Gestão de projetos pode ajudar na maternidade
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Para lidarmos com os desafios da atualidade, precisamos de abordagens que olhem para fora e para dentro. A partir disso, a Benfeitoria criou três pilares de atuação para organizações que levam ESG a sério: plante uma árvore, tenha um filho e escreva um livro
Tati Leite
14 de Março
A palavra respeito vem do inglês re-spect (olhe de novo). E como a pandemia aprofundou ainda mais os abismos sociais do Brasil, no pior do efeito Xibom bombom (como na música: “onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre”), faço aqui um apelo às lideranças das grandes organizações: revisitem sua forma de olhar para – e agir sobre – a filantropia.
Para dar conta dos desafios atuais, precisamos de uma abordagem mais profunda, sistêmica e regenerativa. Abordagens que olhem para fora e para dentro. Para hoje e amanhã. Na tentativa de destravar esse processo, criamos na Benfeitoria um guia simples, inspirado na máxima do legado pessoal: plante uma árvore, tenha um filho, escreva um livro. Sua organização atua nesses três pilares?
DOE. Simplesmente doe. Doamos 10 vezes menos do que os americanos doam em relação ao PIB. Num país tão desigual como o Brasil, precisamos urgentemente disseminar uma cultura de doação pura e simples, sem contrapartidas.
Toda empresa grande deveria ter uma linha de ação para doação, sem neurose de estar dando peixe em vez de ensinar a pescar. Doe. Simplesmente doe. Não existe evolução e mudança significativa sem muito fomento e colaboração, nem dentro nem fora da filantropia. Investimos bilhões em negócios e empreitadas de risco. Por que sub financiamos o social e ainda exigimos tanto das OSCs (Organizações da Sociedade Civil) pelas nossas doações?
Quem tem fome (não só de comida), tem pressa. Aliás, no contexto atual, a fome voltou com força, de forma obscena. Segundo oestudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, mais da metade da nossa população vive em insegurança alimentar e quase 20 milhões em nível crítico.Nossas crianças estão desmaiando de fome nas escolas públicas.
É preciso dar o peixe sim, com arroz e feijão. Como diz Yuval Noah Harari, historiador e autor dos best sellers Sapiens e Homo Deus: “Não ocorrem mais surtos de fome por causas naturais; há apenas fomes políticas.”
Considere doar de forma radicalmente desburocratizada, comoMackenzie Scott, que está revolucionando a filantropia lá fora.
Crie projetos em parceria com outras instituições. Estou falando de filantropia colaborativa. A fórmula que transforma 1 + 1 em algo muito maior e mais poderoso que 2. Algo único, a partir da junção do DNA de diferentes parceiros.
Aqui sim, há espaço (e muito!) para inovar e criar arranjos mais elaborados, seja para olhar de forma estratégica para o futuro ou para mitigar os desafios emergenciais do presente com mais potência.Matchfunding, fundos colaborativos, círculos de doação, coalizões, inovação aberta… É tanto modelo, que mais que um texto à parte, rende umlivro. E já foi escrito, pela Erika Sanchez para a sérieTemas do Investimento Social, do GIFE. Só baixar :)
Mas faço um adendo: Como a maioria dos tomadores de decisão no investimento social privado é composta por pessoas brancas privilegiadas, que vivem realidades muito distantes das que pretende ajudar (me incluo), é importante buscarmos intencionalmente parceiros (dentro e fora das nossas instituições) que tenham jornadas diferentes das nossas.
Políticas de fomento precisam ser feitas por grupos diversos. Não é só o certo a ser feito: é a forma mais inteligente de se complementar olhares e saberes para criar ações que fomentem um mundo realmente para todos.
Olhe para dentro e reescreva sua história. Aqui estou falando de filantropia regenerativa. Se perceba como parte geradora do problema e procure investigar o que está olhando, mas não está vendo. O que você e sua instituição praticam (ou deixam de praticar) que perpetua nosso sistema desigual e opressor — para dentro e para fora? Olhe para isso e saiba que nunca é tarde para escrever um novo capítulo.
Esse tema também rende muito, mas gosto de introduzi-lo através de um depoimento muito impactante que Ray Anderson, CEO da Interface.Inc, deu para o documentário “A Corporação”. São três minutos que prometem reverberar por muito tempo.
É … é forte. E é muita coisa, eu sei. Não fiz esse texto para ser mais uma pressão na sua vida, mas como um chamado à responsabilidade, no sentido mais bonito da palavra: habilidade em responder.
Que em 2022 tenhamos a habilidade de fazer diferente para fazer real diferença.
Tati Leite é cofundadora e CEO da Benfeitoria, plataforma que há dez anos vem impulsionando e popularizando a cultura da doação no Brasil.
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