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Líder facilitador: tem algum na sua empresa?

Facilitação tem sido uma das soft skills que as organizações mais desejam identificar em seus líderes nos últimos cinco anos

Sandra Regina da Silva

15 de Setembro

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Artigo Líder facilitador: tem algum na sua empresa?

Experimente pegar uma lista de responsabilidades de uma descrição de cargo de líder em sua empresa. Podemos apostar que o verbo “facilitar” vai aparecer mais de uma vez, associado a atividades como desenvolvimento; engajamento; rotinas; integração; comunicação...

Facilitação tem sido, certamente, uma das soft skills que as organizações mais desejam de seus líderes nos últimos cinco anos. A explicação para o fenômeno é quase óbvia, mas nem todos se conscientizaram dela: a liderança facilitadora é a resposta a dois movimentos cruciais dos nossos tempos – a transformação digital e os mundos Vuca e/ou Bani.

Explicamos. Facilitação talvez seja o antônimo perfeito para o líder do tipo “comando­ e controle”, que prevalece na vasta maioria das empresas, sobretudo no Brasil, um dos maiores obstáculos à transformação digital das empresas, segundo diferentes pesquisas. Transformação digital requer, necessariamente, poder nas pontas, colaboração e inovação.

Como diz Jair Moggi, sócio-diretor da Adigo, consultoria de desenvolvimento de lideranças que trabalha com grandes empresas, o líder facilitador é o que mais se distancia do líder “comando e controle”; ele é o líder “coaching e comunicação” por excelência.

Patrizia Bittencourt, sócia e designer de aprendizagem da Cuidadoria, acrescenta que o líder facilitador colabora, pois “sabe que não precisa fazer e decidir tudo sozinho”. “Ele organiza a colaboração criando meios para que os problemas sejam resolvidos de maneira conjunta e dá autonomia às pessoas ao mesmo tempo, inclusive promovendo a liderança rotativa de projetos”, explica.

“Com um líder que facilita as inter-relações e conjuga os conhecimentos e a complementaridade do time, pode-se chegar a soluções incrivelmente criativas”, avalia Caroline Souto, head de empatia da Safety4me e professora convidada da ESPM em cursos de liderança e inovação. Ela acrescenta que a inovação pede equipes o mais diversas possível – com pensamentos, idades e realidades diferentes –, e o líder facilitador é vital para dar liga entre os diferentes.

O fato de quatro gerações conviverem no trabalho, algo inédito na história da humanidade, pede esse tipo de liderança. “Esse líder sabe equilibrar as necessidades individuais, as coletivas e as da organização”, diz Bittencourt. E as necessidades podem ser bem contraditórias, exigindo um certo malabarismo, como lembra Moggi em relação às gerações Y e Z. “Com mais informações e nível educacional mais alto, os mais jovens já chegam na organização com a sua própria verdade, diferente de 20 ou 30 anos atrás, quando o funcionário sabia que estava numa estrutura e estava pronto para obedecer”, ressalta.

Esse tipo de líder também responde bem aos ambientes dos dias atuais, marcados por volatilidade, incerteza e complexidade. “Precisamos buscar conhecimento o tempo todo; temos muitas perguntas dentro das organizações. Dependemos da inteligência do time para achar as respostas; uma pessoa só não dá conta de responder”, diz Souto. Bittencourt lembra outra vantagem de estimular a inteligência coletiva para os mundos Vuca/Bani: quando todos trabalham juntos, isso proporciona ganhos significativos em governança e em estratégia corporativa.

Atributos

Você sabe reconhecer um líder facilitador quando vê um? Não basta ele dizer que facilita, ou fazer check-in e check-out nas reuniões. As palavras e o método utilizados importam menos do que a disposição de fazer bem duas coisas principais: (1) apoiar o processo de desenvolvimento das pessoas e (2) criar um ambiente em que as interações humanas fluam com facilidade, para que todos possam aprender juntos e gerar resultados juntos. “Hoje fica claro que, se o ser humano não se desenvolve, as empresas também não crescem”, reflete Souto. Outro indicativo de que você está diante de um líder facilitador autêntico é que ele costuma facilitar as conversas em três dimensões: “ele lidera indivíduos, grupos e organizações”. Quem diz isso é Moggi, o sócio-diretor da Adigo, acróstico que significa justamente “apoio ao desenvolvimento de indivíduos, grupos e organizações”.

