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Diversidade

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Inteligência artificial como aliada da diversidade e inclusão

O ChatGPT pode ser uma pequena luz na escuridão em relação à equidade de gênero

Colunista Elisa Rosenthal

Elisa Rosenthal

10 de Fevereiro

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Artigo Inteligência artificial como aliada da diversidade e inclusão

A ferramenta de inteligência artificial (IA) ChatGPT (OpenAI) vem causando uma revolução no mundo da tecnologia e da comunicação. O chatbot de redação automatizada fez muitos de nós reavaliarmos a atuação de profissionais e ferramentas e nos provocou a pensar no futuro desta interação.

Ao testar a ferramenta, fiz algumas perguntas sobre diversidade, equidade e mercado imobiliário e pude notar um aspecto interessante a respeito da percepção que este recurso apresenta sobre o viés inconsciente de gênero e diversidade que existe - historicamente - na internet.

Um exemplo desta falta de referência em diversidade na imensidão do oceano de dados está na campanha lançada no dia 21 de janeiro, por um coletivo internacional liderado pelo DDB Group Aotearoa NZ, que busca destacar e corrigir imprecisões nos resultados de pesquisas focadas em estatísticas esportivas, chamada "Correct the Internet" (corrija a internet, na tradução em português).

No filme que ilustra a campanha, uma garotinha pergunta para a "internet": “quem marcou mais gols no futebol internacional?’. A resposta da IA afirma que foi Cristiano Ronaldo, com 118. No entanto, a canadense Christine Sinclair detém o recorde com 190.

Procure pesquisar qual tenista passou mais tempo no ranking número 1: a realidade dos fatos nos conta que foi Steffi Graf, enquanto a internet insiste em Novak Djokovic.

Liderada por Rebecca Sowden, ex-jogadora de futebol da Nova Zelândia, a campanha foi criada para evidenciar o quão desfavorecidas são as atletas femininas nos esportes. A ideia é escancarar o viés inconsciente da internet tornando as esportistas mais visíveis, ao refletir suas conquistas legítimas.

A facilidade e versatilidade das ferramentas de busca são incontestáveis, porém, assim como nós, humanos, a rede de inteligência artificial aprendeu com nossos preconceitos e, neste caso, prioriza atletas masculinos em suas respostas, mesmo quando os fatos colocam as mulheres em primeiro lugar.

O que pude constatar nos testes com o ChatGPT foi uma pequena luz nesta escuridão de dados, ao questionar, por exemplo, se os juros imobiliários são iguais para homens e mulheres.

A ferramenta da OpenAI logo esclarece: "assim como outras taxas de crédito, os juros imobiliários são determinados com base em uma variedade de fatores, incluindo o perfil do cliente e as condições do mercado. O gênero, por si só, não é considerado na definição dos juros imobiliários".

Até aqui, entendemos que não houve nenhuma aprendizagem real sobre os preconceitos absorvidos pela inserção histórica de dados.

A mudança pode ser percebida na continuação da resposta do chat, ao destacar a igualdade de oportunidades e de condições de crédito como um desafio em muitos países, incluindo o Brasil, e completa: "mulheres frequentemente enfrentam barreiras para obter financiamento incluindo renda mais baixa, menor acesso a educação financeira e discriminação de gênero."

A cereja do bolo veio com a recomendação feita pela ferramenta mais comentada do momento: "é importante que as instituições financeiras e as empresas do mercado imobiliário trabalhem para garantir que todas as pessoas tenham igualdade de acesso a financiamento e condições justas de crédito, independentemente de gênero, raça ou orientação sexual". Bingo! Uma inteligência artificial que reconhece os obstáculos sociais para criação de linhas de crédito.

Os exemplos não param por aí. Perguntei o motivo pelo qual devo ter mulheres na equipe da minha empresa e, após me descrever cinco tópicos essenciais, o resumo enfatizou: "inovação, representação do público-alvo, cultura corporativa e retenção de talentos".

Querendo ser ainda mais específica, questionei por que uma empresa do mercado imobiliário deveria se preocupar com equidade e diversidade. Mais quatro tópicos detalhados são apresentados, seguidos pela seguinte conclusão: "o tema é importante para afetar positivamente na imagem da companhia, na retenção de talentos, no relacionamento com clientes e comunidades e responsabilidade social."

Ainda é muito cedo para afirmar que o uso recorrente deste chat possa ter uma colaboração importante na diminuição do viés inconsciente dos dados disponíveis no ambiente digital, contudo, em relação aos mais céticos com o papel da diversidade e equidade, resta a esperança de termos a IA como aliada.

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Autoria

Colunista Elisa Rosenthal

Elisa Rosenthal

Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.

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