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Carreira

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Muito além dos programas de seleção de estágio e trainee

Universo escolar e empresas têm a oportunidade de mostrar inúmeras alternativas de carreira para jovens frustrados com o mercado de trabalho

Colunista Sabina Augras e Laura Fuks

Sabina Augras e Laura Fuks

26 de Novembro

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Artigo Muito além dos programas de seleção de estágio e trainee

Mesmo num ano atípico, de pandemia do novo coronavírus, somente em julho de 2020, segundo o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), foram geradas 11 mil vagas de estágio e trainee no Brasil. Nesse contexto, grandes empresas retomaram seus programas de seleção para universitários e recém-formados. No entanto, o que parece ser uma ótima notícia do ponto de vista da retomada das oportunidades de emprego, nos traz também uma grande preocupação se analisarmos a perspectiva do número de candidatos que estão concorrendo a essas vagas.

Segundo um levantamento do “Na Prática”, iniciativa da Fundação Estudar, programas de trainee como da Volkswagen e da Whirlpool costumam contar, em média, com 700 candidatos por vaga. Já no programa da Ambev, essa relação pode chegar até 1000 candidatos por vaga. Infelizmente, essa não é uma realidade somente dessas empresas, mas da maioria das grandes corporações que oferecem programas de estágio e trainee em todo o país.

O grande ponto dessa questão é que o número de candidatos que não são aprovados nesses processos é enorme e, para piorar, suas expectativas não são alcançadas. A cada reprovação a frustração aumenta e a autoestima dos candidatos fica cada vez mais baixa. Como consequência, as chances desses jovens serem aprovados em novos processos diminuem.

O que percebemos ao longo dos nossos anos de experiência profissional em processos seletivos é que esses jovens, em grande parte, não são aprovados porque participam das seleções de estágio e trainee sem perceber que suas verdadeiras motivações não os conduzem para atuar numa grande empresa. Muitos jovens escolhem esses processos por acreditarem que esse é o único caminho possível. O pior, eles não sabem que existe um mundo infinito de possibilidades que vai além desses programas.

O problema é que um círculo vicioso foi sendo formado nas instituições de ensino, na sociedade e na cabeça da maioria dos jovens. O raciocínio, errôneo, é o seguinte: para se ter sucesso profissional, um dos melhores, ou até, único caminho possível, é através da aprovação de processo seletivo de estágio ou trainee de uma grande empresa. Surge a construção de uma lógica profissional na qual a maioria das instituições de ensino acredita que é preciso desenvolver seus alunos para estarem preparados para conseguir aprovação em grandes corporações.

A questão que gostaríamos de levantar é de como “essas verdades” podem impedir que outros caminhos de carreira também possam ser trilhados pelos jovens a partir do universo escolar. 

Convém, assim, levantar outras considerações. A primeira é, como a escola desenvolve nos estudantes as motivações que os levam a atuar no serviço público, no âmbito acadêmico, como empreendedores ou profissionais liberais? A segunda questão consiste em perguntar quais instituições de ensino preparam seus estudantes para essas diferentes direções com a crença de que elas também possibilitam sucesso profissional?

Possibilidades de carreira: do estímulo à realidade

Um argumento consistente de que as motivações dos alunos podem ir muito além do mundo organizacional pode ser identificado no relatório realizado pelo Sebrae em parceria com a Endevor. Realizada em 2016, a pesquisa demonstrou que para aqueles estudantes que não querem empreender, 43% deles preferem atuar no setor público contra 27% que gostariam de trabalhar em grandes empresas. Este mesmo relatório apontou que dos 21% de estudantes que pensam em empreender no futuro, somente 27% cursou alguma disciplina nessa área.

Outro resultado que corrobora com toda essa discussão sobre a necessidade das instituições de abrirem seus “leques de desenvolvimento” para outras possibilidades de carreira é o resultado do teste Perfil de Carreira realizado na Plataforma de Carreiras da Cmov. 

Considerando um universo de mais de 10 mil estudantes, o levantamento indicou que a partir de suas motivações, 33% teriam o perfil para trilhar uma carreira de profissional liberal contra 10% de organizacional, 23% de acadêmico, 22% de servidor público e 12% de empreendedor. 

Nessa lógica frustrada de não desenvolver nos jovens a possibilidade de escolha entre diferentes carreiras, ocorre que de um lado há jovens perdidos e frustrados por não passarem nos processos seletivos e, do outro, empresas com grande dificuldade de encontrar candidatos dentro do perfil que buscam.

Não são poucos os casos de jovens que, depois de passarem por toda essa preparação universitária, de inúmeros processos seletivos, percebem, ao serem aprovados e começarem a atuar numa empresa, que não estão felizes e que era esse o caminho de carreira que gostariam de construir. 

Em função de toda essa lógica, torna-se de suma importância que se dê ao jovem a possibilidade da pesquisa, experimentação e validação do seu objetivo de carreira frente a diferentes perspectivas. Para colaborar com esse desafio, apontamos em outro artigo algumas diretrizes que podem ajudar os jovens e os mentores da nova geração a olhar para essas questões de uma maneira mais pontual e analítica.

Apoiar os jovens em seu autoconhecimento, ao mesmo tempo em que se possibilite abrir o leque das possibilidades de carreira, fará com que tenhamos um número cada vez menor de jovens frustrados e, consequentemente, fora do mercado de trabalho. Identificar qual é seu perfil de carreira e começar a se desenvolver nessa direção são os primeiros e fundamentais passos para serem felizes na construção de uma carreira de sucesso.

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Colunista Sabina Augras e Laura Fuks

Sabina Augras e Laura Fuks

Sabina Augras e Laura Fuks

Sabina Augras e Laura Fuks são sócias fundadoras da Cmov, edtech na área de carreira e empregabilidade.

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