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Futuro do trabalho para quem?

Geração nem-nem ou geração sem-sem? O papel das organizações na empregabilidade da juventude

Kamila Camilo, Marcelo Dionísio, Gui Franco, Gabriela Pascholati do Amaral e Jan Kishi Diniz

06 de Dezembro

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Artigo Futuro do trabalho para quem?

Quando se fala de futuro do trabalho, especialmente nos países em desenvolvimento, ainda é sobre a garantia de postos que mantenham as economias locais ativas. Mas como aquecer a economia com a maior parte da força de trabalho à disposição não incluída produtivamente? 

Já há alguns anos, no Brasil, usamos o termo “nem-nem” para nos referirmos a uma parcela da juventude que NEM trabalha e NEM estuda. No entanto, tal nomenclatura tem uma conotação pejorativa, como se esses jovens não estudassem e nem trabalhassem simplesmente por falta de vontade, o que os dados mostram não ser verdade. A realidade é que temos uma geração de força de trabalho “sem-sem”, SEM oportunidade e SEM educação.

Na última divulgação de dados do IBGE, a taxa de desocupação no país atingiu 14,4%, representando 13,8 milhões de desempregados no país – uma alta de 1,2 milhões de pessoas em comparação ao mesmo trimestre de 2019. Essa situação é particularmente desesperadora quando o assunto são os jovens entre 18 e 24 anos: entre esse grupo, a taxa é de 29,7%, ou seja, mais do que o dobro da taxa geral no país. 

E os desafios não param por aí. De acordo com um estudo da Artemisia, quase metade das vagas disponíveis no Sistema Nacional de Empregos (Sine) não são preenchidas. Para os empregadores, o problema é a falta de qualificação dos candidatos e candidatas, mas para muitos jovens as altas exigências de experiências anteriores são um impeditivo na busca pelo primeiro emprego, mesmo com a existência do programa federal Jovem Aprendiz. 

Ainda que a oferta de vagas pelo programa seja obrigatória para empresas de médio e grande porte, conforme Lei Nº 10.097/2000, somente 40% das vagas são disponibilizadas, o que segue gerando exclusão da força de trabalho da juventude, consequentemente gerando menos mão de obra qualificada e, no limite, menos oportunidades. Em resumo, o não cumprimento da legislação torna ainda mais difícil a inclusão produtiva da juventude.

Mas quais são as dificuldades ou necessidades desses jovens na busca pelo primeiro emprego?

O mesmo estudo traz que 60% dos jovens buscando sua primeira oportunidade de trabalho sentem-se inseguros em como criar um currículo atraente. A razão disso varia: para alguns, pode ser por falta de experiência; para outros, falta de confiança em suas habilidades e conhecimentos até o momento. A situação fica ainda pior para mulheres, que acabam por se candidatar para vagas via LinkedIn em uma proporção 20% menor do que os homens, e seus perfis também têm menos chances de serem analisados. 

No mais recente relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro do Trabalho, temos a estimativa de que, até 2025, 85 milhões de empregos acabarão por causa da evolução da automação. Ao mesmo tempo, 97 milhões de novos empregos poderão surgir em um mundo mais conectado e tecnológico. Apesar de parecer uma boa notícia, o mesmo relatório também reforça a preocupação com a empregabilidade jovem, em especial em períodos de contração econômica.

Como organizações estão se articulando para apoiar este desafio?

Uma das estratégias do Fórum Econômico Mundial para endereçar questões relevantes como essa é ativar a sua rede de jovens engajados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável por meio de sua iniciativa, sem fins lucrativos, chamada Comunidade Global Shapers.

A Comunidade nasceu em 2010, durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, como uma forma de dar voz aos jovens com menos de 30 anos e de inspirar impacto local, regional, e global. A comunidade é composta por hubs (núcleos) nas principais cidades do mundo, e hoje está presente em mais de 430 cidades em 150 países. Cada hub tem a missão de criar projetos que geram impacto social local endereçando desafios globais, e com o da cidade de São Paulo não foi diferente. 

