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Diversidade

8 min de leitura

Conecte a sua estratégia de diversidade à pauta ESG

E entenda como acelerá-la com a ajuda dessa sigla que invadiu o dia a dia das organizações

Colunista Thalita Gelenske

Thalita Gelenske

27 de Novembro

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Artigo Conecte a sua estratégia de diversidade à pauta ESG

Nunca se falou tanto da adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG – Environmental, Social and Governance, conforme a sigla em inglês). Essa é uma tendência global, que tem ganhado atenção de investidores, conselhos de administração e da alta liderança das empresas brasileiras.

Cada vez mais, vemos o processo de análise e seleção dos investimentos fundamentados em “critérios ESG”, que contemplam:

E – Environmental (Ambiental):

Como a empresa usa sua energia, descarta lixo, emite gás carbônico, contribui para mudanças climáticas etc.

S – Social:

Direitos dos colaboradores, cuidados com a segurança no trabalho, diversidade no quadro de funcionários, relacionamento com a comunidade etc.

G – Governance (Governança):

Sistema de políticas e práticas pelas quais as empresas são direcionadas e controladas, diversidade no conselho, metodologia de contabilidade, política anticorrupção etc.

Diante deste contexto, as empresas começam a entender que os programas e iniciativas de diversidade e inclusão estão contidos neste escopo, especialmente pela perspectiva social e de governança. O próprio Larry Fink, CEO da BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, chegou a citar que:

“empresas com conselhos e líderes com um mix de gênero, etnias, experiências de carreira tem, como resultado, um mindset mais diverso e atento. (...) Elas conseguem identificar melhor oportunidades que geram crescimento no longo prazo.”

Ou seja, conectar a estratégia de diversidade com o tema de ESG é uma oportunidade única e que precisa ser aproveitada pelos comitês, grupos de afinidade e equipes de D&I. 

Para entender melhor esse cenário e ajudar líderes de diversidade a ganharem mais influência com o C-level, resolvi entrevistar o especialista Fabio Alperowitch, referência no tema dentro do cenário brasileiro.

Fabio já foi membro de conselhos de administração de diversas companhias de capital aberto. Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), com cursos de extensão na Universidade da Califórnia (Berkeley) e na Harvard Kennedy School, ele iniciou sua carreira na Procter & Gamble e fundou a FAMA Investimentos em 1993, onde é responsável pela gestão do fundo de ações de empresas brasileiras, focado em companhias com responsabilidade social e aderentes às boas práticas de ESG. Desde o início, o fundo gerido pela FAMA Investimentos acumula um retorno de 21% ao ano.

No terceiro setor, é diretor do Instituto FAMA, do Instituto Brasil Israel, do Instituto Totós da Teté, conselheiro da WWF Brasil, da GRI Brasil, do Capitalismo Consciente Brasil e do Museu Judaico. É também membro do grupo de trabalho do TNFD.

Homem de barba sorrindo
Descrição gerada automaticamente

A seguir, o bate papo que tivemos sobre este tema:

1) Apesar da discussão sobre ESG estar bastante aquecida, muitas pessoas ainda não conhecem essa sigla e o que ela representa para os negócios nos tempos atuais. Você poderia explicar o conceito de ESG?

Se eu tivesse que resumir em uma única frase, eu diria que significa incorporar as questões socioambientais e de governança para a realização de investimentos. Mas esta frase é muito reducionista e esconde as enormes complexidades que estão por trás de cada um destes temas.

É importante ressaltar que o ESG não é nada novo. Seus fundamentos têm séculos, produtos ESG têm décadas (inclusive no Brasil). Mesmo o acrônimo ESG já tem 15 anos. Em muitos círculos ouço que ESG é um assunto novo e da moda. Não é novo, não é da moda, e posso apostar que, até por uma questão de transição geracional, só tende a se intensificar.

2) Como a discussão sobre ESG se conecta com o tema diversidade e inclusão?

Diversidade e inclusão se conectam com ESG em múltiplas dimensões.

De início, é bem evidente que ESG, no final das contas, trata de meio ambiente e direitos humanos. Não é possível admitir que escolhas sejam feitas a partir de um viés de raça, gênero, orientação sexual, religião ou deficiência de qualquer natureza. É ultrajante. Empresas que não sejam inclusivas não conseguirão atrair ou reter talentos, terão suas marcas depreciadas, seus produtos rejeitados pelos consumidores e perderão respeito por parte dos investidores.

E, pragmaticamente, não faltam evidências práticas e acadêmicas de que a diversidade traz benefícios para os processos de tomada de decisão, de criação e de geração de valor. Ainda que não fosse pela ótica dos direitos humanos, investidores devem se preocupar com empresas pouco diversas, que a longo prazo podem ter seu futuro comprometido.

Até porque, na minha ótica, ainda que estejamos distantes dos resultados almejados, o debate da diversidade está ultrapassado. Já não basta mais exercer a diversidade. É preciso ser vocal contra racismo, homofobia, misoginia ou qualquer outra forma de preconceito. Quem não se posicionar está fadado à irrelevância.

