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Como anda a saúde mental dos jovens?

Se queremos cuidar da saúde mental nas empresas, não podemos deixar de olhar para quem será responsável pelo futuro delas: os jovens. Traçar estratégias de cuidado nunca foi tão importante

Carolina Genovesi Gomes

19 de Agosto

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Artigo Como anda a saúde mental dos jovens?

A saúde mental dos jovens piorou durante a pandemia. De acordo com uma pesquisa internacional realizada pela Universidade São Judas em parceria com a Universidad Del Sur, no Perú, 77,4% dos estudantes apresentaram quadro de ansiedade, enquanto 76,8% apresentam sinais de estresse e 66,5% manifestam grau moderado a grave de depressão. O levantamento foi realizado de junho a agosto de 2020 e ouviu mais de 600 alunos.

Dentre outros fatores, tais índices podem ser explicados por situações de perda de parentes para a covid-19, receio em relação às práticas acadêmicas virtuais, falta de contato físico e aproximado com os colegas de sala e medo de ficar desempregado. “Observamos nesses jovens sinais de irritabilidade, apatia, falta de interesse e motivação, agitação psicomotora, reações emocionais exageradas e isolamento social”, destaca a coordenadora da pesquisa e professora do curso de psicologia da Universidade São Judas, Maria Rita Polo Gascón.

Se as mudanças abruptas na rotina e as incertezas em relação ao futuro têm impactado as pessoas de modo geral, é preciso ter um olhar ainda mais atento ao jovem no contexto pandêmico. Vivenciar a transição para a vida adulta já traz consigo uma série de dilemas e desafios, o que, por si só, já provoca ansiedade nos jovens. “Hoje, temos uma juventude ainda mais ansiosa. A ansiedade já vem nos acompanhando desde antes da pandemia, mas ela deixou seu lugar fixado no nosso dia a dia a partir do momento que iniciamos o isolamento social", comenta Kamilly Oliveira, consultora de comunicação da Eureca, consultoria de recrutamento e desenvolvimento de jovens.

Segundo ela, para falar de saúde mental do jovem é preciso considerar um cenário diverso, já que muitas pessoas não tiveram o apoio mínimo para sustentar cuidados com a mente e as emoções durante a pandemia. “Enquanto uns tinham oportunidade de fazer encontros com um psicólogo semanalmente para falar das suas preocupações e dificuldades, teve gente que nunca nem imaginou essa possibilidade”, pondera. Se considerarmos que metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada (segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde), a dificuldade ou falta de acesso dos jovens aos cuidados com a mente é ainda mais alarmante. “A depressão é a doença que mais afastará as pessoas de seus postos de trabalho. A ansiedade e a depressão podem tirar mais dias de vida de uma pessoa do que doenças e guerras juntas. Podem comprometer a vida social, acadêmica, pessoal e familiar, impossibilitando ou atrasando o desenvolvimento” alerta Gascón.

Empresas mais acolhedoras

Para dar conta destes desafios relacionados à saúde mental dos jovens – que, vale reforçar, não são consequência da pandemia, mas foram trazidas à luz também por conta dela – é preciso haver esforços coletivos, com o desenvolvimento de políticas públicas e o envolvimento da sociedade civil em seus diferentes níveis e instituições. Preservar a saúde mental do jovem é viabilizar sua saúde de modo integral, construindo desde já o futuro das pessoas, das organizações e do País. Dessa maneira, conhecer o que as empresas estão fazendo e as possibilidades de atuação para os líderes contrbui para construir ambientes favoráveis à promoção da saúde mental e emocional dos jovens. De acordo com Gascón, é possível começar com iniciativas simples como a produção e compartilhamento de materiais com conteúdos psicoeducativos e palestras. A USJT, por exemplo, também oferece acolhimento psicológico a todos os alunos e colaboradores da instituição com a finalidade de minimizar a dor e potencializar ações e saberes adequados no combate à ansiedade generalizada e depressão.

A psicóloga também sugere que as empresas incentivem e orientem os jovens sobre a adoção de um estilo de vida saudável e ofereçam psicoeducação sobre saúde mental e acesso a tratamentos de qualidade, além de ter processos transparentes e uma trilha de carreira bem definida, que ajudam na diminuição da ansiedade e na promoção da saúde mental dentro das organizações.

Para os jovens que estão trabalhando no modelo home office, é preciso dedicar tempo para abordar pontos que podem parecer já muito básicos para os demais profissionais, mas que conferem estrutura e rotina – dois itens fundamentais para mitigar a ansiedade –, tais como a importância de preparar um ambiente da casa para o trabalho para que haja uma separação do que é doméstico do que é trabalho, se arrumar como se fosse trabalhar fora, ter uma rotina: hora de início, almoço e saída.

“Empresas de grande porte como a Google já se manifestaram contra o trabalho completamente remoto, portanto, é de suma importância que os jovens saibam fazer o trabalho de forma híbrida, que é a tendência do mercado daqui em diante”, orienta.

Reavaliar os processos seletivos dos jovens também é um ponto crucial, de acordo com a consultora da Eureca. “Se as pessoas não tiveram suporte para cuidar da saúde mental durante a pandemia, como elas olham para dentro? Quanto ela teve a oportunidade de se conhecer para conseguir expressar suas habilidades e qualidades em um processo seletivo? Como esse talento chega na sua organização e como fazer para que esse jovem sinta-se aberto a ser ele mesmo?”

Assim, falar sobre autocuidado ao longo desse processo se torna necessário, caso contrário, as empresas poderão dar a mesma oportunidade para os jovens, mas não as tornarão equânime. “Quando a gente faz um processo seletivo em Eureca e queremos trazer perfis diversos, precisamos ter esse cuidado de empoderá-los e acolhê-los para que possam demonstrar suas melhores habilidades”, explica Oliveira.

E lideranças mais conscientes

O papel do líder também é essencial para o desenvolvimento dos jovens no trabalho e é preciso prepará-los para esta jornada. “O desenvolvimento de uma liderança humanizada faz toda diferença no combate às doenças mentais em decorrência do trabalho, além de engajar e desenvolver jovens trabalhadores. Eles também precisam ser orientados para que saibam trabalhar com equipes remotas, potencializando o trabalho em equipe e criando um ambiente de cooperação. Por fim, incentivem momentos de lazer, respeitem os horários e, acima de tudo, tenham uma ‘escuta’ sobre as dificuldades e inseguranças das equipes”, conclui a professora.

Embora a saúde mental tenha se tornado um dos assuntos mais procurados durante a pandemia, pouco tem se discutido e feito para a promoção e preservação da saúde mental dos jovens, que começam suas vidas profissionais cheios de energia, expectativas, mas também receios e muita ansiedade. Endereçar estes assuntos, prover conhecimento e promover espaços seguros contribuirá para a formação de uma nova geração de trabalhadores saudáveis e mais bem preparados para lidar com os desafios profissionais.

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Autoria

Carolina Genovesi Gomes

É editora de conteúdos customizados em HSM Management e MIT Sloan Review Brasil.

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