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Lady Driver: os próximos passos desta alternativa de transporte dedicada às mulheres

11 de Outubro

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Artigo Lady Driver: os próximos passos desta alternativa de transporte dedicada às mulheres

Em 2016, Gabryella Correa era mais uma usuária de aplicativos de transporte em uma corrida corriqueira. Contudo, uma experiência traumática levou-a a buscar uma solução não apenas para a sua dor, mas para a de milhares de mulheres. 

Ela foi assediada pelo motorista do app, e sentiu na pele a necessidade de ter uma alternativa segura de transporte para o público feminino. Nascia aí a Lady Driver, uma plataforma que reúne apenas mulheres motoristas e passageiras — homens só podem usar o serviço acompanhados por uma mulher.

A HSM Management conversou com Gabryella sobre o atual estágio da Lady Driver, planos de expansão e desafios de negócio enfrentados. Abaixo, leia a entrevista na íntegra!

A Lady Driver é uma iniciativa importante para mitigar o assédio e violência contra a mulher. Você pensa em expandir essa batalha para outras frentes, como por meio da oferta de outros serviços que sempre foram ofertados para todos e oferecendo uma alternativa exclusiva para mulheres? Ou mesmo por meio de parcerias com outras empresas que compartilhem da visão da Lady Driver?

Hoje nós estamos focadas no core business da Lady Driver, que são corridas seguras tanto para as passageiras quanto para as motoristas. Então para que a gente consiga trazer mais mulheres para dirigir, precisamos oferecer segurança. 

Temos um diferencial muito grande em relação aos outros aplicativos, que vai além de ser um app somente para mulheres: toda passageira que entra na Lady Driver passa por um cadastro rigoroso, incluindo a verificação na polícia federal e receita federal se os dados dessa passageira são verdadeiros, o que aumenta bastante a segurança das viagens. Pretendemos continuar trabalhando dessa maneira. 

Além disso, queremos fazer parcerias com outras empresas que também se preocupam com a igualdade de gênero. Contudo, ainda não há planos concretos para abrir outras frentes. 

Enquanto a Uber anunciou recentemente mais um prejuízo bilionário, a Lady Driver já atingiu lucro operacional. O que você considera decisivo para essa diferença na saúde financeira das duas empresas? Por exemplo, operação, precificação, investimento, nicho etc? Ou outro fator?

A Lady Driver ainda vive de investimento justamente para crescer. Da mesma maneira que a Uber, ela acaba tendo um prejuízo por conta dessa expansão que faz. A Uber está crescendo ainda no mercado, criando novos produtos (como nos últimos dias anunciaram o uberAIR, seu carro voador), então são investimentos muito altos que ela faz e que acarretam em um prejuízo. Contudo, futuramente ela irá dominar o mercado se continuar com esses projetos. 

No caso da Lady, é a mesma coisa. Como também queremos expandir o serviço ainda mais aqui em São Paulo, além de levá-lo para outros lugares no país, ainda estamos fazendo captação de investimento. Também acreditamos que a Lady Driver tem espaço não somente no Brasil, mas em outros países da América Latina. Hoje somos o maior aplicativo de transporte feminino do mundo, segundo o jornal Financial Times, que fez uma pesquisa global sobre o tema.

Em que estágio de maturidade está a empresa?

A Lady Driver tem dois anos e meio. Surgiu em 2016 e foi lançada em 2017 com 1.800 motoristas em São Paulo e Guarulhos também. Atualmente temos mais de 55 mil motoristas cadastradas e mais de 1 milhão de downloads de passageiras. 

Mas ainda somos uma empresa jovem, e necessitamos de investimento para conseguirmos fornecer um serviço seguro e diferenciado tanto para as motoristas como para as passageiras. Além disso, para levarmos o serviço com excelência para outras capitais, estamos buscando o investimento necessário. Finalizamos captação de R$ 2,5 milhões através do equity crowdfunding e buscamos mais recursos com investidores anjos e alguns fundos de investimento.

O público-alvo do Lady Driver já é naturalmente nichado. Contudo, dentro desse público, que ainda é amplo, vocês têm algumas buyer personas?

Sim. O público da Lady é nichado, mas é um nicho de 50%, então ainda é muito grande. Temos algumas personas que variam de acordo com a idade das mulheres, pois ao longo da vida elas têm necessidades diferentes.

Atendemos jovens que estão na faculdade, vão para festas e saem a hora que querem com a roupa que querem. Atendemos mulheres que estão no mundo corporativo e que precisam ficar até mais tarde trabalhando. Atendemos mulheres que são mães e querem um transporte mais seguro e amável para a família. Atendemos senhoras, que são um público forte nosso. Então nossas personas cobrem todas as fases da vida de uma mulher. 

Você acredita que possam surgir mais iniciativas como a Lady Driver, mas focadas em atender outros critérios de diversidade, como orientação sexual?

Sim, acredito que possam surgir outras iniciativas focadas em públicos dentro da necessidade da diversidade. Mas a Lady Driver nasceu por uma necessidade de a mulher precisar de mais segurança. São Paulo é uma cidade insegura, nós mulheres muitas vezes não somos respeitadas simplesmente pelo que vestimos, horário que saímos ou se bebemos.

Então são problemas primordiais que nós estamos resolvendo na vida dessas mulheres, e por isso eu acredito que se existirem pessoas especializadas para entender a necessidade de públicos da diversidade, como orientação sexual, eu acredito sim que possam surgir mais iniciativas como a Lady Driver.

Quais foram os maiores desafios de negócio até aqui com a Lady Driver?

Empreender no Brasil é muito difícil. Mas eu vejo que o maior desafio é a captação de investimentos, por a nossa empresa ser uma startup de mulheres e com uma CEO mulher. Pesquisas já mostraram que é mais difícil conseguir investimentos em casos como o da Lady Driver. 

Como resolvemos um problema específico das mulheres, e a grande maioria dos investidores são homens, explicar para eles a necessidade da mulher torna-se algo bem complexo. Alguns acabam entendendo por pensarem na mulher, na filha, na mãe, e realmente faz sentido. Mas outros homens nem sequer se colocam no lugar de uma mulher ou imaginam a necessidade de segurança que ela necessita durante o transporte. 

Mas temos um grande número de mulheres para passar o propósito da Lady Driver e fazer de uma forma que eles acabem entendendo a importância do aplicativo na sociedade.

Qual conselho você daria para outras mulheres que, assim como você, têm tentado empreender a partir de uma dor ou necessidade do gênero?

Meu conselho é: se você teve alguma dor ou algum problema que conseguiu identificar e que não está sendo resolvido, faça uma pesquisa, avalie se esse problema atinge um grande número de pessoas, se ele tem potencial para ajudar uma grande parte da população, estude sobre o mercado e faça um bom plano de negócio. 

Deixe a parte financeira bem estruturada, tenha uma reserva, porque empreender no Brasil reserva muitos desafios e o índice de mortalidade das empresas é muito alto. Prepare-se para enfrentar as dificuldades diárias e o sucesso virá aos poucos. Quando você trabalha com algo que realmente acredita, o resultado vem.

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