fb-embed

Empreendedorismo

4 min de leitura

O que aprender com o ecossistema de inovação de Florianópolis

Marcado pela troca de experiências, associativismo da "Ilha do Silício" serve de exemplo para inspirar ambientes colaborativos Brasil afora

Rodrigo Oliveira

29 de Setembro

Compartilhar:
Artigo O que aprender com o ecossistema de inovação de Florianópolis

Empreendedores que queiram expandir seus projetos podem — e devem — observar o que está acontecendo em Florianópolis. A capital catarinense é destaque no Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) 2022, estudo criado pela Endeavor e, nesta edição, produzido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Considerada pelo segundo ano consecutivo como uma cidade atrativa para novos negócios, a "Ilha do Silício" brasileira figura entre as dez melhores na maioria das sete determinantes avaliadas no estudo — ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano (melhor desempenho nacional) e cultura empreendedora. Qual é o segredo do sucesso?

"Nosso diferencial é o espírito comum de fazer o ecossistema crescer e ser de todos", disse Fernanda Bornhausen, conselheira e vice-presidente do conselho deliberativo da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), uma das convidadas do roadshow Ilha do Silício: a inovação made in Florianópolis, promovido por HSM Management em parceria com Localiza Meoo.

De acordo com a especialista, a vocação do município para o empreendedorismo tecnológico é consequência de uma cultura já sedimentada nos EUA e em muitos países europeus: o 'give first' e o 'give back'. "Aqueles que receberam apoio do ecossistema no início da trajetória, mais tarde, retribuem o auxílio por meio de mentoria. É o que funciona no Vale do Silício e o que faz com que as comunidades de startups continuem crescendo", esclareceu.

Fatores de sucesso

Outros fatores ajudam a explicar as razões pelas quais Florianópolis continuou em 2º lugar no ICE — seguida de Curitiba, Vitória e Belo Horizonte. Um deles consiste na aliança entre iniciativa privada, universidades e demais escolas e sociedade civil organizada. "Geralmente, captamos recursos por meio de capital de risco de investidores privados. Entretanto, não abrimos mão do fomento. Muito menos das parcerias com instituições de pesquisa. Essa 'coalizão' é um mérito do ecossistema", avaliou Marcos Buson, sócio-fundador da MOA Ventures e da aceleradora HARDS.

O Instituto da Indústria, inclusive, reforça a importância da cooperação em favor do empoderamento dos agentes. Localizada no Sapiens Parque, no norte da Ilha de Florianópolis, a estrutura de 3,3 mil metros quadrados abriga o Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados e o Centro de Inovação Sesi em Tecnologias para Saúde. O espaço possibilita o desenvolvimento de lotes-piloto e a realização de testes de certificações, mediante supervisão de profissionais, mentores e advisors.

A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) conta, ainda, com a presença da Fundação Certi, que desenvolve projetos personalizados para empresas, governo e terceiro setor no Brasil e no mundo. "É um ecossistema dentro de um prédio. Isso não existe em nenhum outro lugar na América Latina", constatou Buson.

As operações de fusões e aquisições (M&As) também ajudam a acelerar o desenvolvimento por meio da inovação. Graças à estratégia corporativa, é possível aumentar a competitividade e a capacidade de gerar receitas. "É melhor se associar a alguém que entenda do assunto do que tentar criar essa competência. O processo de M&A permite isso. E a inovação vai sendo absorvida naturalmente", certificou Guilherme Tossulino, CEO da Softplan.

box

Maturidade do ecossistema

Para além do esforço conjunto das empresas, a produtividade da economia depende da densidade de startups — o que exige a criação de um ambiente regulatório com taxas e tributos locais atrativos. "O poder público deve facilitar a vida do empreendedor. Tem que reduzir a burocracia ao mínimo", defendeu Marcus Rocha, especialista em ecossistemas e habitats de inovação.

Atualmente, existem dois mecanismos em Floripa para complementar o apoio financeiro direto à inovação. O Programa de Incentivo à Inovação (PII) age concedendo incentivo fiscal a pessoas físicas e jurídicas que estejam em dia com suas obrigações municipais. A Lei Municipal de Inovação, por outro lado, cria mecanismos de estímulo, como chamadas públicas, bolsas de pesquisa e recursos financeiros para projetos empreendedores.

