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Cultura organizacional

6 min de leitura

Ballet, minha inspiração para a agilidade organizacional

Este título pode parecer surpreendente para alguém que é espectador e nunca se aventurou na arte do ballet de forma inteira: dançando e coreografando.

Vera Regina Meinhard

14 de Dezembro

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Artigo Ballet, minha inspiração para a agilidade organizacional

Fiquei muito feliz ao receber este artigo da Jennifer Jordan por meio do professor Emílio. Imediatamente pensei: “está mais do que na hora de trazer minha contribuição sobre este tema!”.  Muito obrigada, Professor Emílio.

A arte da dança e a coragem para fluir

Além das habilidades que a Jennifer Jordan citou em seu artigo Lessons in agility from a dancer turned professor, eu quero trazer para vocês valores essenciais que a prática do ballet cultivou em mim. Eles estão conectados com as relações humanas, ponto chave para uma organização desenvolver as atitudes e comportamentos compatíveis com o mindset necessário à agilidade.

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A importância crescente que se atribui ao Novo Normal e ao VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity) sempre me deixam surpreendida. É como se de repente as pessoas estivessem acordando e percebendo uma realidade sempre presente: nem tudo depende da esfera das habilidades e decisões humanas; tudo é novo, por isso é VUCA. A crença absoluta na meritocracia e justiça implacáveis afastou o ser humano da capacidade de ler a vida como ela é. Hoje, isto causa impacto até nas questões de inclusão, uma vez que fica difícil com esta crença diferenciar privilégio, meritocracia e superação. Acaba polarizando e dificultando o exercício de valores básicos das relações humanas como abertura para lidar com os desafios e respeito às outras pessoas, suas ideias e visões. 

Quando dançamos, coreografamos e participamos de espetáculos, principalmente amadores, aprendemos que tudo pode acontecer. O mais importante é estar preparado para lidar com o incerto e com as diferentes visões e entendimentos! Por exemplo, quando entro em um palco, sei que mesmo fazendo o meu melhor, tudo pode acontecer. Preciso estar emocionalmente e tecnicamente pronta para lidar com estas incertezas. Você já tropeçou no palco fazendo um solo? Eu já; lidei da melhor maneira com a situação e capitalizei para aprender. E os figurinos retocados na véspera de forma errada e impossível de entrarem no seu corpo? 

Pois é, viver o VUCA demanda muita coragem para deixar fluir a criatividade de todas(os) com respeito e ousar utilizá-la para lidar abertamente com cada desafio. 

Todo espetáculo é fruto de muita colaboração

Acredito que estes são naturalmente relacionados ao ballet e mesmo assim vale lembrar: o comprometimento total com o meu desenvolvimento pessoal são valores essenciais para eu tomar em minhas mãos o prazer de ser uma bailarina. Valor a gente repete onde estiver!

Dois outros valores que a dança me ensinou e creio fundamentais para a agilidade: interdependência e colaboração. Todas(os) sabem que um espetáculo demanda várias competências, por mais minimalistas que sejam. Isso me ensinou que preciso estar sempre pronta para ajudar e cooperar com as outras funções e sentir a importância de cada uma delas na construção de tudo que faço na vida. Com isto, o ballet me ensinou a valorizar a visão sistêmica: além de fundamental para nos percebermos no espaço de um palco, é a melhor maneira de compreender e sentir as conexões entre as diferentes pessoas e suas funções em qualquer processo. 

Aprendi a valorizar a confiabilidade em cada exercício. Sei que a execução de cada um deles com total comprometimento é que me leva a entregar o melhor de mim nesta arte dentro do meu potencial.  Aprendi a me ver como cliente desta arte, pois sou a primeira que preciso emocionar ao dançar. Para entregar um belo espetáculo, e isso inclui cada aula, preciso ter foco neste cliente para o ballet representar a total conexão com minha alma, meu corpo e mente e sentir o prazer desta emoção. Entro na sala de aula e no palco para sentir e repercutir tudo isso.

