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Vale Ocidental

2 min de leitura

De “grande resignação” para “grande remodelagem”

A guerra por profissionais e a falta de mão de obra levam as empresas do Vale a adotarem estratégias que vão do uso de robôs até campanhas de marketing para conquistar talentos

Colunista Ellen Kiss

Ellen Kiss

09 de Novembro

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Artigo De “grande resignação” para “grande remodelagem”

Nos EUA, os sinais estão por todo lado. Lojas fechadas por falta de atendentes, hotéis sem serviço de quarto, restaurantes quase sem garçons, falta de professores, obras em ritmo lento. Nos aeroportos, a regra é chegar com antecedência por conta das longas filas na inspeção. Motivo: falta de pessoal.

A pandemia terminou, a economia cresceu, os salários subiram e, nos EUA, há vagas em todo o lugar. A surpresa é o número de norte-americanos que não retornaram ao mercado de trabalho: 3,3 milhões. É a great resignation, êxodo em massa causado pela pandemia, que levou as pessoas a mudanças radicais de carreira e de estilo de vida.

Há de tudo, de trabalhadores que tinham baixa remuneração e hoje rejeitam ofertas “pouco atraentes”, antecipação de aposentadorias, quem só aceita trabalhar em casa, pais que querem passar mais tempo em família; e quem tirou um sabático. O melhor resumo foi a resposta de um entrevistado para um programa de TV: se antes os trabalhadores insatisfeitos reclamavam do trabalho; hoje simplesmente pedem demissão.

No Vale do Silício, a situação não é muito diferente. É certo que as empresas da região oferecem salários 70% acima da média do restante dos Estados Unidos. Com taxa de desemprego regional de apenas 2% (contra 3,5% no resto do país), o mercado de trabalho é ainda mais competitivo, redobrando os esforços para atrair e reter pessoas. Horário flexível e trabalho remoto são práticas padrão (o que levou a taxa de retorno ao escritório de São Francisco ser de 32%, a mais baixa dos EUA, afetando negativamente pequenos negócios no distrito comercial local). Para atrair talentos, opções pouco usuais de benefícios, como o custeio de tratamentos de fertilidade e a possibilidade de levar animais de estimação ao escritório, entre outros.

O problema da maioria virou oportunidade no mundo febril das startups: uma profusão delas tem projetos para solucionar a escassez de pessoal usando inteligência artificial e robótica. Na Califórnia vê-se táxis autônomos; robôs que elaboram os pratos nos restaurantes, atendentes virtuais direcionando consultas. O uso de IA sacode até mesmo a área de recrutamento.

Ao final, a grande resignação cede lugar para a grande remodelagem, movimento dos empregadores para atender aos anseios de trabalhadores insatisfeitos. Nesse contexto, chamou a atenção a campanha da Amazon enfatizando aumentos salariais, bônus e políticas de flexibilização. A empresa anunciou planos para contratar 125 mil pessoas e precisa de imagem positiva para conseguir atrair interessados. Há empresas mais agressivas, que oferecem incentivo em dinheiro para o candidato concordar em participar da entrevista.

Coincidência ou não, Beyoncé está no topo com Break my Soul, na qual canta {tradução livre para o português}: “Agora, eu simplesmente me apaixonei e acabei de largar o emprego. Eu vou encontrar um novo rumo, porra, eles me fazem trabalhar tão duro. Trabalho das nove até bem depois das cinco. E eles me irritam, é por isso que não consigo dormir à noite.” Um sinal dos novos tempos no âmbito do trabalho?

Artigo publicado na HSM Management nº 154

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Autoria

Colunista Ellen Kiss

Ellen Kiss

Ellen Kiss é empreendedora e consultora de inovação especializada em design thinking e transformação digital, com larga experiência no setor financeiro. Em agosto de 2022. após um período sabático, assumiu o posto de diretora do centro de excelência em design do Nubank.

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