fb-embed

Empreendedorismo

4 min de leitura

A sobrevivência das empresas familiares

Para sobreviver no mundo pós-pandemia, as corporações, em especial as de origem familiar, estão tendo de enfrentar o desafio de pensar fora da caixa como forma de garantir a perenidade do negócio

Colunista Nelson Cury Filho

Nelson Cury Filho

28 de Julho

Compartilhar:
Artigo A sobrevivência das empresas familiares

Aparentemente, o término da pandemia começa a aparecer no horizonte. Nesse contexto, as corporações, em especial as de origem familiar, estão se deparando com uma realidade bastante diferente em seus ambientes de negócios, regida por novas prioridades, novos hábitos de consumo e novas mentalidades. Enfim, por uma nova ordem, que chegou repentinamente.

As disrupções e as transformações que já vinham obrigando as corporações a partirem para a inovação ganharam intensidade, ampliando o grau de letalidade entre diversos segmentos da economia. Mudanças de hábitos bruscas e profundas, determinadas pela pandemia, como a própria obrigatoriedade de isolamento social, selaram o destino de muitos negócios.

Marcadas por culturas empresariais muitas vezes construídas por diferentes gerações, as empresas familiares se viram diante de um grande desafio: como equacionar um legado sedimentado na forma de profundo conhecimento dos negócios e mercados, bem como de reputações solidamente construídas, com a necessidade extrema de se aventurar e abrir novos caminhos?

Rumo a uma nova ordem

Segundo os especialistas que se dedicam a estudar os movimentos que conduzem a humanidade ao longo de sua existência, as mudanças fazem parte de uma transição entre dois mundos, que têm como divisor a pandemia. Para eles, a humanidade está abandonando o mundo VUCA e partindo para o mundo BANI.

Criado a partir das iniciais das palavras volatility, uncertainty, complexity e ambiguity, o termo VUCA explicita os traços principais dessa ordem que predominou desde os anos 1990. O termo foi utilizado inicialmente por militares para designar o cenário que surgiu após a queda do mundo de Berlim, que tornou as relações mais complexas.

O planeta em que vivemos não é mais o mesmo e está fazendo a transição para o mundo BANI, expressão criada pelo antropólogo, autor e futurista norte-americano Jamais Cascio a partir das iniciais de brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible. A fragilidade do termo tem como exemplo os próprios meses em que o mundo esteve sob a pandemia.

O BANI sintetiza ainda possibilidade de tudo mudar instantaneamente. A ansiedade, por exemplo, é fruto da expectativa permanente de mudanças. Por esse conceito, o mundo é não-linear, com tudo mudando ao mesmo tempo. O mundo também é incompreensível, numa referência, por exemplo, sobre a mudança de hábitos das pessoas o tempo todo, o que torna muitas vezes infrutífero o esforço das empresas em buscarem, com o auxílio de dados, as respostas para as suas inquietações.

A transição parece estar longe de conduzir as empresas familiares a um porto seguro. As incertezas adicionais trazidas pelo cenário pós-pandêmico vêm sendo tratadas com a ajuda de um novo profissional: o futurista. Devido à habilidade em detectar tendências e antever movimentos futuros, cabe a esse profissional definir as estratégias das empresas.

Fazendo a lição de casa

Como revelam pesquisas realizadas por diferentes consultorias, a maioria das empresas familiares soube fazer a lição de casa e responder aos desafios impostos pela pandemia. A inovação se transformou em pilar de sustentação de muitas companhias, assim como a digitalização também foi assimilada rapidamente, transformando-se em instrumento de sobrevivência para vários setores ao estabelecerem um canal seguro com a clientela.

As companhias familiares buscaram também modernizar sua governança. A profissionalização da alta gestão dos negócios familiares tem sido uma das práticas mais recorrentes nessa frente. As pesquisas têm mostrado que aumentou a predisposição das empresas de origem familiar a instituir conselhos de administração, por exemplo.

Os processos sucessórios passaram a ser geridos pela necessidade de colocar à frente das companhias jovens da geração millennials, mais familiarizados com as novas tecnologias, mais dispostos a adotar os novos modelos de negócios e mais abertos à necessidade de incrementar a governança das companhias. Assim, os millennials vêm ganhando espaços, dando fôlego novo com sua maior adaptabilidade ao desenvolvimento tecnológico. Eles pensam fora da caixa e são capazes de transformar as empresas familiares em organizações exponenciais.

A pandemia contribuiu ainda para que os grupos familiares se unissem na tentativa de entender esse novo momento. As companhias familiares mostraram alto nível de resiliência para enfrentar a crise. A Fundação Dom Cabral e a PwC Consultoria captaram essa resposta diferenciada, em pesquisa realizada com 282 companhias no Brasil, entre 2.600 ouvidas em vários países. Nas empresas familiares brasileiras o impacto foi menor em termos de lucratividade: 39% ante 51% na média global.