Embora a atuação de agentes públicos seja importante para criar um ecossistema fértil, o associativismo é a principal ferramenta para tal. "O Floripa Conecta é um grande exemplo de união. Assim como o Startup Summit, organizado pelo Sebrae SC, pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e pela Acate, que reúne muitas empresas. Não é só um fazendo: são todos juntos", ressaltou Jussiane Siqueira, fundadora da Inomapi Inovação.

Para o cocriador do Open Innovation Brasil, Alexandre Grenteski, a capacidade de introduzir novos processos, bens e serviços em qualquer tipo de setor é fruto do compromisso com o desenvolvimento local. Qualidade, esta, que os manezinhos da ilha têm de sobra. "A sinergia entre poder público e setor privado gera a arrecadação que, depois, será colocada à disposição das pessoas. É esta cooperação que impulsiona o avanço", argumentou.

Compartilhar:

Autoria

Rodrigo Oliveira

Jornalista na República – Agência de Conteúdo e colaborador da HSM Management

Artigos relacionados

Imagem de capa Um segredo bem guardado das "purpose-first"

Gestão de pessoas

06 Julho | 2024

Um segredo bem guardado das "purpose-first"

As empresas familiares são cruciais para o País por sua contribuição econômica e, nos dias atuais, por carregarem legado e valores melhor do que corporations. Mas isso só ocorre quando está estabelecido o reconhecimento simbólico dos líderes de propósito que se vão...

Luis Lobão

10 min de leitura

Imagem de capa Executivos descrentes, colaboradores confusos e estratégias falhas: é preciso organizar a “casa”

Gestão de pessoas

04 Julho | 2024

Executivos descrentes, colaboradores confusos e estratégias falhas: é preciso organizar a “casa”

A efetividade das estratégias empresariais é frequentemente comprometida pela falta de alinhamento, comunicação e priorização, resultando em descrença e baixa implementação, com apenas 3% dos executivos confiando no sucesso das suas estratégias.

Athila Machado

4 min de leitura

Imagem de capa Como o intraempreendedorismo pode ser catalisador de negócios de sucesso

Empreendedorismo

02 Julho | 2024

Como o intraempreendedorismo pode ser catalisador de negócios de sucesso

Incentivar uma cultura de intraempreendedorismo é essencial para a inovação dentro das empresas. As holdings, como a In8 com a Africandev, demonstram como o apoio financeiro e estratégico pode transformar ideias internas em negócios prósperos, resolvendo problemas operacionais e atendendo demandas de mercado.

André Rubens

2 min de leitura

Imagem de capa Publicidade de duas faces: o jogo de luzes e sombras que pode amadurecer as marcas empregadoras

Empreendedorismo

01 Julho | 2024

Publicidade de duas faces: o jogo de luzes e sombras que pode amadurecer as marcas empregadoras

Há tempos penso na importância da transparência na comunicação de marcas empregadoras e se existem exemplos práticos de que ela compensa. Compartilho aqui um achado do mundo do consumo que pode nos ajudar a buscar essa resposta.

Bruna Gomes Mascarenhas

5 min de leitura

Imagem de capa O Papel da inovação na construção de um RH estratégico

Gestão de pessoas

24 Junho | 2024

O Papel da inovação na construção de um RH estratégico

Líderes de RH enfrentam o desafio de se reinventar para manter relevância e conexão estratégica em um cenário de rápidas mudanças tecnológicas e de mercado. Já pensou que a inovação em cultura organizacional e tecnologia emerge como aliada essencial?

Luciana Leão

4 min de leitura

Imagem de capa Inovação não é sobre criar castelos no ar. É sobre renovar padrões de desempenho

Empreendedorismo

22 Junho | 2024

Inovação não é sobre criar castelos no ar. É sobre renovar padrões de desempenho

A inovação transforma a performance, otimizando processos e modernizando tecnologias. No entanto, durante crises, a inovação é essencial para a prosperidade pós-crise. A estratégia de inovação deve ser clara e contínua, alinhando-se à visão de longo prazo da empresa, como demonstrado pelos CVCs.

Felipe Novaes

5 min de leitura