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Sua empresa vai esperar outra pandemia para mudar?

Muitas tecnologias que estão “salvando” as organizações no contexto atual já estavam disponíveis no mundo pré-Covid, mas recebiam pouca ou nenhuma atenção da liderança

Colunista Adriano Lima

Adriano Lima

27 de Novembro

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Artigo Sua empresa vai esperar outra pandemia para mudar?

Foi preciso o mundo passar por uma pandemia para que muitas empresas dessem conta de quantas coisas poderiam ter feito e não as fizeram. As razões podem ser muitas, indo desde a falta de recursos à falta de ânimo causada pela zona de conforto. Mas o fato é que esse vírus, que ainda se espalha pelo mundo causando dor e sofrimento, escancarou como muitas corporações vivem mais do discurso do que da prática.

E pego aqui um exemplo. Recentemente, uma pesquisa realizada pela AL+ People & Performance Solutions mostrou que 90,9% dos contratantes de grandes empresas utilizaram o modelo de recrutamento e seleção totalmente online durante a pandemia, do início ao fim. Foram entrevistados líderes de 77 grandes companhias que operam no Brasil. E não apenas muitos usaram a prática de contratar alguém à distância como também manifestaram uma boa avaliação sobre ela: 58,4% consideraram a experiência muito boa; 24,7% regular; e 16,9% afirmaram que essa modalidade era excelente. Aliás, ela foi tão marcante que 80,5% ainda pretendem utilizar esse formato remoto depois de a pandemia passar.

Já estamos adaptados. Falta dar os passos

Para algumas empresas, essa prática de recrutamento digital “caiu do céu”. Mas não é bem assim. Vale lembrar que a tecnologia já estava disponível para esse processo antes da Covid-19 ter colocado seu bloco na rua. Tanto é que uma boa parte das empresas, mais precisamente 75,3% dos entrevistados na pesquisa, afirmou já ter

utilizado ou que utilizava o recrutamento remoto em alguma parte de seu processo seletivo. Ou seja, isso indica que a maioria das organizações já estava adaptada às atividades virtuais – e o distanciamento social reforçou que é possível aprimorar e aplicar esse método em diversas esferas do ambiente de trabalho.

Um parêntesis: o que pensar das empresas que consideraram essa tecnologia como uma dádiva, enviada dos céus, para socorrê-las? Só nos resta imaginar em que inferno viviam. E vem mais uma questão

pertinente: por que muitas ações, mudanças ou usos da tecnologia ainda ficavam ou ficam apenas no papel em muitas organizações?

Alguns especialistas estimam que apenas nestes meses do ano, em que fomos impelidos ao home office, avançamos anos e anos no processo de transformação digital. Será que ainda temos de aprender com a dor a mudar tanto nossas vidas quanto as nossas organizações?

Os benefícios da tecnologia aplicada ao processo de recrutamento e seleção já eram bem conhecidos. Além da rapidez e da praticidade, ela permite ainda buscar o talento em qualquer parte do mundo – aliás, o talento mais diverso possível, em função da possibilidade de extração de vieses nas etapas de entrevistas.

Economia de tempo, de dinheiro, possibilidade de maior assertividade na contratação por meio de dados, diversidade. Tudo sempre conspirava positivamente para uma adoção mais intensa e frequente desse modelo. 

Mas o que emperrava? O medo, talvez, de ter seu papel diminuído fez com que muitos líderes ainda teimassem em não olhar para essas ferramentas? O receio de perder o que há de humano nessas primeiras relações tão importantes na jornada de uma pessoa na companhia? Pode até ser, mas devemos lembrar que o mundo mudou. Ou melhor, muda constantemente. A tecnologia vem contribuindo muito para mantermos nossas relações humanas em pé. A questão é como mudar o olhar para isso. É possível não perder a humanidade que existe em nós em meio a bits e bytes. E espero que esse aprendizado seja pelo amor e não pela dor.

A inércia é um inferno corporativo

Voltando aos processos de recrutamento e seleção online, sabemos que ainda pairam alguns desafios, como a pesquisa bem apontou. Alguns bem humanos. Para 64,9% dos entrevistados, por exemplo, era o fato de as conversas por meio de plataformas digitais não permitirem um olhar sobre a linguagem corporal dos candidatos – o que poderia atrapalhar o processo. Para outros, o problema estava mais ligado à tecnologia utilizada e ao grande volume de candidatos.

Não são obstáculos intransponíveis. Temos como vencê-los graças à nossa capacidade extraordinária de adaptação – que é o que vem nos mantendo vivos, firmes e fortes por milhares de anos, provações e outras pandemias. Basta sairmos da zona de conforto e encaramos o novo como o passo seguinte e não como a muralha que o destino impõe.

Quem sabe se, antes da Covid-19, tivéssemos abraçado mais e sem medo a tecnologia, questões como essas, ou desafios como esses, já não seriam menores?

Ainda há tempo para caminhar para esse novo mundo. Se não nos movermos, somos levados por esse tsunami para onde ele quiser, mas se nos dispusermos a dar os passos teremos mais chances de aportarmos onde desejamos. A inércia indica que estamos numa espécie de inferno corporativo, esperando uma tábua de salvação. 

Como sua empresa vai se mover? Ou ela vai esperar outra pandemia para fazer tudo aquilo que já poderia ter feito e deixou de lado porque não acreditou na velocidade das mudanças?

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Autoria

Colunista Adriano Lima

Adriano Lima

Global CHRO da Minerva Foods e Board Member das startups DataSprints e Leo Learning. Sócio Fundador da AL+ People & Performance Solutions, empresa que atuo como Coach Executivo de CEOs formado pela Columbia University, Palestrante e Escritor. Conselheiro de Empresas certificado pelo IBGC, Psicólogo com MBA pela Universidade de São Paulo e Vanderbilt University com formação em RH Estratégico Avançado pela Michigan University. Executivo sênior com passagens em posições de Liderança Global e América Latina de áreas de Pessoas, Cultura, Estratégia e Atendimento ao Cliente em empresas como Neon, Dasa, Itaú Unibanco e MasterCard. Professor de Gestão de Pessoas do Insper e Professor convidado do MBA da FIA/USP. Colunista das revistas HSM Management e da Época Negócios.

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