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Coluna: Alexandre Waclawovsky

7 min de leitura

Existe um MMA de gerações nos escritórios?

É preciso entender o caldo multicultural e geracional sem saudosismos; isso implica entender, por exemplo, um fenômeno como a influencer chinesa Zheng Xiang Xiang

Colunista Alexandre Waclawovsky

Alexandre Waclawovsky

26 de Dezembro

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Artigo Existe um MMA de gerações nos escritórios?

O episódio #60 do podcast “O lado I”, conduzido por mim e por Eduardo Bendzius, reuniu epresentantes de três gerações diferentes para uma conversa aberta sobre como cada geração encara temas relacionados a trabalho e vida pessoal. Adriele Marchesini, jornalista, representou a geração Y (os millennials); Bruno Koehler, empreendedor, personificou a geração Z. Eduardo e eu fomos a geração X presente. Existe um conflito entre gerações na prática? Essa foi a pergunta a que todos tentamos responder, e o episódio acabou sendo intitulado “MMA das gerações”.

Devo dizer que não houve nenhuma pretensão científica na iniciativa; não buscamos qualificar precisamente cada geração. Quisemos, isto sim, escutar com atenção, curiosidade e sem julgamento as reflexões comportamentais que os representantes de cada geração faziam da sua turma e/ou das demais, ressaltando semelhanças e diferenças.

A pergunta “Existe um conflito entre gerações na prática?” foi respondida na lata pela Adriele: “Sim!”. Mas a resposta foi seguida da ponderação de que onde existem relações humanas há sempre algum conflito. Afinal, nos conectamos ou desconectamos através da comunicação ou pela falta dela e é a “falta de comunicação”, segundo Adriele, que tem causado tanto desentendimento.

Arrisco dizer que hoje, em todas as empresas, há entre os colaboradores representantes de três ou quatro gerações diferentes. E que esse caldo geracional inédito tem sido bastante desafiador. Mais ainda: não existe uma guia de como solucionar esse desafio. Ele é novo, real e demanda, especialmente, uma liderança com mais people skills e disposta a agregar diferentes pontos de vista.

Repare que isso é inédito na história. Se antes as gerações se transformavam a cada 30 ou 40 anos, hoje a cada 10 anos surgem novos contextos e novas gerações, movidas por desejos e com hábitos diferentes.

Como geração X, por bastante tempo, convivi apenas com baby-boomers (pessoas nascidas até 1964) e pessoas da minha própria geração. Aos poucos foram chegando os millennials nas empresas, mas rapidamente a geração Z apareceu e a Alpha vem por aí. Esse mix é tão interessante como desafiador, afinal precisamos conviver e trabalhar juntos, enquanto tentamos entender uns aos outros.

Num exercício hipotético de tirar uma foto do mix geracional nas empresas, vamos ver cada vez menos baby-boomers (pessoas nascidas até 1964), uma população ainda grande da geração X (nascidas entre 1965 e 1984), rumo a cruzar a barreira dos 50 anos e grande parte em posições de liderança ou gestão, um número maior ainda de millennials ou geração Y (nascidas entre 1985 e 1999) assumindo as posições de liderança deixadas pelas gerações anteriores e uma população da geração Z que cresce exponencialmente (nascidas entre 2000 e 2009) entrando nas empresas e especialmente nas startups.

Especialistas de diversas áreas têm falado sobre as diferenças psicológicas e comportamentais das diferentes gerações, e de como devemos lidar e motivar cada uma delas, mas, a meu ver, faltava um espaço onde juntássemos essas gerações numa mesa para conversar abertamente e estabelecer a conexão real e cara a cara, da qual a Adriele mencionou sentir falta.

No meu caso, ler diversas entrevistas desses especialistas não ajudou muito a liderar as gerações mais novas – especialmente em startups. O que li e escutei acabou me soando muito conceitual e teórico. Parece que faltava ouvir o que cada geração pensa, dito por um ou uma representante real de cada uma delas. Essa foi nossa intenção e o resultado foi incrível. Convido você a ver ou escutar esse papo.

Ninguém certo, ninguém errado

Uma das reflexões feitas ao longo da conversa foi que cada geração possui um conjunto de referências particulares e, se não paramos para entender as referências alheias e os outros não param para entender as nossas, gera-se o conflito e a polarização.

Vivemos tempos de grande alcance tecnológico e as gerações mais novas como a Z tem outra velocidade e expectativa de tempo para as coisas. Tudo precisa ser imediato, há menos tolerância para imprevistos e menos paciência para esperar, quase o oposto das pessoas da geração X.

Será que tem alguém certo ou errado sobre essa questão? Minha resposta é não, não e não. Fomos criados, educados e vivemos mundos e contextos totalmente diferentes, logo como julgar alguém que usa óculos e enxerga o mundo diferente do meu? Fui apresentado ao mundo digital ao longo da minha vida e carreira, enquanto a geração Z nasceu num mundo digital.

