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Empreendedorismo

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Minha agência bancária fechou. E agora?

Na contramão de instituições bancárias tradicionais, o cooperativismo financeiro encontra em pequenas localidades uma demanda que clama por atendimento presencial e personalizado

Colunista Renato Zugaibe Doretto

Renato Zugaibe Doretto

19 de Fevereiro

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Artigo Minha agência bancária fechou. E agora?

Não temos dúvidas que é necessário buscar bons índices de eficiência, resultados satisfatórios aos acionistas e proporcionar toda a tecnologia disponível para as demandas dos clientes. No entanto, como fico o atendimento diferenciado e personalizado que é proporcionado presencialmente? 

Os altos investimentos em tecnologia, a consolidação do sistema financeiro nacional com cada vez menos instituições bancárias para atender a grande massa de clientes, a entrada das fintechs, e outras opções de instituições financeiras, têm trazido comodidade e levado acesso remoto às pessoas que assim o desejam.  

No entanto, como ficam àquelas desassistidas por tudo isso? E àquelas que mesmo tendo acesso, preferem contar com a personalidade do atendimento presencial?

Alguns dados do Banco Central mostram que tivemos, de dezembro de 2016 até dezembro de 2020, uma redução de cerca de 17% na quantidade de agências bancárias, o que representa o fechamento de quase 4 mil pontos. 

Esse fato não só gerou a falta de atendimento presencial, mas também desemprego com um impacto de quase 50 mil postos de trabalhos fechados. No final de 2020, vimos ainda vários anúncios de bancos, até mesmo públicos, informado que mais agências serão desativadas ao longo de 2021.

A vez das cooperativas financeiras 

Nesse mesmo período, as cooperativas financeiras cresceram sua base de pontos de atendimento em 38% com a abertura de 1.800 novas agências físicas e gerou cerca de 18 mil novos postos de trabalho. 

Para se ter uma ideia, o Sistema Sicoob possui atualmente a terceira maior rede de pontos de atendimento, ficando atrás somente do Bradesco e Banco do Brasil.

Isso pode parecer um contrassenso. Por que os sistemas cooperativos estão indo na contramão do mercado? Levando-se em consideração que um ponto de atendimento demanda investimentos pesados em infraestrutura, tecnologia, pessoal e possui ainda um alto custo para sua manutenção, se faz realmente necessária essa expansão?

Cooperativismo local em expansão 

Vamos lá, apesar das cooperativas oferecerem todos os produtos e serviços básicos das demais instituições financeiras, os objetivos finais são bem diferentes. No caso das cooperativas temos como princípios a inclusão, educação financeira e o crescimento econômico com assistencialismo às localidades onde estão operando. 

Isso ocorre porque toda a riqueza gerada permanecer na comunidade, sendo reinvestida não só para melhorar as condições dos cooperados, mas de todo o ecossistema. Isso sem falar que podem existir ainda as sobras que serão divididas pelos cooperados proporcionalmente a sua movimentação. 

Já os bancos, consolidados, estão buscando os melhores índices de eficiência, bem como redução nas despesas e custos de operação, gerando assim mais resultados aos acionistas. Entretanto, seguindo esse modelo de negócio, os bancos aumentam a taxa de desemprego no setor, reprimindo ainda diversas demandas de clientes devido à falta de atendimento. 

O fato de as cooperativas continuarem a expansão não significa que existe uma falta de atenção aos custos, até porque esses pontos de atendimento visam principalmente a geração de negócios.

São agências modernas, com conforto para que o cooperado se sinta acolhido e possa conversar com alguém que o conheça, que conheça a região e que pode com certeza lhe prestar um atendimento personalizado. 

No entanto, o chamado backoffice ou retaguarda, onde são realizadas tarefas estritamente operacionais, como tesouraria e caixas, por exemplo, também vem diminuindo no cooperativismo justamente pelo avanço tecnológico e pelo alto custo que demandam sem resultado financeiro algum, reduzindo assim as despesas com segurança e riscos aos colaboradores e cooperados.

Hoje no sistema cooperativista, temos associações em grande expansão com índices de eficiência bem melhores em comparação aos bancos, na casa dos 30 a 35%. Ou seja, para cada real gerado, gasta-se trinta centavos enquanto a média dos maiores bancos gira em torno de 50%. Isso mostra que a gestão de custos e investimentos vem sendo feita de maneira muito inteligente.

Uma demanda quase esquecida

Se formos falar das pequenas cidades, distritos e até bairros bem periféricos, se torna ainda mais importante a expansão do cooperativismo. Hoje, no Brasil, cerca de 10% dos municípios, ou seja, em torno de 500 cidades, só tem a instituição financeira cooperativa como opção, e esse número vem crescendo.

Estamos falando de um público que sofre demais com o atendimento remoto, que sempre é lembrado por todas as pesquisas em função da sua importância, mas que pouco recebe atenção com ações efetivas são as chamadas NMPEs (nano, micro e pequenas empresas), responsáveis pela geração de 75% dos empregos no país. 

Pela modelagem de crédito com critérios técnicos e objetivos, criados pelas instituições financeiras para concessão de operações, essas empresas em sua maioria não atende aos requisitos e vão para informalidade, ou mesmo fecham engordando os números de empresas que encerram suas atividades prematuramente. 

Esse mercado precisa necessariamente de agentes financeiros físicos para analisaram não só dados técnicos, mas também os subjetivos, ou seja, o mercado onde atuam, os sócios, as barreiras de infraestruturas e tributárias, entre outros e isso só ocorre quando há a presença física.

Um movimento muito importante que vem auxiliando no crescimento do cooperativismo é o capítulo da Agenda BC# do Banco Central. O Bacen espera que o movimento passe de 20% de participação no mercado em um curto período, para isso, vem trazendo mais flexibilidade e acesso às linhas constitucionais, por exemplo.

Com tudo isso podemos concluir que o cooperativismo financeiro está no caminho certo com essa sólida expansão de sua base em pontos de atendimento, seguindo seus princípios e proporcionando o desenvolvimento socioeconômico ao ajudar não só seus associados, mas também toda a sociedade. Além disso, toda essa iniciativa e contexto traz a bancarização aos desassistidos e promove uma vida mais digna e justa aos menos favorecidos.

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Autoria

Colunista Renato Zugaibe Doretto

Renato Zugaibe Doretto

Dirigente da Sicoob Credisul no Norte do Brasil, conselheiro fiscal do Sescoop/RO e presidente estadual da JARO - Junior Achievment/RO. Engenheiro de produção, com MBA em gestão empresarial e gestão do agronegócio, mais de 20 anos de experiência profissional, sendo 16 em grandes instituições financeiras nacionais e internacionais, atuando no estado de São Paulo.

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