3) Em um dos seus artigos recentes, você traz algumas provocações sobre ESG-Nutella versus ESG-raiz. O que exatamente você quis dizer com essas duas expressões?

Apesar do significado do meme original não ser exatamente esse, a compreensão da expressão passou a ser algo como “autêntico” (raiz) ou “de fachada” (Nutella). 

Até muito pouco tempo atrás, empresas que se mostravam como sustentáveis dialogavam com seu próprio ecossistema, em uma tentativa de reforço de cultura corporativa e eventualmente reforço de marca. 

Agora sustentabilidade vale dinheiro. Quem mostrar ser não-sustentável pode ser “cancelado” pelos investidores; ao passo que quem se mostra aderente aos princípios ESG pode eventualmente ter seus múltiplos apreciados e ações valorizadas. Há um nítido incentivo para as empresas se mostrarem como sustentáveis, mas não necessariamente o discurso é acompanhado de ação.

Há também muitos investidores que advogam por mais transparência, o que seria ótimo se estivéssemos nos anos 90. Transparência é ótimo, mas insuficiente. É preciso ação, com intensidade e urgência.

O discurso do ESG desprovido de ação é Nutella. O ESG efetivo é raiz.

4) Por que você acredita que a discussão de ESG está tão em alta atualmente e como você percebe a evolução dessa discussão?

Para nós, na FAMA, o ESG (que na época chamava investimento responsável) surgiu naturalmente, pois é impossível fazermos um investimento em uma empresa – e nos tornarmos sócios dela – que esteja desalinhada com os nossos valores.

A meu ver, há várias explicações para a intensificação da agenda ESG nos EUA e no Brasil nos últimos anos. A primeira razão é política - tanto Trump quanto Bolsonaro foram eleitos com um discurso pouco aderente aos princípios ESG especialmente na agenda ambiental, o que paradoxalmente levou muitos investidores a quererem ser mais vocais e intensificarem seus esforços ESG, levando ao fortalecimento do mesmo.

Há também um contexto de urgência. A questão climática está muito próxima do “ponto de não retorno”. Inação ou ações de longo prazo não são mais suficientes. Além da questão climática, há urgência também nas discussões raciais, de gênero ou de desigualdade social. Muito em breve o risco de redução da biodiversidade será também percebido como urgente. Naturalmente o ESG ganha força a partir disso.

Também há um fator estrutural, que é a transição geracional. A geração Z traz um senso de propósito, respeito ao próximo e ao planeta bem maior do que as gerações anteriores. À medida que pessoas desta geração se tornem consumidores, eleitores, investidores, líderes empresariais ou entrem na política pública, a agenda ESG se intensifica.

5) Além de ser fundador da FAMA, você também é um dos conselheiros do Capitalismo Consciente Brasil, um movimento que tem sido parceiro da minha startup Blend Edu, que trabalha para potencializar a diversidade dentro das organizações. Como o conceito de ESG se conecta com o que o Capitalismo Consciente se propõe?

Engana-se quem enxerga o ESG por meio de seus indicadores. O ESG é essencialmente uma cultura corporativa na qual todas as decisões empresariais contemplam os múltiplos stakeholders, sejam eles fornecedores, colaboradores, clientes, concorrentes, imprensa, governo, meio ambiente, comunidades no entorno, etc. 

Ao deixar de perseguir o lucro pelo lucro a despeito dos princípios e passar a abarcar as implicações aos stakeholders nos processos decisórios, teremos o ESG de fato o que é exatamente a definição do capitalismo consciente.

Muitos ainda não perceberam que ao exercer esse “novo” olhar, o lucro aumenta. Todos saem ganhando.

6) Quais são os primeiros passos que uma organização precisa dar para estruturar um trabalho consistente em ESG?

Há uma série de falsos dilemas que circundam o ESG. Um deles é que apenas empresas grandes podem ser sustentáveis porque é caro. Isso é falacioso. Um olhar socioambiental na tomada de decisões, nada custa. Empatizar com o próximo, nada custa. 

Se a empresa for um pequeno comércio com 3 funcionários, talvez não possa desenvolver um programa de auditoria e certificação em seus fornecedores. Mas pode trazer pautas como racismo e homofobia para discutir com a equipe; talvez possa fazer coleta seletiva de lixo; talvez possa orientar sobre desperdício de água ou até mesmo orientar sobre práticas sustentáveis que possam ser realizadas no lar de cada um.

Portanto, o primeiro passo é extremamente simples de dar. É só querer.

Quer saber mais? 

Separei também alguns materiais complementares que você pode aproveitar para se aprofundar ainda mais na discussão sobre ESG e sua conexão com a agenda de diversidade.

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Autoria

Colunista Thalita Gelenske

Thalita Gelenske

Fundadora e CEO da Blend Edu, startup que já tem em seu portfólio empresas como 3M, TIM, Reserva, Movile, Grupo Fleury, TechnipFMC, Prumo Logística, brMalls etc. Thalita também está presente na lista da Forbes Under 30 de 2019, como uma dos 6 jovens destaques na categoria Terceiro Setor e Empreendedorismo Social.

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