Esse caldo multicultural e geracional é real e não vai mudar, acredite! E não vale puxar aquele ar saudosista da gaveta. Viver de passado, como dizia um antigo mentor. é sofrer duas vezes “uma porque deu saudade de lembrar e outra ao realizar que o mundo não será mais assim”, logo precisamos reaprender, adaptar ou iremos criar e fortalecer um mundo tribal e hostil.

Segundo a Adriele, “todo mundo quer ser entendido, mas ninguém quer entender o outro.”, o que concordo totalmente, mas fazer o exercício de baixar a guarda e escutar é desafiador. Vai demandar muita escuta, acolhimento e alinhamento. Bom, ninguém disse que seria fácil, afinal não existe manual de instrução para problemas novos.

Já comentei em artigos anteriores que vivemos numa sociedade e numa cultura jovem-centristas, em que a experiência é, por vezes, considerada obsoleta (o mundo mudou, isso não serve mais) e a inovação e criatividade são características da juventude. Não poderia discordar mais dessa premissa e os episódios de etarismo nas empresas vêm se empilhando dia após dia.

Conheço pessoas com mais de 50 anos muito mais abertas ao novo que pessoas com 20 anos, presas em suas convicções e sem a experiência prática, que vai trazer uma maturidade necessária e o contrário também. Note as reflexões do Bruno, com 24 anos, no episódio.

Esse mix geracional não é nem será um jogo de uma geração OU outra é melhor, mas sim sobre o poder da combinação do potencial que uma geração E a(s) outra(s) podem alcançar.

Vale um alerta aqui e falo isso como representante da geração X, que é sempre convidada a entender e a saber lidar com a forma de pensar e agir das gerações mais novas. Não tenho visto o mesmo convite ser aceito pelas gerações mais novas. Então, convido você, que está lendo este artigo, a refletir sobre o ponto acima (de trocar OU por E).

Novamente reforço a reflexão de termos sido criados ou construídos em contextos diferentes, logo cada geração vai olhar a outra com suas lentes. Meu convite a todos é o de entender antes de “cancelar”, que tem sido uma palavra usada para representar “isolar, ignorar, falar mal, desconsiderar”, e que dificilmente é combinada com diálogo.

O tema vai ganhar ainda mais atenção

No caderno oportunidades do jornal Estado de São Paulo do último dia 1º de dezembro, uma matéria com o título “Líderes tem dificuldades com gerações diferentes”, que entrevista Mari Achutti, CEO da Sputnik, reforça a atenção que esse tema vai ganhar.

E no podcast ficou claro o porquê. Bruno Koehler trouxe (em tom confessional) a ansiedade e velocidade que sua geração tem em ter uma opinião sobre qualquer tema, por exemplo. Se antes éramos demandados a ser especialistas ou ter um ponto de vista sobre a covid-19, passamos a ser especialistas em política nas eleições, na guerra na Ucrânia e atualmente no conflito entre Israel e Hamas. “Você já tentou não ter uma opinião?”, provocou ele.

Essa velocidade de consumo, somada à abundância de conteúdo digital, gerou um trade-off muito perigoso: trocar a profundidade de conhecer muito sobre poucos temas por conhecer pouco sobre muitos temas.

Vivemos tempos em que nos pautamos por manchetes. Jornalistas desanimados com a falta de leitores testam escrever em bullet points ou usar mais imagens e vídeos curtos do que textos. “Se eu lanço um tema e meu círculo de amigos também apoia essa mesma tese, então está feito. Formo uma opinião sobre qualquer assunto em tempo recorde”, disse Bruno.

Isso está se espalhando. Repare em nosso comportamento – existente em todas as gerações – de buscar cada dia mais o “mastigado” versus o conhecimento e entendimento em profundidade. Não é à toa que as polarizações se proliferam. Buscamos uma tribo com opiniões semelhantes para chamar de nossas. E mesmo sem entender as coisas direito, nós a defendemos.

O desafio doparminérgico

O TikTok impulsionou a quantidade de conteúdo dopaminérgico. Na China, uma empresa de varejo usou a influenciadora Zheng Xiang Xiang para vender seus produtos na plataforma com demonstrações de três segundos. Acredite, ou melhor assista, porque é difícil de acreditar sem ver. Resultado: sucesso de vendas.

Acredito que se você assim como eu tem mais de 50 anos vai ficar espantado(a), mas se tiver 20 anos vai achar o máximo. Leitura e execução perfeita para o público-alvo.

LOUCO? NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ OU EU PENSAMOS A RESPEITO. Fato é que o mundo segue em evolução constante, logo precisamos aceitar que esse caldo geracional nos convida a entender melhor contexto e comportamentos a partir da perspectiva dos outros. Desafiador, não?

Crédito da imagem: Shutterstock, com inteligência artificial

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Alexandre Waclawovsky

Alexandre Waclawovsky | Wacla

Alexandre Waclawovsky é fundador e CEO da senior 45!60, aceleradora de startups e atua no modelo de CMO ou partner as a service. Também é autor do livro Invente o seu lado I - A arte de inovar numa época de incertezas