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Contagem regressiva

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O futuro tem dois cisnes: um negro e um verde

O pioneiro da sustentabilidade fala de seu novo livro, analisando o estágio atual das empresas nesse aspecto, a onda ESG e a economia verde que pode emergir de tudo isso

Adriana Salles Gomes e Fábio Congiu

16 de Dezembro

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Artigo O futuro tem dois cisnes:  um negro e um verde

5. O que significa o cisne verde, tema de seu novo livro?

O cisne é um símbolo de transformação há muito tempo. Meu novo livro conta a história da transformação acelerada do capitalismo – que está atingindo um ponto de inflexão crucial nesta década de 2020. O resultado disso será um mundo de colapsos do cisne negro, como a emergência climática e as espécies em extinção, ou de soluções revolucionárias do cisne verde. O mais provável, é claro, é uma mistura dos dois, em constante mutação.

Os cisnes verdes são desdobramentos positivos para o mercado antes considerados altamente improváveis – senão impossíveis. Para a maioria das pessoas, eles também chegam mais ou menos do nada, como os cisnes negros. E eles podem ter um impacto positivo profundo no resultado triplo de criação de valor econômico, social e ambiental. Na melhor das hipóteses, serão simultaneamente restauradores do meio ambiente, socialmente justos e economicamente inclusivos.

No início, muitos inovadores e empreendedores do tipo cisne verde tendem a ser rejeitados de imediato, como o Patinho Feio no conto de Andersen. Os desajeitados filhotes de cisne (startups) se transformam em algo totalmente diferente. Os críticos e os céticos só entendem quando a ave cresce. Felizmente, as soluções cisne verde – incluindo novas mentalidades, tecnologias, modelos de negócio e estruturas de política – já estão trabalhando para resolver os desafios aparentemente impossíveis de hoje. Mas precisam de ajuda dos patos para atingir o ritmo e a escala necessários. É por isso que criamos o Green Swans Observatory, para procurar, identificar, analisar e, ao longo do tempo, apoiar Patinhos Feios que prometem avançar nas trajetórias de mercado cisne verde.

4. Você até cita Dickens no novo livro: “Esse será o pior dos tempos para aqueles que se apegarem à velha ordem, mas possivelmente o melhor dos tempos para aqueles que aceitarem e liderarem a nova ordem”. Mas o que você pensa dessa onda ESG? Muitos temem ser mais um modismo...

Acho que essa tendência, com o investimento de impacto, teria atingido um ponto de inflexão, ou de partida, na década de 2020 de qualquer forma, mas a pandemia acelerou esse processo de forma brutal. As pessoas acordaram para o fato de vivermos num mundo onde tudo está cada vez mais interligado e os fundos de governança ambiental, social e corporativa tiveram um desempenho melhor que o esperado. Mas, mesmo que todos os fundos de investimento do mundo operassem seguindo essa nova governança, isso ainda não seria suficiente. Precisamos de uma mudança exponencial e cada vez mais sistêmica, não incremental.Os sistemas políticos atuais não são adequados para esse propósito, mas o choque da pandemia mostrou que, se a pressão for forte o bastante, as pessoas conseguem, sim, mudar rapidamente.

3. O ESG washing é tendência? Obviamente negativa, claro.

O ESG washing, esse faz-de-conta, será cada vez mais difícil. Já há até plataformas como o InfluenceMap, que rastreia o que as empresas fazem em termos de lobby nos bastidores – e precisaremos muito mais dessa transparência e dessa responsabilidade aplicadas. Os relatórios da empresa continuarão sendo importantes, é claro, mas terão de ser feitos de acordo com novos padrões convergentes e os dados produzidos precisarão ser processados com a ajuda de inteligência artificial. As pessoas exigirão acesso instantâneo a uma gama ampla de informações e à inteligência de mercado. Quem não fornecer isso vai perder clientes e investidores. Em muitas regiões, os relatórios de sustentabilidade serão tratados com a mesma seriedade que os relatórios financeiros. E os dois convergirão; vão se tornar a mesma coisa.

2. Como será a próxima década?

Estamos entrando no que chamamos de “Década Exponencial” – e a mudança que antes parecia impossível se tornará possível e, eventualmente, inevitável. Minha expectativa é ver um Grande Pânico do Carbono passando por todos os mercados financeiros dentro de uma década. Vamos nos dar conta de que poderíamos ter agido a tempo sobre o clima e questões relacionadas, mas não o fizemos. As pessoas correrão para sair da economia do carbono – e todas farão isso juntas. Meu conselho é: saia antes – agora. Uma empresa de energia renovável como a NextEra Energy está ultrapassando, em valor de mercado, a ExxonMobil, que já foi a empresa mais valiosa do mundo.

1. Como o Brasil, dono da Amazônia, deve agir?

O Brasil está claramente decidido a destruir a Amazônia no momento. Os efeitos hidrológicos já estão sendo sentidos até na Argentina. Mas o Brasil tem uma empresa como a Natura, que eu amo, e enxergo como líder mundial na área de sustentabilidade. E é empolgante ver, no mundo todo, que um número grande de empresas esteja se tornando empresas B, até o CEO de uma companhia como o Walmart está se comprometendo a fazer um negócio regenerativo. Agora, de novo, isso não será suficiente, nem se todas as empresas fizerem o mesmo. Precisamos de governos com políticas e investimentos de longo prazo, algo que os regimes populistas não conseguem oferecer – e incluo aí o governo do meu próprio país, o Reino Unido. Novas formas de Green New Deal, como o Green Deal da União Europeia, de € 1,82 trilhão, priorizarão um misto de inclusão social e investimento verde para impulsionar recuperações verdadeiramente sustentáveis. Daí virá o sucesso. A regeneração será a chave para o sucesso futuro no âmbito econômico, social, ambiental e, é claro, político.

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Autoria

Adriana Salles Gomes e Fábio Congiu

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