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Tecnologia e inovação

5 min de leitura

Mind the gap: a falta de talentos em tecnologia

Para resolver de forma sistemática e justa o problema do desemprego e da falta de talentos no mercado de trabalho, precisamos investir em educação superior

Rafaela Herrera Silva

15 de Setembro

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Artigo Mind the gap: a falta de talentos em tecnologia

Um milhão. Este é o déficit previsto de profissionais qualificados no mercado de tecnologia até 2030 pela consultoria McKinsey. O estudo em questão foi publicado antes mesmo da pandemia e trouxe um clima de insegurança com relação ao acesso à educação destes futuros profissionais.

Há tempos sabemos que contratar a tal “mão de obra qualificada” é um grande desafio, e ter consciência de alguns números nos dá a dimensão do obstáculo a ser enfrentado – até porque, a presença do digital em nosso dia a dia eleva esta problemática a um novo patamar.

Panorama impossível de ser ignorado

Em 2019, a busca por desenvolvedores full stack cresceu 169%, segundo a empresa de recrutamento Revelo. A pandemia, obviamente, acelerou esse cenário, exigindo que a “produção em massa” de profissionais competentes fosse mais rápida. Por isso, a previsão (nada animadora) é a de que caminhamos para um gap ainda maior do que o já indicado pelo estudo.

Paralelo a isso, no primeiro trimestre de 2021, conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no País bateu seu recorde desde 2012, atingindo 14,7% da população. São consideradas desempregadas apenas pessoas sem ocupação e que procuraram ocupação nos últimos 30 dias antes do levantamento – apontando pouco mais de 6% da população que desistiu de se colocar no mercado.

O aumento desse índice de 2020 para cá demonstra que 1,9 milhão de pessoas entraram nas estatísticas do desemprego, dado mais alto para aqueles com ensino médio incompleto (24,4%), e dado mais baixo com nível superior completo (8,3%), deixando evidente o aumento da desigualdade social já existente.

Construindo pontes

Com o avanço da tecnologia, também perdemos mais empregos, forçando a recolocação de profissionais em novos formatos de trabalho, a mudança da formação e o acesso à educação de qualidade. Até chegarmos a esse cenário, precisamos construir uma ponte para que menos pessoas fiquem pelo caminho.

Esse é um tema urgente para as lideranças. Como bem cantou Emicida, “é tudo para ontem”. Ao mesmo tempo em que o mercado de tecnologia está aquecido e demandando profissionais qualificados, todo ano mais de 900 mil alunos abandonam a faculdade, de acordo com o Guia do Estudante, e 85% dessa evasão estão representados em cursos de tecnologia, revela o censo de educação do MEC.

No relatório do IBGE de 2019 sobre educação (PNAD), descobrimos que “levando em consideração todo o quantitativo de jovens de 14 a 29 anos do País, equivalente a quase 50 milhões de pessoas, 20,2% não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término desta etapa, seja por nunca tê-la frequentado”.

Abandono escolar: necessidade de trabalhar

A necessidade de trabalhar persiste como principal razão para que estudantes deixem a escola. Esse dado te deixou confuso? Afinal, se pelo menos 15 milhões de pessoas abandonam o ensino básico para trabalhar, qual é o tipo de emprego que elas acessam? E como preencher um milhão de vagas de trabalho diante de uma população sem educação?

Não só os que estão desempregados sofrerão com essas mudanças. O Fórum Econômico Mundial indica que metade da classe trabalhadora deverá se requalificar até 2025. Não é à toa que, de 2010 a 2020, as edtechs, empresas de tecnologia na área da educação, receberam investimentos na ordem de U$175,5 milhões – e 40% desse valor foi investido entre o início de 2019 e setembro de 2020, segundo o relatório da Distrito. Essa é uma prova de que o mercado entendeu a urgência em investir em educação.

Também vemos que a grande concentração desses investimentos está em plataformas de educação mais inovadoras, novas formas de ensino e educação focada no estudante. Todas, em maior ou menor escala, levando educação diretamente ao cliente final.

Simultaneamente, é possível observar como médias e grandes companhias têm olhado para esse mercado, propondo soluções próprias, caso da Google e suas certificações de carreira e outras tantas que investem em bolsas de estudo junto a diferentes escolas ou programas de formação rápida.

Sintonia entre mercado e educação

Observando todos esses movimentos, a esperança de resolvermos parte do problema vem à tona. Há soluções fantásticas para o desenvolvimento de talentos com cursos livres de três a 12 meses, colocando mais pessoas no mercado de trabalho. No entanto, vale lembrar que uma pessoa com ensino médio completo tem um salário médio de R$1800, enquanto o brasileiro com ensino superior completo ganha em média R$4900.

Para resolvermos de forma sistemática e mais justa o problema do desemprego e da falta de talentos no mercado de trabalho, precisamos investir na educação superior. Só assim conseguiremos fazer uma transformação estrutural.

Uma pesquisa da Canvas by Instructure reporta que 50% dos recém-formados no Brasil acreditam que as experiências proporcionadas pelas instituições de ensino não são relevantes para a sua vida profissional. E, conforme relatório já citado da McKinsey, 35% dos cursos da área de tecnologia não obedecem aos requisitos básicos pedidos pelo mercado. Formando pouco e mal, teremos problemas cada vez mais graves.

Uma oferta de educação que entenda as necessidades do mercado – habilidades técnicas e socioemocionais – fará uma enorme diferença no cenário econômico e produtivo do País. Uma formação que dê ao aluno independência para aprendizagem contínua, que trabalhe fundamentos e que o faça construir de forma prática a sua carreira desde os primeiros dias de ensino.

É por acreditar no poder transformador da educação que hoje estou construindo uma instituição em que gostaria de ter me formado. Meu recado aos CEOs do amanhã é: coloque a mão na massa. Os desafios dos próximos capítulos serão resolvidos pelas empresas que se prepararam hoje e que participam ativamente da jornada de formação dos seus times para a alta performance, a partir do investimento em educação de qualidade.

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Autoria

Rafaela Herrera Silva

Co-fundadora da Sirius Educação, trabalha na construção intencional de futuros melhores através da educação de qualidade, negócios e tecnologia.

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