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Desenvolvimento pessoal

3 min de leitura

Não dê uma de Clark Kent

Não faz sentido distinguir, numa dupla personalidade, vida pessoal e profissional, ainda mais no contexto de pandemia em que o espaço privado virou ambiente de trabalho

Colunista Daniela Diniz

Daniela Diniz

30 de Janeiro

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Artigo Não dê uma de Clark Kent

“Você é um ótimo profissional e uma ótima pessoa”. Quantas vezes você já falou ou ouviu essa frase?  A cada despedida de alguém da empresa, ou a cada voto de sucesso, vira e mexe tem alguém elogiando as duas partes do indivíduo: o lado humano, ou seja, o verdadeiro, o genuíno; e o lado profissional, aquele que demonstra as competências e habilidades no trabalho.

Ranço de uma mentalidade linear em que a vida era dividida claramente em dois pedaços, a privada e a pública. Esse vício de separar o ser humano em duas partes permanece muito atual, apesar da pandemia, de misturarmos cada vez mais os papéis e de estarmos em 2021.

O problema não é usar dois (ou mais) uniformes todos os dias – afinal, desempenhamos hoje múltiplas e diferentes funções na vida que, às vezes, exige realmente uma troca de vestimenta. 

Na minha visão, o risco consiste na criação heterônomos para cada atividade, o que esvazia todo discurso de transparência, autenticidade e, sobretudo, valores que defendemos no ambiente corporativo. 

Autoafirmações mentirosas

Falamos tanto hoje em alinhamento de valores, fit cultural e soft skills, conceitos esses ligados à personalidade e comportamento. Não consigo imaginar a pessoa criando facetas para se encaixar a determinado ambiente. Ou melhor, até consigo, mas acho tão desleal e absurdo quanto mentir no currículo.

O ato de mentir no currículo, aliás, é fruto dessa necessidade de criar personagens com cara de super heróis, que não correspondem ao nosso lado humano. Segundo um levantamento da empresa DNA Outplacement, 75% dos brasileiros costumam distorcer informações no currículo. 

As mentiras mais comuns são as relacionadas à escolaridade, domínio do inglês e tempo nos cargos anteriores. Quem aí não se lembra do caso de Carlos Alberto Decotelli, o “ex-futuro” ministro da Educação que, ao mentir sua titulação no currículo, deixou o cargo cinco dias após a nomeação? 

Esse esforço para parecer melhor ou diferente apenas confirma a crença de que podemos trabalhar com dois perfis: o pessoal e o profissional. A parte pessoal, não minto, nem omito, porque ela não fará muita diferença na minha trajetória. 

Além disso, procuro dizer o mínimo de informações pessoais porque não gosto de “misturar as coisas”. Na parte profissional, preciso contar lá uma história bacana ou dar um jeitinho de parecer mais encantador. 

Não existe dualidade: vida pessoal e profissional se misturam

Essa dupla personalidade não faz mais sentido nenhum hoje. Primeiro, porque a vida é uma só. Eu levo casa para o trabalho e o trabalho para casa. Em tempos pandêmicos, não precisa nem levar. Já está tudo no mesmo lugar. Segundo, porque cada vez mais queremos ouvir histórias de vida e não de carreira.

O que você faz quando não está trabalhando é tão ou mais importante do que o que você faz quando está trabalhando. A partir desse relato, eu consigo extrair um pouco mais do seu momento de vida e conhecer melhor seus valores, sua personalidade, seus sonhos. 

Eu não sei você, mas eu sou jornalista, escritora, diretora de conteúdo e relações institucionais do Great Place to Work, casada com o advogado Luiz Dellore, mãe do Leonardo, são-paulina, criada entre Amparo e Sorocaba, no interior de São Paulo, devoradora de livros, amante de chá e por aí vai. 

Basta me acompanhar nas redes sociais que você vai conhecer um pouquinho de quem sou. Ah, e tem mais: gosto de trabalhar com pessoas incríveis – e não com profissionais incríveis. Garanto que o aprendizado é muito maior e muito mais divertido. 

Criar uma personalidade para o trabalho e insistir em separar a vida em dois pedaços que não se falam não traz benefício nenhum. Não trouxe nem para o Clark Kent que, convenhamos, não conseguia disfarçar tão bem assim. O que dirá para você que não é – ainda bem – nenhum super-homem. 

Ah, e os mais jovens podem procurar no Google quem é Clark Kent.

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Autoria

Colunista Daniela Diniz

Daniela Diniz

Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: Grandes líderes de lessoas, 25 anos de história da gestão de pessoas e Negócios nas melhores empresas para trabalhar, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

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