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Como criar uma cultura de saúde mental na sua empresa?

Evento online reuniu lideranças de vários segmentos para debater os níveis atuais de esgotamento no trabalho e as estratégias possíveis para mudar isso no curto, médio e longo prazo; é urgente fazer uma intervenção cultural nas empresas

Rafael Gonçalves

07 de Junho

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Artigo Como criar uma cultura de saúde mental na sua empresa?

O Brasil é o país mais ansioso do planeta. A depressão está entre as três doenças que mais causam absenteísmo no país – todos os anos, mais de 280 mil pessoas são afastadas do trabalho por conta disso. Estima-se que o problema gere, para as empresas, um custo de mais de R$ 200 bilhões, somadas as faltas, a perda de produtividade e as despesas com assistência médica.

Para piorar, uma terceira onda da pandemia de covid-19 está vindo, e muitas corporações não sabem como dar suporte emocional ao seu time, seu ativo mais precioso. A população economicamente ativa é especialmente importante agora, quando a economia do país sofre os efeitos da pandemia. Cuidar de todos é urgente.

Para entender mais profundamente esse cenário e apresentar possíveis soluções, o Zenklub reuniu, no último 27 de maio, a imprensa, especialistas e investidores no evento Vamos falar de saúde mental no trabalho?, com apoio da revista HSM Management. O evento faz parte de uma campanha em prol da cultura de saúde mental nas empresas brasileiras.

Houve um consenso de que esse tipo de problema ficou muito mais frequente e disseminado do que era antes, em função da aceleração tecnológica, que fez com que processos que antigamente levavam meses para acontecer, atualmente são realizados em questão de segundos.

“Como nosso cérebro não evoluiu com a mesma capacidade de processar informações da tecnologia, nós adoecemos”, explicou a presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos, Sofia Esteves.

Pior: mesmo as pessoas mais conscientes agravam a situação, ainda que sem querer, pois pedem desaceleração no trabalho, mas, ao mesmo tempo, exigem os produtos dessa aceleração como consumidores. “Quando vou ao supermercado, exijo as coisas do meu jeito, na embalagem que eu quero. Ou, quero ter o celular mais moderno no dia do lançamento. A gente cobra desaceleração, mas também consome e exige como indivíduo”, explicou Sofia.

Para além de dar clareza a esse crescimento do problema, no evento todos abordaram a dificuldade de lidar com saúde mental no universo do trabalho, onde a regra ainda é evitar demonstrar qualquer emoção que possa ser considerada sinal de fraqueza.

Falando da necessidade de contornar isso, os painelistas convocaram as empresas a criar uma cultura de saúde mental, em que as pessoas se sintam tão confortáveis para falar de problemas desse tipo como se sentem em relação à saúde física. Nas palavras de Luciana Costa, especialista em saúde corporativa do Zenklub, "a ansiedade clínica tem de ser colocada na mesa da mesma forma em que se fala de uma dor nas costas".

Visibilidade

Ficou claro que o primeiro desafio é fazer o problema de saúde mental aparecer. É muito comum a própria pessoa não conseguir reconhecer seus sinais e, quando percebe, também é comum achar que resolve sozinha em vez de procurar ajuda, quase como uma não aceitação de que é um problema real.

Falar ou não é opção da pessoa, é claro. No entanto, identificar quanto antes, e aceitar aquilo, são passos necessários para a pessoa poder agir antes que evolua – para pior. Como Costa explicou, a ansiedade é apenas sintoma. Depois dela, podem vir a síndrome do pânico ou de burnout.

A visibilidade do problema na sociedade é tão baixa, não só porque a pessoa falha em identificá-lo, como também porque o movimento “natural” no ambiente de trabalho e na cultura corporativa, em geral, é escondê-lo: a pessoa portadora finge que a questão não existe e os colegas fingem que acreditam. Uma maneira de tirar esse “manto” da invisibilidade é as pessoas que ocupam os papéis de líderes, e que são consideradas influenciadoras na organização, começarem a falar.

Foi o que fizeram os empresários Caito Maia, fundador da marca Chilli Beans e participante do programa Shark Tank Brasil, e Sofia Esteves. Caito dividiu com o público do evento sua experiência de ansiedade e síndrome do pânico. Ele teve a primeira crise aos 23 anos e outras seguiram (hoje, ele tem 52 anos).

“O assunto era tratado como frescura”, contou Caito, observando como esse preconceito é um inibidor para as pessoas pedirem ajuda. Já Sofia Esteves, do Grupo Cia de Talentos, falou do seu burnout e de como precisou ficar 50 dias afastada do trabalho.

Amadurecimento organizacional

É hora de a gestão da saúde mental entrar pela porta da frente nas empresas. Quem sugeriu isso foi Izabella Camargo, jornalista e palestrante. Segundo Izabella, ainda hoje, a área de recursos humanos (RH) questiona a ansiedade e a depressão, enquanto, mesmo sem enxergar, não questiona um vírus ou uma enxaqueca.

Izabella fez um paralelo com o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), que a gestão das empresas começou a adotar nos anos 1970 e as práticas relativas à saúde mental que precisam ser adotadas hoje. Para ela, assim como ninguém questiona o investimento corporativo em EPIs atualmente, daqui a algum tempo ninguém questionará o investimento corporativo em cuidados com saúde mental.

