Cada vez mais temos lidado com o fenômeno de supersimplificação dos fatos. Esse hábito de generalizar as coisas pode estar sequestrando o seu cérebro. Uma condição que é tremendamente prejudicial para você, para mim, para nossos colegas, amigos, parceiros. Para todos nós, inclusive como sociedade.

Ajustando o olhar para os vieses

Está no jornal, na boca de pré-candidatos à presidência, na minha boca, na sua boca. O tempo inteiro falamos que os desempregados viraram Uber e que, quando o carro autônomo chegar, nem essa opção estará disponível…(ok, me inclui nessa pra ficar mais simpático, mas quem me conhece sabe que esse pensamento nunca cruzou minha mente!).

Let me tell you something: existem mais de 30 mil profissões catalogadas nos EUA. No Brasil temos ao redor de 10 mil (link) e posso apostar que as mesmas 30.000 (ou mais!) estão sendo exercidas.

A imagem a seguir dá a dimensão da quantidade de vieses que já foram catalogados. Este nosso, entendo que cai no de “anecdotal fallacy”.

Cognitive

Pense: além da profissão “desempregado”, existem outras 30 mil em que há gente produzindo renda, gerando valor, se realizando (e para você que não está feliz: sim, é possível ser feliz trabalhando...).

Em 2008, o Jonerval, com seu jeito desbocado quando foi preso, acabou me ajudando a perceber que mesmo ladrão acaba gerando demandas de trabalho na sociedade. São mais de 4 milhões de views no Youtube, talvez você tenha visto.

“Se eu não roubar, nenhum de vocês tem trabalho. Ceis tão tudo desempregado se eu não roubar, se o outro não roubar… Gero emprego pro repórter, pra polícia, pro escrivão, pra delegado, pra juiz, pra promotor. Tudo através de mim, que sou ladrão. Estou contribuindo para o bem de todos, né?”

Abundância e escassez

Em uma conversa que tive com o Pablos Holman, futurista da Singularity University, ele comentou comigo que faltavam mais de 50 mil motoristas para preencher as vagas abertas para caminhoneiros nos EUA, e que esse era um trabalho dos mais chatos que existe.

Mais ou menos na mesma época, ao me informar sobre um passeio turístico em Los Angeles, conversei com o rapaz que seria o guia e perguntei se ele gostava do que fazia. Disse que adorava. E completou “meu outro trabalho é ser caminhoneiro, aquilo é chato demais”. Bingo!

Outras notícias mostram que a escassez de motoristas não são casos pontuais. Vamos pular para a Inglaterra de setembro de 2021, três anos depois da conversa com Holman.

Mesmo com uma das moedas mais fortes do mundo, um dos países mais avançados e desenvolvidos está enfrentando prateleiras dos supermercados vazias e o motivo principal é a falta de motoristas disponíveis. A estimativa é de 100 mil posições abertas para as quais não há oferta de mão de obra.

Enquanto aqui no Brasil a mentalidade é ludita, posso apostar que justamente o país que inventou o ludismo está rezando para que os caminhões autônomos cheguem o quanto antes.

Quando seu cérebro supersimplificar a questão das oportunidades de trabalho, lembre-se desse artigo que você está lendo hoje . E se quiser entender todas as opções de trabalho catalogadas no Brasil, sugiro abrir a lista de Classificação Brasileira das Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho.

Mais do que isso: só para ler o documento inteiro você já terá um belo de um trabalho. Na própria construção do documento, muita gente trabalhou: pesquisa, redação, diagramação, atualização…

Como aqui, para escrever este artigo. Eu na pesquisa e redação, a Maria Clara editando, nossa designer criando a arte e o time de tecnologia da revista HSM Management envolvido na postagem e manutenção da plataforma digital…

Simples, porém complexo.

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Autoria

Colunista Joseph Teperman

Joseph Teperman

CEO da Amrop INNITI, Board Member, Lifelong Learner, Anticarreirista

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