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Desenvolvimento pessoal

4 min de leitura

Precisamos falar sobre o real significado de "resiliência"

Experiências difíceis ou traumatizantes no trabalho não tornam você necessariamente resiliente. Deixam exausto – e isso pode prejudicar outras áreas importantes da vida

Colunista Wesley Barbosa

Wesley Barbosa

28 de Março

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Artigo Precisamos falar sobre o real significado de "resiliência"

Foi o filósofo Friedrich Nietzsche que proferiu as palavras: “O que não te mata, te fortalece”. Ele queria dizer que precisamos encarar a vida do jeito que ela é, questionar vieses e se libertar de crenças enraizadas.

A percepção errada sobre o que nos fortalece nos faz criar uma sequência de decisões ruins. Essa deturpação nos faz aceitar maiores cargas emotivas e de trabalho, por uma má interpretação da etimologia de um dos maiores mitos da sociedade moderna: a RESILIÊNCIA.

O significado real da palavra se perdeu. Quem carrega a culpa são os ávidos pela promoção de uma das indústrias que mais crescem no mundo, a autoajuda.

Acelerado pelo vazio existencial, o mercado de autoajuda cresce assustadoramente. De acordo com a Grand View Research, ele fatura US$ 40 bilhões anuais, com uma taxa de crescimento projetada em 5,1% de 2020 a 2025.

Qual o problema em interpretar errado a resiliência?

Estamos em uma época em que não investimos solidamente em nos conhecermos e desenvolvermos melhor. Criamos uma sociedade que não sabe por onde começar a se interpretar. As universidades estão cheias de cursos que nos dão hard skills, que nos transformam em advogados, médicos, engenheiros etc. Mas qual faculdade nos traz uma percepção sobre nosso propósito na vida?

É a ausência de qualificação pessoal que nos faz tomar decisões erradas sobre nossa carreira e prioridades da vida, criando uma bola de neve enviesada sobre tudo que consumimos. Vira uma espécie de looping infinito de livros, cursos, busca desordenada, automedicações, palestras vazias… Tudo para alimentar a esperança de dias melhores.

É aí que entra a "RESILIÊNCIA".

No sentido figurado, a resiliência é a “capacidade de quem se adapta às intempéries, às alterações ou aos infortúnios”. Na física, significa a “característica mecânica que define a resistência dos choques de materiais”. Mas o real significado etimológico tem origem no latim, que quer dizer “saltar para trás”.

Acreditamos que resiliência seja se tornar mais resistente por meio de circunstâncias difíceis. Acreditamos que quanto mais duro sejamos ao enfrentar situações diversas, mais duro seremos quando elas aparecerem. Só que tal percepção é cientificamente incorreta.

A falta de tempo para se recompor está tornando a resiliência coletiva distante da realidade. Pesquisas indicam que “existe uma correlação direta entre falta de recuperação e aumento de incidência de problemas de saúde e segurança. Essa falta de recuperação – seja interrompendo o sono com pensamentos de trabalho ou tendo atividade cognitiva contínua – está custando às nossas empresas US$ 62 bilhões por ano em perda de produtividade”.

Ou seja, o conceito de resiliência que fomos urbanamente ensinados a compreender está nos fazendo tomar iniciativas que nos levam à contínua exaustão, e não ao enfrentamento de problemas. Não é porque encerramos o expediente que paramos o trabalho. Levamos o pensamento para casa, falamos sobre trabalho no jantar, vamos dormir pensando na agenda do próximo dia. É um vilão silencioso que está fragilizando a capacidade que temos de enfrentar problemas e que pode nos levar ao “burnout”.

Em um estudo feito na Noruega, 7,8% das pessoas são workaholic. Os cientistas têm usado a seguinte definição para “workaholic”: “Estar excessivamente preocupado com o trabalho, impulsionado por uma motivação incontrolável para o trabalho, e investir tanto tempo e esforço para trabalhar que prejudica outras áreas importantes da vida”.

Resiliência tem a ver com tentar o máximo, PARAR, SE RECUPERAR e TENTAR NOVAMENTE. As pessoas mais resilientes não são as que mais sofreram na vida, estas são as pessoas mais traumatizadas. As pessoas mais resilientes são as que tiveram o privilégio de descansar antes de recomeçar, após momentos difíceis ou de gasto intenso de energia.

Essa conclusão tem fonte na biologia. A homeostase é um conceito biológico fundamental que descreve a capacidade do cérebro de restaurar e sustentar continuamente o bem-estar.

Precisamos buscar o valor homeostático. Certas ações criam equilíbrio e bem-estar. Quando o corpo está desalinhado devido a altas cargas de trabalho, há um gasto enorme de recursos mentais e físicos para tentar devolver o equilíbrio.

Como criar a verdadeira resiliência?

A única forma é PARANDO. Verdadeiramente se afastando de atividades de trabalho.

Faça uma lista de coisas que gosta e consegue fazer diariamente, que o desligam da rotina exaustiva. Faça outra lista de coisas que o ligam a essa rotina.

Por exemplo, tomar água de coco, ir à praia, nadar, pedalar, cozinhar, tocar instrumentos musicais, passar momentos com amigos e familiares, ler livros sem correlação com trabalho, viajar, passar tempo com seu bicho de estimação, estudar...a lista não para.

Evite uso de telefone. Inclusive, indico utilizar aplicativos de monitoramento de tempo de uso. Estabeleça uma meta semanal para tentar usar menos o celular. Evite o contato com telas antes de dormir e os livros relacionados ao trabalho.

Nestas aulas, ensinei como gerir as quatro dimensões da performance, em que deixamos o posicionamento de alocar tempo e esforço para alocarmos energia na atividade correta.

A grande lição aqui é que o ser resiliente é aquele que tem a inteligência e o privilégio de parar. A resiliência está na RECARGA, não na DESCARGA. Tem muito mais a ver com a qualidade e quantidade de sono que você teve do que com uma experiência traumatizante.

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Colunista Wesley Barbosa

Wesley Barbosa

Wesley Barbosa

Saiu da periferia de Maceió e se tornou executivo do Facebook no Vale do Silício e Sócio da XP Investimentos. É o fundador da Become, empresa de educação executiva e corporativa. É professor de Neurociências, com aulas ministradas na quarta maior universidade do mundo, UC Berkeley, e Singularity University, ambas na Califórnia. Também é professor convidado da Fundação Dom Cabral. Foi o executivo responsável por trazer o Baidu (o Google chinês) para a América Latina. Também liderou startups chinesas de games sociais, como o Colheita Feliz, e o idealizador da ONG chancelada pela ONU e acelerada por Stanford, Ajude o Pequeno.

Siga o colunista no Instagram - @wesleybarbosa - e ouça o podcast de Wesley Barbosa, No Brain No Gain, no Spotify.

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