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Liderança

4 min de leitura

Ambidestria: criando tensões paradoxais nas organizações

Garantir a continuidade do negócio e, ao mesmo tempo, um olhar nos horizontes de inovação é uma nova habilidade que deve ser desenvolvida no nível do indivíduo

Lilian Cruz

30 de Julho

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Artigo Ambidestria: criando tensões paradoxais nas organizações

Se por um lado as startups têm como principais características a persistência frente às incertezas do mercado, a experimentação na criação de produtos e soluções, mudanças constantes até encontrarem um modelo de negócios repetível, escalável e sustentável, por outro as grandes empresas, mais tradicionais e maduras, possuem estruturas estáveis, com processos e controles mais estabelecidos, com o objetivo de entregar eficiência e rentabilidade, garantindo a manutenção do negócio.

O ponto em comum que temos observado em nossa experiência trabalhando com os dois perfis de organizações é o dilema da necessidade de se ter, dentro da mesma empresa, elementos distintos de ambos modelos: ao mesmo tempo em que o mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) exige a flexibilidade de uma startup, é preciso ter um modelo de gestão estruturado que garanta as entregas do dia a dia e escalabilidade da gestão.

Então, a pergunta-chave é: como integrar e gerar sinergias para desenvolver este dinamismo, também chamado de ambidestria organizacional?

Temos aqui quatro temas importantes para que esta questão seja melhor compreendida.

1. Cultura

Tudo começa pelos valores organizacionais. Se queremos promover a inovação não podemos valorizar e reconhecer somente a eficiência operacional. Como são os seus valores? Quais comportamentos são direcionados a partir da sua cultura organizacional? Esse é o primeiro passo para alinhar os times sobre o caminho que a organização vai querer seguir.

Vale neste ponto revisar como operam seus modelos de reconhecimento, de promoção, de retenção de talentos. Avalie se os critérios premiam somente uma das competências ou se as duas estão sendo colocadas de forma equilibrada.

2. Estrutura e processos

É preciso promover um modelo de gestão que permita transitar entre os dois mundos a qualquer instante. Algumas organizações separam o time de inovação do time de operação do dia a dia, para um não tirar o foco do outro, mas entendemos que as duas competências devem andar cada vez mais juntas.

A chave da transformação está em ampliar o nosso olhar para além das nossas atividades, passando a compreender também as missões que temos para trazer mais valor cliente. Esta simples mudança de perspectiva traz uma oportunidade enorme para os times evoluírem com o que existe hoje ou inovarem, pegando novos caminhos.

Neste contexto, as metodologias ágeis, que permitem estruturar times flexíveis e multidisciplinares conforme os desafios de negócio, podem ser uma boa alternativa.

Com times auto-organizados, motivados e empoderados para entregar o que é preciso para melhorar a experiência do cliente, é possível reduzir burocracias, hierarquia e todos os processos que nos travam no dia a dia. Ou seja, não existem silos, e sim complementaridade de experiências de pessoas operando juntas com objetivos integrados. Com isso, começamos a solidificar uma cultura mais adaptável às mudanças e aberta à inovação.

3. Governança e liderança

Também é necessário estabelecer um sistema de governança, uma vez que obviamente haverá competição por recursos, com frequência escassos, gerando conflitos e ameaças à viabilidade e execução das inovações.

A clareza de propósito e senso de direção, com um processo de decisão bem estabelecido, ajudam a garantir que a priorização dos investimentos seja feita com critérios bem definidos, equilibrando a sustentação do negócio e exploração de rotas futuras para a inovação.

A liderança tem um papel fundamental, sendo o exemplo de comportamento que a organização quer ver replicado pelos times. Portanto, prepare os líderes para que inspirem e apoiem os times nesse momento de transformação.

4. Mindset de aprendizagem

O que temos visto em muitas organizações é que, apesar do foco em mudanças de estrutura, evolução de métodos e processos e até alinhamento de cultura, pouco se olha para o desenvolvimento do indivíduo orquestrando hard (competências técnicas) e soft skills (competências comportamentais).

A ambidestria vem da habilidade de equilibrar o olhar prático com o olhar intuitivo, do foco em resultado e do foco no cliente. Ou seja, vem do equilíbrio de habilidades e competências que cada um deve desenvolver a partir de um processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento.

Para que isso seja possível, as organizações devem se abrir para um modelo de aprendizagem contínua, sendo uma espécie de “incubadora” para o desenvolvimento contínuo dos seus colaboradores.

Na biologia, as incubadoras são recintos com temperatura controlada, utilizada para o cultivo de microrganismos e para facilitar determinados testes biológicos.

Portanto, o incentivo à cultura de testes, a partir da abertura para formas alternativas de realizar tarefas ou resolver problemas, autonomia de pensamento e tolerância ao erro, é o ponto de partida. Deve-se também dar espaço para a improvisação.

Esforço, foco, planejamento, autoconhecimento e muita vontade são elementos fundamentais para quem deseja se tornar um profissional ambidestro. E quem despertar antes para essa necessidade, certamente será disputado no mercado por empresas de todos os portes e segmentos.

Este artigo foi escrito com a Andrea Dietrich, minha parceira co-idealizadora do canal e podcast Ambidestra, de forma totalmente virtual, utilizando ferramentas de colaboração.

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Autoria

Lilian Cruz

Consultora e mentora em Inovação, Growth e Culture Hacking. Especialista em Transformação Digital, Estratégia de Negócios e Marketing. Fundadora da Zero Gravity Thinking.

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