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Atenção primária reduz custos na saúde corporativa

Acompanhamento com médico da família in company impacta no absenteísmo, presenteísmo e na sustentabilidade do sistema de saúde suplementar

Angela Miguel

15 de Dezembro

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Artigo Atenção primária reduz custos na saúde corporativa

Quando os primeiros sinais da Covid-19 apareceram na China, o mundo assistiu o sistema chinês impedir o crescimento do contágio do vírus em seu território, estratégia atribuída ao governo centralizador e autoritário. No entanto, durante o Festival ALMA – Festival Digital de Negócios Conscientes, realizado em abril, Peter Senge, professor sênior da MIT Sloan School of Management, cofundador da MIT Academy for Systemic Change, defendeu que o sucesso chinês se deveu à abordagem integrada que o país adota para a saúde de seus habitantes.

Segundo Senge, a China combinou ensinamentos ocidentais com a milenar medicina oriental. Enquanto a primeira combateu a doença, a segunda fortaleceu a imunidade dos indivíduos, estratégia que se mostrou efetiva para reduzir o uso de leitos nas unidades de terapia intensiva, mesmo que, por exemplo, o país tenha tido proporcionalmente de dez a 20 vezes mais casos do que a média dos países europeus até aquele momento.

Essa é uma rápida ilustração de como o cuidado integral da saúde pode promover efeitos duradouros em uma população – e esse cuidado tem início com a atenção primária à saúde (APS), modelo de atendimento em que as pessoas são tratadas de maneira holística, em vez de apenas terem doenças ou condições avaliadas.

Reside também na APS uma das soluções para a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar, uma vez que grande parte dos gastos da cadeia de bens e serviços desse setor está ligada ao aumento da frequência da utilização dos planos de saúde, decorrente de uma gestão inadequada da saúde populacional, e à epidemiologia da população, segundo estudo da Interfarma, publicado em 2019.

Nesse sentido, a APS promove uma mudança cultural, fazendo com que o paciente acesse o pronto-socorro apenas em urgência real. Assim, gastos com material, instalações, máquinas, pessoal, medicamentos, redundância de exames, excesso de consultas e procedimentos caem drasticamente, o que auxilia na redução de gastos totais, além de melhorar a eficiência do sistema.

Panorama corporativo na saúde

Por meio de operadoras e seguros privados, a saúde suplementar passou a ser regulada no Brasil somente em 2000, com a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), setor que atendeu 47,1 milhões de beneficiários no país, cerca de 23% da população brasileira. Nesse contexto, os planos de saúde coletivos representam mais de 80% do mercado de saúde privada do Brasil, sendo que 67,5% são planos coletivos empresariais, planos esses reajustados constantemente muito acima da inflação.

Com o objetivo de entender como as empresas brasileiras têm atuado na gestão de saúde de seus colaboradores, a Aliança para Saúde Populacional (ASAP) e a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) entrevistaram 704 empresas de pequeno, médio e grande porte sobre o tema. Entre os principais resultados, destacam-se:

  • Ainda que a saúde corporativa seja o segundo maior orçamento de RH, a gestão dos programas é delegada a gestores com menor poder de decisão – 39% são coordenadores ou analistas; 12% são diretores;

  • Houve aumento na adoção de atenção primária, como criação de ambulatórios (de 28%, em 2017, para 30%, em 2020) e médico de família (de 7% para 15%);

  • Houve desaceleração no aumento dos custos em saúde. Em 2017, 31% das empresas tiveram correção anual acima de 15% e, em 2020, 18%;

  • Para conter alta de custos, empresas investiram em coparticipação (de 53% para 61%) e em acordos com hospitais (de 4,5% para 6,5%). Houve queda na mudança de operadora (de 21% para 18%);

  • Sobre os custos em saúde, 81% entendem a importância da saúde em suas organizações como média ou alta, contudo, 83% acreditam que não conseguirão evitar aumentos nos custos;

  • Quanto a custos e sinistralidade, em 36% das empresas, os gastos com saúde estão acima de 16% dos custos de RH; em 59% delas, a sinistralidade está acima de 70%.

Médico da família nas empresas

Embora as empresas estejam cientes da importância de se estabelecer programas de APS para redução de custos, a preocupação com um possível aumento de gastos que essa implementação poderia causar também afasta os investimentos.

Contudo, a própria ANS defende que até 85% dos problemas de saúde dos colaboradores podem ser evitados, resolvidos ou tratados nos ambulatórios das empresas pelos médicos de família, profissionais generalistas que conhecem o histórico de vida dos pacientes e atendem de 80% a 90% das necessidades de saúde dos cidadãos.

Iniciativas como gerenciamento de crônicos, programas de atividade física e nutrição, acolhimento e saúde mental, gestão de colaboradores com doenças de alta complexidade ou afastados, predição em saúde, acompanhamento de gestantes e redesenho e programas de benefícios costumam andar ao lado da APS para garantir que o modelo seja bem-sucedido nas organizações.