Esses números mostram que as empresas familiares brasileiras souberam incorporar questões que movem as transformações da sociedade, como a diversidade, e absorveram com rapidez o trabalho remoto, entre outras mudanças importantes. Nessa nova ordem mundial, a perenidade dos negócios familiares, e das organizações de modo geral, depende de agilidade e da capacidade de adaptação, habilidades que fazem parte da essência das companhias familiares.

Gostou do artigo de estreia do Nelson Cury Filho como colunista digital da HSM Management? Confira conteúdos sobre gestão de empresas familiares assinando nossas newsletters e escutando nossos podcasts em sua plataforma de streaming favorita.

Compartilhar:

Autoria

Colunista Nelson Cury Filho

Nelson Cury Filho

É sócio-proprietário da Cedar Tree Family Business Advisors e da Consilium Family Office Advisros. Graduado em gestão de recursos humanos e mestrado em consulting and coaching for change pela INSEAD Business School, na França, trabalhou por mais de 20 anos como executivo no conglomerado de empresas de sua família. Especialista em governança Familiar e no desenvolvimento da família empresária, cursou diversos programas como parceria para o desenvolvimento do acionista-PDA e desenvolvimento de conselheiros-PDC, pela Fundação Dom Cabral-FDC. É certificado internacionalmente em Family Business advisor pelo Family Firm Institute-FFI, de Boston (USA). É fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.

Artigos relacionados

Imagem de capa Um segredo bem guardado das "purpose-first"

Gestão de pessoas

06 Julho | 2024

Um segredo bem guardado das "purpose-first"

As empresas familiares são cruciais para o País por sua contribuição econômica e, nos dias atuais, por carregarem legado e valores melhor do que corporations. Mas isso só ocorre quando está estabelecido o reconhecimento simbólico dos líderes de propósito que se vão...

Luis Lobão

10 min de leitura

Imagem de capa Executivos descrentes, colaboradores confusos e estratégias falhas: é preciso organizar a “casa”

Gestão de pessoas

04 Julho | 2024

Executivos descrentes, colaboradores confusos e estratégias falhas: é preciso organizar a “casa”

A efetividade das estratégias empresariais é frequentemente comprometida pela falta de alinhamento, comunicação e priorização, resultando em descrença e baixa implementação, com apenas 3% dos executivos confiando no sucesso das suas estratégias.

Athila Machado

4 min de leitura

Imagem de capa Como o intraempreendedorismo pode ser catalisador de negócios de sucesso

Empreendedorismo

02 Julho | 2024

Como o intraempreendedorismo pode ser catalisador de negócios de sucesso

Incentivar uma cultura de intraempreendedorismo é essencial para a inovação dentro das empresas. As holdings, como a In8 com a Africandev, demonstram como o apoio financeiro e estratégico pode transformar ideias internas em negócios prósperos, resolvendo problemas operacionais e atendendo demandas de mercado.

André Rubens

2 min de leitura

Imagem de capa Publicidade de duas faces: o jogo de luzes e sombras que pode amadurecer as marcas empregadoras

Empreendedorismo

01 Julho | 2024

Publicidade de duas faces: o jogo de luzes e sombras que pode amadurecer as marcas empregadoras

Há tempos penso na importância da transparência na comunicação de marcas empregadoras e se existem exemplos práticos de que ela compensa. Compartilho aqui um achado do mundo do consumo que pode nos ajudar a buscar essa resposta.

Bruna Gomes Mascarenhas

5 min de leitura

Imagem de capa O Papel da inovação na construção de um RH estratégico

Gestão de pessoas

24 Junho | 2024

O Papel da inovação na construção de um RH estratégico

Líderes de RH enfrentam o desafio de se reinventar para manter relevância e conexão estratégica em um cenário de rápidas mudanças tecnológicas e de mercado. Já pensou que a inovação em cultura organizacional e tecnologia emerge como aliada essencial?

Luciana Leão

4 min de leitura

Imagem de capa Inovação não é sobre criar castelos no ar. É sobre renovar padrões de desempenho

Empreendedorismo

22 Junho | 2024

Inovação não é sobre criar castelos no ar. É sobre renovar padrões de desempenho

A inovação transforma a performance, otimizando processos e modernizando tecnologias. No entanto, durante crises, a inovação é essencial para a prosperidade pós-crise. A estratégia de inovação deve ser clara e contínua, alinhando-se à visão de longo prazo da empresa, como demonstrado pelos CVCs.

Felipe Novaes

5 min de leitura