Como lembra meu amigo Thiago Henriques, um case bem interessante de agilidade organizacional com foco no cliente é a Zappos, fundada em 1999 por Tony Hsieh. Ele montou uma empresa on-line de venda de sapatos que se diferenciou de tudo que existia na época. Para que isso fosse possível, deu total foco ao cliente e criou um ambiente de trabalho seguro onde o fit cultural foi critério para a entrada de novos colaboradores(as), e era mais importante que as habilidades técnicas dos(as) candidatos(as). 

Seu elemento fundamental para criar a agilidade necessária que demanda o foco no cliente: favorecer uma cultura orgânica e descentralizada. Por meio de comunicação clássica como call center, a Zappos conseguiu montar uma máquina de vendas, sendo inspiração para outros mercados. Seus atendentes têm autonomia para resolver o problema do(a) cliente, e são incentivados a fazer isto, realmente colocando o “cliente em primeiro lugar”. Resultado interessante: os clientes que devolveram sapatos e foram excelentemente atendidos, estatisticamente são clientes que compram mais do que clientes que nunca tiveram qualquer tipo de problema com a Zappos. O fundador Tony Hsieh diz que o negócio da Zappos é vender felicidade.

Esta autonomia espelha a capacidade de integrar todos(as) de forma orgânica no processo com respeito, confiabilidade, coragem, comprometimento, desenvolvimento pessoal, abertura, foco no cliente e visão sistêmica! Cultura de bailarinas(os), como em um espetáculo de ballet!

A cultura do Ballet provoca valores do Ágil!

Minhas experiências com o ballet são minha motivação e me orientam na atuação profissional. Sempre brinco: aprendi mais com Nice Leite no ballet do que em 4 anos na EAESP- FGV. Claro, são aprendizados complementares. No entanto, os valores me guiam de maneira estrutural, as competências desenvolvo, revejo e incremento em função das necessidades do mundo em que vivo e dos novos desafios que assumo. O bom é que acredito que podemos desenvolver os comportamentos que se conectam com estes valores. 

Lembrando novamente do meu amigo Thiago Henriques, por esta razão, além de recebermos formação sobre métodos e técnica ágeis, é necessário aprendermos como ser os valores essenciais do ágil. A organização pode ter “Agilistas” excepcionais e contratar caríssimos “Agile Coaches” para tentar evangelizar a empresa; contudo, se os valores ágeis deixam de ser introduzidos como um novo modelo de comportamentos ligados a estratégia e cultura organizacional, estes esforços serão pontuais, doloridos e pouco perenes, levando muitas vezes à frustação das equipes pioneiras e descredito dos executivos sêniores sobre a viabilidade da implementação de uma cultura ágil na organização.

O artigo da Jennifer Jordan, citado no início do meu texto, me deixa muito feliz, pois reforça a intenção que Thiago Henriques e eu colocamos neste nosso novo programa innovAGILE, cuja base são os valores essenciais para ser ágil.

Recomendo a leitura da Jennifer Jordan, ela traz 4 relações que são também essenciais:

  • Core strength, valores fundamentais para seguir seu propósito pessoal, desdobrá-lo na vida profissional e evitar que modismos desviem sua atenção do essencial.

  • Ability to change focus quickly, conexão com os movimentos para fluir.

  • Extreme flexibility and range of motion, agilidade nas ideias e conexão destas com foco na solução para saber quando se desapegar ou realmente seguir em frente.

  • Knowing where you want to go, criar uma visão e saber realizá-la por meio de etapas de curto prazo.

Espero que gostem do meu artigo e do que me inspirou.

Leia outros artigos sobre cultura ágil no blog da Revista HSM.

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Autoria

Vera Regina Meinhard

Administradora pela EAESP – FGV, mestra em Sustentabilidade e Governança com artigo publicado em 2020 na RECADM sobre “A representatividade das mulheres na liderança”. Tem especialização no PIM na HEC e no Diversity Program da INSEAD na France. Possui 25 anos de vivência internacional em cargos de liderança (França, Brasil, Argentina, Chile) no Groupe Renault France. Desde 2011 se dedica ao desenvolvimento humano como coach, mentora, facilitadora, palestrante, educadora e consultora cultural com o Barrrett Model.

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