Os cuidados podem começar por uma estrutura e uma mentalidade adequadas na área de RH e na liderança, mas, segundo Costa, vão além disso, pois todas as pessoas da organização devem respirar esse cuidado, como uma cultura. “Quando física ou virtualmente você está do lado de alguém com um problema de saúde mental, você pode criar esse espaço de cuidado. Se você só perguntar se está tudo bem, daquela forma fria, o outro vai responder que 'sim' quase como um compliance”, alertou.

A democratização do cuidado pode ser feita por qualquer pessoa na organização. Ou seja, é fundamental que as empresas deem atenção à saúde mental de seus colaboradores, mas também cabe ao indivíduo esse cuidado, com os outros e consigo mesmo, até para saber acionar as estruturas de cuidado organizacionais.

Caito, da Chilli Beans, falou do papel da liderança nesse aspecto. “O pessoal brinca que tenho bola de cristal, porque eu sei quando a pessoa não está bem”, contou ele. “Eu chego no funcionário, pergunto se ele está bem, e ele responde que não. Ele pergunta: ‘Mas, Caito, como você sabe?’ E eu respondo: ‘eu sei porque eu te conheço’.” Sua primeira sugestão, portanto, é que cada líder conheça seus liderados, o que exige, por exemplo, não manter um distanciamento em relação a eles.

Até bem pouco tempo atrás, como ele lembrou, o distanciamento era a regra; a prova é que havia elevadores separados para os executivos seniores das empresas e o restante da equipe. Sem mencionar as salas pouco acessíveis.

Caito ainda elencou três movimentos que a liderança pode fazer para que o assunto seja visto com naturalidade pelas companhias: (1) frisar para a área de pessoas que faz sentido cuidar de saúde mental de maneira permanente; (2) dar o exemplo pessoal com ações que demonstrem preocupação com o outro; e (3) fazer isso de modo genuíno, verdadeiro. “Não é abraçar por mentira, é realmente querer fazer aquilo pelo outro.”, ressaltou.

Nina Silva, CEO do Movimento Black Money & D'Black Bank, fez uma sugestão ao RH. Lembrando dos valores das empresas que ficam num quadro, ela disse que eles convidam (e, às vezes, forçam) as pessoas a caber neles, o que é um gerador potencial de ansiedade e outros problemas. Em sua opinião, o RH poderia abolir isso, entendendo que “não dá para todo mundo se enquadrar naqueles dez passos de como se portar na empresa”.

De modo geral, os participantes do evento do Zenklub disseram acreditar que, assim como vem acontecendo com diversidade e inclusão (D&I), a saúde mental está vivendo um processo de maturação dentro das organizações. Não é que D&I seja algo totalmente compreendido e aceito pelas lideranças, por exemplo, mas certamente está numa fase mais avançada da incorporação empresarial, no mundo todo e também no Brasil.

Ações e cultura

Os cuidados com saúde mental assumem duas formas nas empresas: podem assumir a forma de benefícios como prática compensatória ou podem ser uma cultura. Quem explicou isso foi Raj Rani, head de educação do Zenklub. O melhor cenário, claro, é o cultural. Se a opção for por práticas compensatórias, é preciso atenção extra para que as metas de desempenho estabelecidas pela organização não sejam inalcançáveis.

“Sempre que as metas são inalcançáveis, o benefício torna-se periférico ao trabalho e acaba sendo pouco utilizado”, disse Raj. Por outro lado, se a companhia tiver políticas de flexibilizar jornada e de evitar ativamente práticas de liderança abusivas, estas passam a conversar com o benefício oferecido, e isso cria verdadeiramente uma cultura.

Sejam ações específicas, seja a construção de um cultura de saúde mental, o investimento de uma empresa nessa área exige métrica do tipo ROI? Nina Silva acredita que isso não é necessário, porque basta prestar atenção aos dados. “Contra dados não há argumento. Dados refletem o comportamento dos usuários do programa de saúde mental; o resultado é como as pessoas estão”, afirmou ela, que fez carreira executiva em empresas de tecnologia.

E os dados são preocupantes. Na plataforma de saúde emocional e desenvolvimento pessoal Zenklub, pelo menos, houve aumento de 42% nas menções sobre síndrome de burnout nas sessões de terapia no primeiro trimestre de 2021, ante o mesmo período de 2020.

Por fim, ressaltamos que o Zenklub oferece produtos e serviços para ajudar a cuidar da saúde mental dentro das organizações e chama atenção para a importância de todos os empresários cuidarem desse tema com urgência, tendo em vista o cenário de pandemia vigente e a possibilidade de uma terceira onda de contágio. Você pode assistir ao evento completo aqui.

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Autoria

Rafael Gonçalves

Editor de conteúdo multimídia para HSM Management, radialista, jornalista e professor universitário, especialista em comunicação corporativa, mestre em comunicação e inovação e doutorando em processos comunicacionais. Desde 2008, atua em agências, consultorias de comunicação e gestão para grandes empresas e em multinacionais.

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