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Diversidade

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Onde está a diversidade nos conselhos administrativos?

Procuro por diversidade e a pluralidade de vozes nos conselhos de administração e só encontro o mais do mesmo: homens brancos, idênticos, com a mesma formação, experiência e repertório

Colunista Neivia Justa

Neivia Justa

13 de Maio

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Artigo Onde está a diversidade nos conselhos administrativos?

Sou uma mulher branca, cearense, jornalista de formação. Aos 23 anos, me propus a construir uma carreira corporativa em São Paulo e aceitei como “normal” fazer parte de um ambiente feito por homens para homens semelhantes entre si.

Acreditei na meritocracia masculina, branca, heterossexual, de elite e sem nenhuma deficiência aparente. Aprendi a não ouvir as piadas machistas, xenofóbicas e a neutralizar o assédio moral e sexual que eu e as mulheres à minha volta sofríamos.

Aceitei que fazia parte da realidade não ter mulheres ocupando posições de liderança e poder, e que os limites da ambição de uma mulher eram pré-determinados, assim como nossos salários e nossas oportunidades eram menores.

Éramos avaliadas pelo serviço prestado enquanto os homens, nossos pares, eram avaliados pelo potencial que outros homens chefes enxergavam neles. E, à medida que eu crescia na carreira, também aprendi a achar normal ser a única mulher da sala.

Até os meus 45 anos, eu não tinha nenhuma consciência dos meus privilégios, da desigualdade de gênero e da absoluta falta de diversidade no mercado de trabalho. Isso porque eu, assim como você, media o mundo pela minha régua: “se eu, mulher nordestina, que vim para São Paulo sem conhecer ninguém, tinha construído uma carreira de sucesso, qualquer mulher conseguiria fazer o mesmo, bastava ela querer, certo?” Errado.

Estado de consciência

Há seis anos, quando tomei consciência da desigualdade de gênero em todos os setores da nossa sociedade, olhava para as posições de alta liderança e poder de empresas públicas e privadas e só via homens brancos, iguaizinhos entre si.

Quando olhava para os conselhos de administração, só via ex - CEOs brancos, idênticos, com o mesmo tipo de formação, experiência, trajetória e repertório. Uma espécie de tropa de elite, um clube de amigos irmãos camaradas.

À distância, os conselhos me pareciam lugares exclusivamente masculinos, um reduto para a aposentadoria dos líderes empresariais, que garantiam status, excelente remuneração, pouco trabalho e uma longevidade profissional aos homens bem-sucedidos do mercado.

Há quase cinco anos, me pergunto, todos os dias: onde estão as mulheres nas posições de poder, na alta liderança e nos conselhos das empresas? Ao buscar respostas, vejo com desassossego o quão pouco evoluímos – apenas 16% das empresas brasileiras são lideradas por mulheres e nós representamos tão somente 11,5% das conselheiras de administração. Quase 100% dessas mulheres são brancas.

A inclusão e a diversidade nos conselhos começam, sim, pelas mulheres pois somos maioria da população brasileira e responsáveis por 80% das decisões de consumo do Brasil. Além disso, não podemos esquecer que só estamos aqui hoje porque uma mulher, nossa mãe, escolheu nos trazer ao mundo, doando seu corpo para ser nossa primeira casa.

Outras vozes nos conselhos

Mas inclusão e diversidade nos conselhos não se restringem a nós, mulheres brancas. Onde estão os homens pretos? Onde estão as mulheres pretas? Onde estão as pessoas LGBTQIA+? Onde estão as pessoas com algum tipo de deficiência? Onde está a diversidade regional, a diversidade de gerações, a diversidade de talentos e conhecimentos?

O que nos falta para entender que sem diversidade não há inovação? E que sem inovação não há sustentabilidade de negócios?

Como é possível tomar as melhores decisões empresariais numa sociedade diversa, com clientes singulares e plurais, se só temos líderes e conselheiros idênticos entre si, membros da mesma bolha, com todos os mesmos intrínsecos vieses inconscientes e preconceitos?

Quem representa o cliente dentro dos conselhos? Quem gosta e entende de gente? Quem sabe se comunicar, inspirar e engajar? Quem tem consciência coletiva e compromisso com o desenvolvimento sustentável do planeta? Quem pratica o capitalismo de stakeholder? De todos os stakeholders?

AUTORRESPONSABILIDADE

Todos esses assuntos são urgentes e dizem respeito ao amanhã que nós construímos aqui e agora. Eu, você, todas e todos nós. Precisamos transformar intenção em ação. Colocar o discurso em prática, com intensidade e agilidade. A mudança que queremos e precisamos começa em nós e depende de nós. A responsabilidade é nossa.

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Neivia Justa

Neivia Justa

Fundadora da #JustaCausa, do programa #lídercomneivia e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres

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