“E para além do cuidado com a saúde propriamente dita dos colaboradores, sabemos que um programa de APS tem efeito em dois grandes problemas que as áreas de gestão de pessoas enfrentam constantemente, que são o absenteísmo e o presenteísmo. Quando um colaborador reporta uma queixa a um médico da APS, ele é atendido com toda a atenção necessária; mas quando ele não possui queixa, ele também é avaliado, o que reforça a atenção aos hábitos e à prevenção de doenças. Isso faz com que o trabalhador se sinta amparado pela empresa, pois há uma coordenação efetiva da sua saúde”, explica Dr. Eduardo Oliveira, fundador de SantéCorp e CEO de Saúde iD.

APS como pilar de negócio

Com o objetivo de fornecer soluções para a gestão de saúde corporativa, a SantéCorp, tem como um de seus principais pilares de atuação a APS. Segundo o Dr. Oliveira, assim como a APS é uma das ferramentas existentes para a sustentabilidade do sistema de saúde, é também o modelo para garantir uma gestão mais perene e financeiramente adequada para as empresas brasileiras quando o assunto é saúde de seus colaboradores.

“Quando as organizações olham para o custo da saúde de seus funcionários, o que elas fazem? Trocam de plano. Mas essa é uma alternativa de curto prazo e nada sustentável. Com a APS, além das outras soluções de SantéCorp, estamos apostando que o cuidado integral e constante com a saúde e o bem-estar dos colaboradores é a chave para a mudança do comportamento e da cultura, levando a uma redução do reajuste dos planos para patamares menores e que caibam no orçamento do RH. É um investimento a médio e longo prazo, mas que há retorno sustentável para toda a cadeia”, avalia.

Organizações que desejam incorporar o modelo são estudadas pela SantéCorp, para que as soluções sejam estruturadas de acordo com o cenário e as necessidades específicas da companhia. Em seguida, o projeto é desenvolvido, favorecendo o cuidado coordenado por meio de realização de coleta de exames, conexão de indicadores de saúde (plano de saúde e medicina ocupacional, por exemplo) e programas de medicamento e apoio via equipe multidisciplinar. Como as empresas possuem iniciativas existentes, conectar indicadores é fundamental para a jornada sustentável, segundo o executivo.

O modelo de APS na SantéCorp conta com três frentes de atuação. No caso de on-site clinics, é possível instalar um ambulatório nas dependências da organização, a ser operada por um médico e um enfermeiro, seguindo a metodologia de medicina da família.

“Essa costuma ser a opção das grandes empresas, e o objetivo é estabelecer uma relação de confiança e de continuidade entre médico e colaboradores. Com essa metodologia, os pacientes montam sua abordagem terapêutica com o profissional, há um planejamento temporal sobre cada queixa relatada, não é uma consulta estanque”, explica Dr. Oliveira.

Já nas frentes shared-site clinics e near-site clinics, os colaboradores podem acessar o mesmo atendimento de APS, porém em unidades do Grupo Fleury e A+. Em ambas as opções, a diferença está na extensão do atendimento aos dependentes, em que o médico faz a coordenação e prevenção de saúde para toda a família do funcionário. Esse modelo acolhedor inclui, por exemplo, outras soluções como integração tecnológica dos dados, bundle de exames no Grupo Fleury e medicação sintomática na unidade.

O CEO explica que, assim que a empresa inicia o contrato com SantéCorp, o colaborador baixa o aplicativo e tem acesso aos seus dados, pode marcar consultas de telemedicina e interagir com chatbot de IA para esclarecimento de dúvidas. A estrutura de APS também inclui integração tecnológica de dados em saúde, prontuário eletrônico e, em alguns planos, coleta domiciliar de exames. São oito centrais de APS em São Paulo em unidades do Fleury e a expansão continua em 2021, paralisada com a pandemia da Covid-19.

“Temos acesso a uma série de dados que comprovam o retorno sobre investimento dessa escolha, pois não queremos contratos de curto prazo ou sermos mais uma fonte de gasto às companhias. Nosso objetivo é ajudá-las a serem mais sustentáveis e no cuidado com a saúde de sua população corporativa”, finaliza.

De quebra, todo o sistema de soluções SantéCorp está conectado à plataforma Saúde iD, plataforma criada para integrar produtos e serviços de saúde baseada na ciência de dados e inteligência artificial. Dessa forma, toda a inteligência de SantéCorp já está integrada ao ecossistema de saúde lançado pelo Grupo Fleury em setembro de 2020, que tem o objetivo de democratizar o acesso à saúde no Brasil.

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Autoria

Angela Miguel

Angela Miguel é editora de conteúdos customizados de HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

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