Qual é o perfil de um líder facilitador em sua plenitude? Ele é muito parecido com o perfil do líder destacado num artigo da consultoria McKinsey de agosto de 2020 como o “líder que está tendo sucesso durante a pandemia”: solidário, criativo/empreendedor e focado nas pessoas. De acordo com a McKinsey, esse líder é o que melhor combina com o trabalho híbrido. Faz sentido, já que ele trabalha as dimensões individual e organizacional (cultural) tanto quanto a equipe.

Esses são talentos natos? Não necessariamente. A liderança facilitadora pode ser aprendida por todos. Quem nutre mais simpatia pela era do conhecimento e suas relações mais horizontalizadas do que pelo modelo de organização hierárquico, no entanto, tende a adaptar-se mais rapidamente.

A seguir, repassamos as principais características desse tipo de liderança:

Competências. Esperam-se competências como visão sistêmica, boa comunicação, empatia, flexibilidade, humildade no saber e abertura ao aprendizado e à colaboração. Exige-se ainda postura firme, que deixe claros os limites e as consequências de excedê-los – em especial, quando o time ganha mais autonomia. “São competências mais sociais do que técnicas”, opina Moggi. “E conhecer a alma humana, suas necessidades, é fundamental para um líder facilitador”, reforça. “Costumo dizer que é preciso ‘ver o invisível’ e ‘ouvir o inaudível’, ou será um líder tradicional, que segue os manuais de psicologia ou de administração.” Patrizia Bittencourt, cuja consultoria forma líderes evolutivos e facilitadores, acrescenta sensibilidade ao entorno. Para ela, os líderes facilitadores “percebem e respondem ao ambiente, ativando o que há de melhor nas pessoas”. Para isso, devem ser bons anfitriões e capazes de acolher, incluir, apoiar, escutar e inspirar o time, passando confiança e suprindo duas grandes necessidades humanas: a de conexão e a de expressão. Também deve ser um líder com visão sistêmica, segundo Caroline Souto, capaz de conectar as expectativas de todos os stakeholders, incluindo a alta gestão e a equipe. Para ela, quem segue esse estilo de liderança vê tudo como oportunidade de aprendizado e valoriza os feedbacks. Um segredo do sucesso é entender conceitos de andragogia – como o adulto aprende –, o que ajuda a atuação do líder facilitador.

Estabelecer segurança psicológica para criar um ambiente propício para o aprendizado também é uma característica desse perfil de liderança. Souto sugere usar a caixa de ferramentas apresentada pela pesquisadora de Harvard Amy Edmondson, em seu livro A organização sem medo confira quadro abaixo. Indica, ainda, a leitura do livro Os 5 desafios das equipes, de Patrick Lencioni, para quem um time de alta performance surge quando se superam cinco desafios: ausência de confiança, medo de conflito, falta de comprometimento, fuga da responsabilidade e falta de atenção aos resultados.

Armadilhas. A camisa de líder facilitador vem com uma série de responsabilidades. Ignorar alguns pontos pode colocar todo o esforço a perder. Entre as principais armadilhas, segundo Souto, está a criação de um espaço sem segurança psicológica suficiente.

No campo da comunicação, dar liberdade para falar implica dar conta de ouvir evitando julgamentos. Do contrário, pode haver um recuo na confiança dos membros do time. Um boa prática é explicar claramente os riscos associados ao trabalho e evitar entrar em modo automático nos momentos de estresse, dando respostas padronizadas.

Fatores externos podem dificultar o sucesso do líder facilitador. O principal deles, diz Souto, é a própria cultura da empresa, que não dá suporte para esse estilo de liderar. Para vencer essa barreira, Souto sugere “buscar apoio nos demais gestores, ou até recorrer a mentores ou coaches”.

Por onde começar

Por favor, pare agora. Analise o que leu: você é um líder facilitador? Tem alguém desse perfil por perto? Se as respostas forem “não” e “não”, é hora de vocês correrem atrás. O primeiro passo, claro, é o autoconhecimento – “se não liderar a mim mesmo, eu não consigo liderar os outros”, ensina a sabedoria popular. Observe-se também interagindo com as pessoas, e como elas respondem para descobrir gaps e buscar os conhecimentos que vão preenchê-los, em revistas como esta, ou em livros, cursos, networking, autodidatismo. As perspectivas serão as melhores.

Quem achou que a liderança perderia o sentido na economia digital e ágil se enganou redondamente. O líder facilitador é a prova.

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Autoria

Sandra Regina da Silva

Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

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