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Liderança

9 min de leitura

Caito Maia e o perfil do CEO da nova economia

Os líderes de empresas de tecnologia não têm o monopólio da liderança adequada à nova economia. Confira o porquê nesta conversa aberta sobre tecnologia, sustentabilidade, arte, negócios e gestão de pessoas com o fundador e CEO da Chilli Beans

Leonardo Pujol

08 de Dezembro

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Artigo Caito Maia e o perfil do CEO da nova economia

Imagine que você está em um evento empresarial em São Paulo e vê um sujeito sorridente distribuindo apertos de mão em um dress code nada convencional. A maioria dos homens usa terno, alguns gravata, outros até smoking e ele, calça de sarja, jaqueta de couro pelica e tênis, tudo na cor branca, além de meia dúzia de pulseiras para completar o estilo. Ninguém imaginaria que ele é um executivo C-level. Muito menos um CEO.

Essa irreverência descolada de Caito Maia ainda parece estranha a muitos de seus pares mesmo na nova economia, mas faz quase três décadas que ele impõe seu estilo diferentão, desde criou uma marca de óculos de sol Chilli Beans com os mesmos atributos de ser descolada e irreverente, marca essa consolidada como a maior rede do setor na América Latina. “É que tenho referências diferentes da maioria dos empresários e CEOs”, explica Maia.

À primeira vista, foram essas referências diferentes que fizeram dele um rockstar do mundo dos negócios brasileiro, na mesma linha de John Legere nos EUA, que presidiu a T-Mobile entre 2012 e 2020. Ou na linha de Richard Branson no Reino Unido, que começou seu império com lojas de discos. Na verdade, como esses dois, Maia ama música, e especificamente rock'n roll. Chegou a integrar uma banda – Las Ticas Tienen Fuego –, que fez turnê pelo Brasil e teve videoclipe indicado ao MTV Video Music Brasil (VMB). Foi estudar na Berklee College of Music, em Boston, EUA. Mas, na volta, trouxe uma mala de óculos escuros para vender aos amigos – e as peças se esgotaram em poucos dias. O ano era 1997 e a música o fez tropeçar em uma oportunidade de negócio.

Maia logo abriu um estande para vender óculos escuros trazidos dos EUA no evento paulistano Mercado Mundo Mix, o estande virou loja e o que era uma loja se tornou dezenas, centenas de unidades. Hoje, a Chilli Beans produz 4 milhões de óculos por ano, que podem ser adquiridos pela internet ou nas mais de 1 mil unidades espalhadas pelo Brasil e países da América do Sul, Europa, Ásia, Oceania, Oriente Médio e, claro, nos Estados Unidos. Os negócios incluem, ainda, a Ótica Chilli Beans, dedicada a óculos de grau, e que já soma 300 lojas. A meta é chegar a 3 mil estabelecimentos comerciais mundo afora em cinco anos – o que não é de se duvidar para uma operação que já soma faturamento na casa do bilhão.

As referências diferentes não explicam Maia por completo. Ele tem muito do líder arquetípico da nova economia que Charlene Li chama de “disruptador”, inclusive por sua presença midiática. Por seis anos, foi um dos jurados do reality Shark Tank Brasil, transmitido no Brasil pela Sony. No programa, empreendedores buscam apoio de investidores como ele para alavancar o negócio. Ele se despediu do programa em 2023, mas planeja voltar à TV em breve. As diversas palestras que vem fazendo, os posts que compartilha e a atração voltada a empreendedorismo que apresenta semanalmente no rádio (Se Parar o Sangue Esfria, na 89 FM de São Paulo) são alguns meios de alcançar esse objetivo.

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Para inspirar nossos leitores para 2024, nada melhor do que um líder da nova economia brasileiro como Caito Maia, provando que esse perfil não está apenas em empresas de tecnologia, mas no varejo de óculos ou em qualquer lugar. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade, Maia compartilha seus planos, visões de mundo e lições de empreendedorismo e liderança.

O termo disrupção ganhou popularidade a partir da última década, mas tenho a impressão de uma banalização em seu uso. Afinal, nem toda inovação é mesmo disruptiva. Para você, o que é disrupção?

Concordo que o uso do termo banalizou. O que vemos por aí é muita gente prometendo disrupção e não entregando. Só que eu não sei dizer o que é disrupção. Sei que, aqui na Chilli Beans, inovamos muito, mas também focamos em fazer o básico bem feito: bons produtos, boas campanhas, bom atendimento, boas lojas, boas experiências com a marca. O empreendedor que foca muito em disrupção e esquece do básico fica pra trás.

Como você enxerga o avanço da tecnologia, no sentido de contribuir (ou prejudicar) com a busca por uma sociedade melhor? O que mais te agrada nesse sentido?

A tecnologia é boa demais e melhorou vários aspectos da nossa vida. Ganhamos produtividade e conforto com ela. Mas sempre precisamos ter o ser humano, as pessoas, no centro. Tecnologia sem pessoas como ponto focal não serve para nada. Me agrada muito aquilo que facilita a nossa vida, como os streamings de áudio e vídeo, que eu uso demais, as ferramentas de comunicação e navegação, entre outras.

Em sua opinião, qual é o tema que vai se sobrepor aos demais nos próximos dez anos?

Acho que o tema central dos próximos anos é a sustentabilidade. Está claro que precisamos fazer mais pelo planeta. Aqui na Chilli Beans estamos no processo de substituir matérias-primas dos nossos produtos por materiais ecológicos, sustentáveis e biodegradáveis. Já estamos em 30% do portifólio e a meta é chegar em 100% em alguns anos.