Em um Brasil ainda sofrendo com a pandemia da Covid-19, endereçar a inclusão produtiva da juventude é um dos principais caminhos para redução das desigualdades tão latentes em nosso país, e o uso consciente da tecnologia pode ser a ferramenta mais poderosa neste movimento. Os membros da comunidade Global Shapers de São Paulo se mobilizaram para criar uma tecnologia que permita apoiar jovens 24 horas por dia, 7 dias por semana, que estão na busca por um emprego.

É um chatbot que visa ajudá-los a dar os primeiros passos na busca por trabalho de forma confiante, auxiliando-os desde a praticar testes de lógica até a criação de um currículo. É um projeto piloto com potencial de alcançar milhares de jovens no país.

O principal objetivo é potencializar a inclusão produtiva dos jovens de baixa renda, visto que a empregabilidade deles é um grande desafio para os países em desenvolvimento e, em um cenário ainda afetado pela pandemia, é um dos fatores que mais influencia na retomada econômica e no bem estar da população. 

Dentre as principais dificuldades dos jovens de baixa renda estão: formação e qualificação, preparação para processo seletivos e acesso a vagas. Muitas organizações atuam em diferentes camadas desse problema, mas o EmpregaBot visa apoiar a frente de preparação do jovem para o processo seletivo, endereçando questões como:

  • Apoio no treinamento de testes padronizados (lógica e língua portuguesa);

  • Simulação de entrevistas;

  • Montagem de um currículo.

Espera-se que, utilizando de uma ferramenta digital intuitiva como um chatbot, possamos facilitar a jornada do jovem de baixa renda na busca pelo primeiro emprego, combatendo uma das barreiras de entrada, que é a da identidade profissional.

E qual o papel das lideranças e organizações conscientes diante desse cenário?

O exemplo da rede Global Shapers em São Paulo certamente não resolverá este desafio tão profundo, que ainda assombrará nossa sociedade por alguns anos. Porém, pode nos ensinar duas coisas: responsabilidade e uso consciente de tecnologia. 

Muitas vezes acabamos ignorando grandes problemas sociais por entender que sua complexidade e profundidade deveriam ser combatidas por alguma organização de mesmo porte, porém não é uma questão de capacidade, e sim de responsabilidade. Desafios sistêmicos precisarão de respostas sistêmicas e de responsabilidade compartilhada. Se a baixa empregabilidade da juventude brasileira é um tema que te assusta, transforme-o em um tema que te move. Quaisquer iniciativas que você possa apoiar, criar e investir talvez não mudem o mundo, mas com certeza inspirarão a mudança local e se tornarão uma raiz que sustenta a transformação sistêmica.

E se você irá enfrentar esse desafio, certamente será necessário usar a tecnologia. Escala e eficiência têm na tecnologia uma grande aliada, e quando é colocada a serviço da sociedade é muito valiosa. Usando o exemplo do EmpregaBot que, uma vez criado, não importa se apenas um ou 100 mil jovens serão atendidos, o custo marginal continuará próximo de zero. Essa lógica não funciona para soluções que não tenham tecnologia como essência, pois nestes casos, quanto mais pessoas atendidas, mais caro fica. O EmpregaBot usou de tecnologias existentes para seu piloto, e possui um potencial de impacto exponencial. 

Em resumo, não é uma questão de competência tecnológica ou se é o seu trabalho ou não. É uma questão de liderança, e de saber aproveitar a abundância que a quarta revolução industrial nos traz para resolver os problemas que já são nossa responsabilidade, a partir do momento que nos incomodam.

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Autoria

Kamila Camilo, Marcelo Dionísio, Gui Franco, Gabriela Pascholati do Amaral e Jan Kishi Diniz

Kamila Camilo é líder da rede Global Shapers no Brasil e eleita Young Leader destaque 2020 pela Revista HSM e Instituto Anga. Marcelo Dionísio é líder de Projetos na Artemisia e especialista em inovação aberta e desenvolvimento de negócios. Gui Franco é gerente nacional do programa de inclusão produtiva da Wadhwani Foundation e trabalha com empreendedorismo social há mais de 10 anos. Gabriela Pascholati do Amaral é membro do Hub de São Paulo dos Global Shapers, rede jovem do Fórum Econômico Mundial, e alumni do programa Chevening, do governo britânico. Jan Diniz é sócio do Grupo Anga e CEO da 08.

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