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Diversidade
26 Junho | 2024
"Não permita que te prendam nem se aprisione no mundo da anormalidade", destaca Advisor da CAF em entrevista com Djalma Scartezini, colunista da HSM Management
10 min de leitura
Minha filha tem nove anos e participou, pela primeira vez, de um festival de mini handebol na escola. Ela já havia separado seu uniforme e a cartinha da convocação para o time há alguns dias, e fomos em peso torcer e incentivar sua atuação no esporte.
Logo no discurso de abertura, o técnico enfatizou a importância da diversidade e inclusão, explicando que a cada jogo teriam uma dinâmica com times mistos, entre os da casa e visitantes.
O festival começou mostrando os aprendizados durante os treinos, até que chegou a hora da minha filha jogar, e logo na sua vez, o técnico separou os coletes de tal forma que ela ficou sendo a única menina em campo. Um time de visitantes somente com meninos e ela, sendo a única em seu time da escola. Com dificuldades para receber a bola, ficou visivelmente decepcionada e desestimulada.
Assim como ocorre nas empresas, a diversidade de gênero é uma questão que vai além das palavras e das declarações oficiais. É preciso planejamento estratégico, sensibilidade e ação efetiva para promover uma cultura organizacional e entre times que valorize a igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
Ao final do dia, já em casa, mostrei para minha filha o livro que acabei de lançar, Degrau quebrado, que aborda os obstáculos na carreira feminina. Tive a oportunidade de conversar com ela sobre as inúmeras vezes em que fui a única mulher em situações diversas e como isso impacta em nosso desempenho.
Foram muitas lições extraídas desse evento esportivo, e o que quero destacar aqui é a importância de se ter uma visão abrangente e uma compreensão profunda sobre as realidades vivenciadas pelas pessoas fora do ambiente empresarial, reconhecendo que a diversidade de gênero é apenas um aspecto de uma rede interconectada de desigualdades e assimetrias presentes na sociedade.
Na manhã do dia seguinte ao festival, escrevi ao técnico questionando sobre o discurso da abertura, quando foi reforçada a importância do esporte para o preparo em convívio em sociedade.
De fato, o jogo ao qual ela participou representa uma triste realidade com a qual eu também me deparo, especialmente em mercados profissionais pouco diversos. Faço um trabalho social há mais de cinco anos a respeito do tema, e meu último livro publicado aborda exclusivamente as problemáticas que nós, mulheres, enfrentamos por conta de assimetrias de gênero.
Ainda de acordo com a pesquisa, as “mulheres únicas” têm mais de 80% de chances de receber microagressões, em comparação aos 64% das mulheres como um todo. Elas ainda estão mais propensas a ter suas habilidades desafiadas, a ser submetidas a observações não profissionais e humilhantes, e a sentir que não podem falar sobre suas vidas pessoais no trabalho.
A pesquisa aponta ainda que a baixa representatividade feminina pode trazer problemas e impactar negativamente equipes e empresas. As mulheres que estão sozinhas têm 1,5 vez mais probabilidade de pensar em deixar o emprego.
Essas informações estão na página que minha filha leu, enquanto eu secava seus cabelos. Ao terminar, ela quis saber o que significava microagressões, e expliquei a ela dando como exemplo o sentimento que teve quando enfrentou a dificuldade dos meninos não passarem a bola.
O que ela sentiu é o que eu e milhares de mulheres sentimos ao sermos as únicas em ambientes assimétricos de gênero.
Como mãe e ativista do tema, meu papel é conscientizar e mudar (da forma que puder) a sociedade, para que tenhamos ambientes mais equânimes e justos, e para que possamos refletir sobre qual convívio e qual sociedade estamos preparando para nossas crianças.
No universo corporativo, é fundamental que os executivos cultivem uma visão além dos limites das empresas e dos cargos exercidos. Aprendizados da vida cotidiana podem oferecer valiosas lições para a construção de ambientes de trabalho mais inclusivos e diversificados, nos quais a equidade de gênero seja uma realidade palpável.
A criação de uma visão apurada além dos limites das empresas e dos cargos exercidos é fundamental para construir um futuro no qual a diversidade e a igualdade de gênero sejam valores intrínsecos às organizações. Ao agir de forma proativa, tanto na vida corporativa quanto nas dinâmicas sociais, contribuímos para a formação de equipes mais eficientes, criativas e comprometidas, impulsionando o sucesso e a sustentabilidade das empresas.
Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.
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