Isso significa um foco forte no “E” do ESG...

Acho que ESG é “o tema do mundo” para os próximos anos. Como falei, embarcamos com tudo nessa. O desafio, aqui, é transformar a Chilli Beans na empresa de óculos escuros mais sustentável do mundo nos próximos anos. Todo empreendedor e empresário precisa estar atento à questão da sustentabilidade, pois o consumidor está cada vez mais interessado no impacto do negócio no mundo.

Em termos de varejo e gestão de pessoas, o que você e as demais lideranças da Chilli Beans têm feito neste momento em que tantas práticas estão sendo questionadas?

Nós fazemos o que fazemos há muitos anos. A primeira coisa é ouvir as pessoas. Das nossas mais de 1 mil lojas, conheço perto de 900. Organizamos turnês de visitas às lojas, falamos com os vendedores na ponta, escutamos as dificuldades e as oportunidades. Já corrigimos muitas rotas e estratégias desse jeito. O varejo se faz no chão de loja – eu não conheço outra forma. Outro ponto central para nós é a diversidade, e praticamos isso há 26 anos. Esse é um dos pilares da empresa. Desde o começo, em 1997, respeitamos as pessoas do jeito que elas são.

Você se despediu do Shark Tank Brasil em 2023, depois de seis anos na atração. Quais são as principais lições que traz desse reality?

Aprendi demais, conheci gente fantástica e foi uma experiência única. Tive ideias e fiz amizades que levo para a vida. E o mais importante: comprovamos ao vivo como os empreendedores brasileiros são especiais. São criativos, resilientes, apaixonados. Foi uma aula a cada episódio.

Que conselhos você mais costumava dar aos empreendedores? E quais erros eles mais cometiam?

O principal conselho sempre foi: invista na sua marca, pois é ela que separa você de todos os outros no mercado.

Entre os principais erros, exatamente tratar marca – seu branding – como custo e não como investimento. Somos quem somos aqui na Chilli Beans porque construímos uma marca querida e admirada por gerações de clientes e fãs.

Quais são suas maiores referências profissionais e pessoais?

Tenho referências diferentes da maioria dos empresários e CEOs. Meus ídolos são artistas, estilistas, músicos. David Bowie, o diretor de cinema David Lynch, o estilista Steve McQueen, são gênios que me inspiram todo dia. Mas para citar um cara que admiro demais no mundo empresarial, fico com Miguel Krigsner, fundador da rede O Boticário. Sou fã dele e da marca.

Acho que nem todo mundo sabe que você estudou música nos EUA e chegou até mesmo a ter banda de rock antes da Chilli Beans. Como a música influenciou e ainda influencia sua vida?

A música é a base de tudo que eu faço e um dos pilares da Chilli Beans, junto com a moda, a arte e o mundo geek. A música faz a vida mais colorida, traz insights e inspirações. É uma das bases da minha trajetória.

Voltando à empresa: a quem você recorre quando precisa discutir uma ideia ou compartilhar um medo?

No dia a dia da Chilli Beans divido tudo e conto sempre com meu time. A galera é radical! Tem gente comigo há 15, 18, 20 anos. A Chilli Beans foi construída pelo time. No plano pessoal, sou bastante espiritualizado e conto com minha família para me manter focado e energizado.

Como é sua rotina?

O que eu mais gosto é dividir um pouco do que aprendi em quase 30 anos de varejo. Faço palestras pelo Brasil, dou entrevistas, tenho um programa semanal no rádio, compartilho posts nas redes sociais – e, quem sabe em breve, também volte à televisão. Estamos fomentando ideias e preparando novidades. Quero ajudar o empreendedor brasileiro a tirar o sonho do papel e colocar suas ideias em pé. Mas, em matéria de business, meu foco total é na Chilli Beans.

Falando nisso, como foi o processo de criar a Ótica Chilli Beans, sem deixar de lado todo o legado construído no ramo de óculos escuros?

Esse é um grande desafio para várias empresas. Temos vários exemplos de grandes marcas que lançaram uma segunda marca sem o sucesso esperado. No nosso caso, foi diferente: em cinco anos, a Ótica já chegou a mais de 300 lojas pelo Brasil. Ela atinge um público diferente, ao mesmo tempo em que o consumidor percebe todo o legado da Chilli Beans na nova marca. Queremos fortalecer isso e chegar a 1 mil lojas nos próximos anos.

Como os mercados internacionais, e em especial a Ásia, têm influenciado o varejo e a indústria brasileira?

Tudo influencia porque o mundo está todo conectado. Em 30 anos, passei por todas as crises e cenários possíveis. O empreendedor brasileiro tem mestrado e doutorado em crise. Mas crise, para mim, assim como para os orientais, também é sinônimo de oportunidade. Das dificuldades é que fazemos acontecer com criatividade e trabalho incansável.


FATOS E NÚMEROS DA CHILLI BEANS

  • Projeção de faturamento 2023: R$ 1,2 bi
  • Número de funcionários: 5 mil colaboradores em toda a rede (inclui franquias)
  • Número de lojas: 1000 Vermelha / 300 Ótica / 20 Eco Chilli
  • Atuação internacional: 36 operações - total 19 países
  • Market share: 17,4% (2022)
  • Zeiteist: 30% dos óculos produzidos hoje pela marca são feitos com materiais reciclados, cases são 100% sustentáveis
  • Fast fashion: 44 coleções temáticas são lançadas por ano
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Autoria

Leonardo Pujol

É colaborador de HSM Management.

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