A visão de futuro de Ray Kurzweil
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Os avanços exponenciais da tecnologia, representados nos avanços de inteligência artificial e de automatização inteligente, têm gerado um paradoxo com relação à empregabilidade dos profissionais das áreas mais automatizadas dos negócios
Alexandre Nascimento
09 de Novembro
Há algum tempo a inteligência artificial (IA) vem ganhando espaço em nossas vidas. Há poucos anos, começou a evoluir exponencialmente, em um ritmo tal que a previsão de superar a inteligência humana está entre 2030 e 2051. Quanto mais inteligente a IA fica, mais encontramos possibilidades para seu uso. Não é de hoje que atividades repetitivas foram automatizadas; a nova onda da automação com IA está nas atividades mais complexas, como o diagnóstico de doenças.
Tal evolução começa a preocupar executivos e profissionais liberais quanto à sua empregabilidade, um receio antes restrito a trabalhadores de atividades mais braçais. Caso sejam adotadas tecnologias existentes hoje, pelo menos 50% das tarefas realizadas em diferentes ocupações já podem ser automatizadas.
Sem contar que, em um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, é uma questão de tempo para as empresas entrarem na nova onda da automação inteligente. Ao combinar a capacidade cognitiva da IA de compreender situações e tomar decisões à capacidade de execução automatizada de tarefas operacionais dos robôs, a automação inteligente tem o potencial de um tsunami para o futuro do trabalho.
Muitos desses robôs, os chamados RPA (sigla em inglês para automação robótica de processos), conseguem emular humanos e interagir com outros sistemas para executar tarefas operacionais, têm uma capacidade de memória e velocidade de processamento muito superiores à humana. Assim, tarefas que demandam interação com o mundo digital podem ser automatizadas por esses softwares.
Paradoxalmente, o progresso da tecnologia está levando a uma dificuldade de preencher postos de trabalho especializados. Há ocupações que ficaram desatualizadas e têm menos ofertas de vagas. Há demanda crescente para profissionais que dominam novas tecnologias, em um volume maior do que pessoas capacitadas. Apenas em 2021, a busca por especialistas em ciência de dados/IA e em desenvolvimento de software para celulares cresceu, respectivamente, em torno de 500% e 600%. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) estima que o setor de tecnologia deve gerar cerca de 800 mil vagas até 2025.
A mudança na natureza do trabalho, no entanto, está criando um paradoxo na preparação dos profissionais.
Em qualquer ocupação, uma pessoa executará diferentes tarefas. Algumas são mais técnicas e precisam de hard skills; outras, de natureza mais humana, demandam soft skills. Por serem mais repetitivas e com fundamentação técnica, com a ajuda de algoritmos é mais fácil reproduzir tarefas que demandam hard skills, o que as torna os principais alvos da automação inteligente.
Não se engane: essa dinâmica afeta inclusive as posições baseadas em hard skills como ciência de dados e IA. Muitas começam a ser automatizadas, há ferramentas que criam automaticamente modelos de IA e outras desenvolvem aplicativos sem a necessidade de aprender linguagens de programação. Mas a demanda por esses profissionais continuará alta por um bom tempo.
E quanto às tarefas que demandam soft skills? Pouco repetitivas e com grande variabilidade na sua execução, na geração e no uso de informações, suas sutilezas geram resultados muito distintos. E isso torna muito difícil reproduzi-las com IA – pelo menos no estágio atual – e são menos suscetíveis à automação.
O que vemos é que, à medida que a empresa avança tecnologicamente, a natureza do trabalho se desloca para atividades que exigem mais habilidades humanas. Ou seja, a transformação digital e a automação inteligente estão aumentando a demanda por profissionais com soft skills bem desenvolvidas. Só que a falta de pessoas com tais habilidades tende a ser ainda maior nas áreas mais automatizadas de um negócio. Não faltam relatos dos RHs sobre a dificuldade de encontrar candidatos com as soft skills necessárias.
Faz sentido. Uma ênfase mais mecanicista acabou permeando e moldando o nosso modelo educacional e a cultura profissional até os dias atuais. E isso levou a uma lacuna no desenvolvimento e aperfeiçoamento de soft skills fundamentais, como a criatividade, a inovação e o pensamento crítico. Exemplos de diferenciais infelizmente escassos em um momento em que organizações e sociedade mais precisam deles.
Ou seja, é preciso um reboot geral. Atualizar sistema de ensino, formação profissional, estruturas organizacionais e de carreiras e modelos de gestão para desenvolver todo o potencial dos diferenciais humanos. Só assim será possível maximizar resultados que podem ser obtidos ao se combinar soft skills com a automação inteligente.
Como mudanças estruturais são em geral mais lentas do que os avanços tecnológicos, quem não está no final da carreira não pode se dar ao luxo de esperar. A profunda mudança atual na natureza do trabalho exige desenvolver o quanto antes soft skills e hard skills que envolvam IA e automação inteligente para garantir a empregabilidade no médio e longo prazos e aumentar suas chances de sucesso.
Artigo publicado na HSM Management nº 154
Alexandre Nascimento
Alexandre Nascimento é um engenheiro empreendedor e professor da Singularity University, apaixonado por inovação desde a infância. Dedica-se à pesquisa científica aplicada e ao desenvolvimento de novos produtos. Tem passagem por prestigiadas universidades e empresas no Brasil, Ásia, Europa e EUA, com dezenas de publicações e patentes.
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