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Estratégia e execução

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O que é venture capital?

Colunista Romero Rodrigues

Romero Rodrigues

04 de Dezembro

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Artigo O que é venture capital?

A partir de hoje passarei a escrever bimestralmente neste espaço. Gostaria de agradecer a oportunidade e destacar que a troca de experiências é uma das principais fontes de inspiração e obtenção de conhecimento. O encontro com boas ideias e cases de sucesso pode ajudar a mover projetos e impulsionar carreiras.

Aqui no “Vida de Startup”, vou escrever não apenas sobre o mundo de startups, mas, principalmente, sobre o que isso impacta o dia a dia de executivos e de grandes corporações. Afinal, empreender deixou de ser sinônimo de começar uma empresa e passou a ser uma postura de todo profissional em sua própria carreira.

As próprias corporações têm atuado fortemente em venture capital, os famosos CVC (Corporate Venture Capital). Entre as Fortune 500, mais da metade já possui iniciativas de CVC. A “transformação digital” se tornou termo imperativo em qualquer plano estratégico, crucial para a tal sobrevivência. E corporações têm se tornado aquisitivas. Recentemente, uma startup investida por mim foi adquirida pelo Itaú Unibanco.

Não é apenas na diretoria que o digital se infiltrou. Está nos corredores, no boteco e no DP. A cultura de startup tem invadido o ambiente corporativo, com seu dicionário de anglicismos: scrum, squad, agile... stock option, cliff.

Neste ambiente de transformação, em ritmo de Fórmula 1, vamos usar este espaço para discutir diferentes assuntos, como por exemplo:

  • Uma companhia consegue se digitalizar e se reinventar? 
  • Quais as grandes armadilhas que impedem isso de acontecer?
  •  Conselho de startup é diferente de conselho de grande empresa? 
  • Por que o conselho certo na hora errada pode ser fatal? 
  • É hora de se arriscar e tentar a vida numa startup? Ou será que é hora de empreender? Quais os trade-offs
  • Como realmente funciona uma startup? 
  • E os valuations de startups? 
  • O que é e como funciona um venture capital?

Para começar esta conversa, iniciemos pelo final: venture capital tem várias traduções. Investimento em capital de risco (odeio essa), investimento em startups, entre outras. Eu gosto de definir venture capital como: a arte de investir em grandes negócios enquanto elas ainda são muito pequenas.

Arte, pois é realmente um trabalho de artesão. Venture capital é pouco escalável. Nossos fundos de early stage têm cerca de US$ 150 a 200 milhões de patrimônio para cada safra, investem em cerca de 30 corporações cada, e não devem crescer com o tempo. Isso acontece porque se levantarmos o dobro de capital, teríamos que investir no dobro de companhias. E no nosso negócio, a teoria dos retornos marginais decrescentes é lei. E assim, ao invés de escolher as 30 melhores da safra, escolheríamos as 60 melhores, abaixando a barra do processo de seleção. Conversamos com mais de 2 mil empresas por ano, para investir em menos de 10. Passar neste funil, de 200 para um, é mais difícil que entrar em Medicina na USP (onde em 2018 concorreram 115,2 candidatos por vaga).

Mas nem toda pequena empresa é uma empresa pequena. Vestígios de alguns ingredientes precisam ser identificados para que ela possa vir a crescer muito e, mais importante, crescer rápido. O ciclo costuma ser de 7 a 10 anos entre investir e desinvestir. Pode ser muito para um ansioso investidor e pode ser pouco para um apaixonado empreendedor. Na arte, o nosso fundo é um dos primeiros a entrar na firma e saímos com os fundadores, seja numa venda ou numa oferta pública de ações. A gente sempre espera que a vida siga a arte.

Primeira observação: Venture capital não se trata de investimento em tecnologia. Trata-se de um investimento em empresas de altíssimo crescimento. Acontece que não se sabe outra forma da startup crescer tão rapidamente sem o uso intensivo de tecnologia. Seja em seus processos, seja em seu produto.

Tamanho de mercado é um ingrediente fundamental, além de um importante teste ácido. Se ele não for grande o suficiente para comportar esta companhia valendo alguns bilhões, a oportunidade é infelizmente um “pass”. Isso não quer dizer que organizações incríveis e extremamente lucrativas não possam ser criadas em mercados menores. Também não quer dizer que a empresa não possa expandir e abocanhar mais mercados, tornando-se bilionária. Mas, para o tipo de retorno que os melhores fundos de venture capital precisam entregar a seus investidores (na casa do 25% ao ano), não ter uma clara visão de que o mercado é grande o suficiente, é um risco adicional que não se precisa correr.

Depois, é necessário entender qual a dor que está sendo resolvida. Quanto maior a dor, maior a chance de sucesso da corporação encontrar um modelo de negócio rentável e duradouro. Aqui procuram-se aspirinas, e não vitaminas. Vitaminas são chamadas também de “nice to have”, perdem prioridade na agenda do cliente, tem conversão em vendas mais baixa e costumam demorar mais para escalar vendas.

Por último e, como era de se esperar, o mais importante: vem o time. As pessoas. Venture capital é investir em pessoas, em capital humano, e não em fluxo de caixa ou modelo de negócio. Investimos num time A com um produto B, nunca no inverso, até porque vai ser difícil o produto decidir mudar o time. Quando investimos em companhias como Gympass, Creditas e Olist, seus modelos de negócio eram diferentes do que as tornaram bem-sucedidas. Seus times eram um punhadinho de pessoas além dos fundadores.

Times vencedores vão mudar o modelo de negócio, descobrir novos mercados, entender a real dor do seu cliente e, principalmente, liderar e atrair gente talentosa. O maior ativo de uma empresa, seu real patrimônio e seu diferencial competitivo de longo prazo estão na ca**pacidade intelectual do seu time e na competência da cultura,** que rege esse grupo de talentos, em gerar cooperação e extrair o melhor destas mentes.

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Autoria

Colunista Romero Rodrigues

Romero Rodrigues

Sócio da Redpoint eventures, Co-Fundador do Buscapé, Stanford GSB, Poli-USP. 

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