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Tecnologia e inovação

5 min de leitura

[EVENTO] Transformação digital e impacto nos modelos de negócio

Digitalização e sustentabilidade podem gerar novos modelos de negócio se as empresas tiveram como propósito a criação de cadeia de valor para os clientes

Luís Gabatelli

03 de Setembro

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Artigo [EVENTO] Transformação digital e impacto nos modelos de negócio

A transformação digital pode gerar inovação nos modelos de negócio? A pergunta complexa e objetiva foi o foco do webinar Transformação Digital: modelos de negócios de inovação, realizado no dia 2 de setembro pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).

Na esteira das mudanças contemporâneas, o Manual de Oslo, um dos principais guias de inovação e editado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), classificou a inovação em modelos de negócio como uma referência de inovação global em sua quarta e última edição (2018).

A compreensão do conceito, no entanto, é mais ampla do que parece numa primeira leitura. Para a OCDE, esse tipo de inovação precisa estar articulado com a proposta de criação de cadeia de valor que uma empresa é capaz de estruturar de acordo com as suas entregas e o relacionamento com os seus consumidores.

E, para gerar essa cadeia de valor, a sustentabilidade e a transformação digital são pontos fundamentais para orientar os investimentos das organizações. São consideradas, atualmente, as principais forças de inovação dos modelos de negócio para o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ruy de Quadros Carvalho, doutor em economia do desenvolvimento pela University Of Sussex.

No evento, Carvalho explicou que as duas – transformação digital e sustentabilidade – precisam caminhar juntas nos processos de inovação em modelos de negócio. Isso porque, enquanto a primeira ocorre de maneira rápida e difusa, a sustentabilidade é mais lenta pois provoca mudanças profundas na cultura e na cadeia de valor das organizações.

Investimento em transformação digital

Fenômeno amplo, a transformação digital incorpora desde a nanotecnologia até a construção de um aparato digital capaz de capturar, monitorar e analisar milhões de dados extraídos de inúmeras soluções, em especial de inteligência artificial, computação em nuvem e internet das coisas (IoT).

Nesse sentido, a relação entre as tecnologias da indústria 4.0 e a inovação nos modelos de negócio está na capacidade das empresas conseguirem renovar ou criar proposta de valor para os clientes. Em outras palavras, as organizações podem inovar em seus modelos de negócio ao investirem e utilizarem tecnologias disruptivas em praticamente todos os seus processos internos e externos, tendo como objetivo gerar valor de curto e longo prazos para os seus consumidores.

“Diferentemente de pensar em inovação tecnológica de um produto e de processos, a transformação digital tem um potencial mais amplo. Ela tem o poder de integrar, em um modelo de negócio inovador, a digitalização de produtos, serviços, processos do negócio, relações com os clientes e parceiros, além da própria organização e a cultura da empresa”, destacou Carvalho.

Olhar estratégico da sustentabilidade

Além da transformação digital, como identificar o potencial da sustentabilidade na hora de aplicar inovação num modelo de negócio? Ocorre que vários elementos da transformação digital estão integrados com o conceito e com as práticas de sustentabilidade.

A transformação digital favorece, por exemplo, a desmaterialização de milhares de bens de consumo, tendo em vista que as empresas e os clientes priorizam o uso no lugar da posse de serviço e produtos. Também passaram a acessar bens que antes estavam na forma física e hoje ou já foram ou estão sendo digitalizados.

Outro exemplo é a digitalização do rastreamento de produtos, embalagens e outros materiais, além da aplicação de soluções inteligentes nos processos de reciclagem e remanufatura, fortalecendo a economia circular.

E essa relação com a sustentabilidade vai além. A transformação digital está diretamente vinculada com iniciativas de experimentação rápida, aplicando ativos sustentáveis em P&D e em manufatura aditiva (impressão 3D), por exemplo.

Referências de inovação

No Brasil, há diversos exemplos de empresas que conseguiram somar sustentabilidade e transformação digital em seus produtos e processos e, a partir disso, estão começando a gerar modelos de negócio inovadores. A Votorantim, por exemplo, investiu na digitalização de processos discretos e soluções tópicas. A Vale, por sua vez, procurou digitalizar processos e produtos mais críticos, visando a sustentabilidade e a segurança.

Por outro lado, Petrobras, Natura e Embraer foram mais ambiciosas na proposta de inovação dos modelos de negócio, indo além da digitalização de produtos e processos, incorporando iniciativas 100% digitais e prioritariamente sustentáveis em seus ecossistemas de negócios.

Do ponto de vista de maturidade desse tipo de proposta, algumas empresas brasileiras e internacionais são referências: Weg, Grupo Fleury e Bosch. “Essas empresas estão num estágio em que geração de novos modelos de negócio estão incorporadas na estrutura, na forma de atuação, pois os modelos foram testados e estão gerando produtos”, afirmou Ruy de Quadros Carvalho.

Caminhos da excelência em inovação

Embora não haja uma regra para que empresas possam alcançar o mesmo nível de inovação da Bosch, Weg e Grupo Fleury, o pesquisador da Unicamp apresentou um tripé que pode servir como guia para que as organizações reavaliem seus modelos de negócios a partir da perspectiva de transformação digital e sustentabilidade.

1. Desenho organizacional específico

Levar em consideração a criação de um desenho organizacional direcionado especificamente para a inovação do modelo de negócio. A Embraer, por exemplo, decidiu criar spin-off e a Bosch montou um hub global com foco em transformação digital e ecossistema de startups.

2. Engajamento corporativo com startups

O relacionamento mais próximo e construtivo com startups é outro elemento da inovação em modelos de negócio. Os processos de inovação aberta podem ocorrer por meio de investimento em corporate venture capital, venture builder ou com auxílio de incubadoras internas ou externas.

3. Apoio e envolvimento do board e c-level

Por fim, a direção da empresa precisa ter uma visão clara, tanto do líder quanto do conselho de administração, sobre a geração de um modelo de negócio inovador, sustentável, digitalizado e gerador de valor para os consumidores.

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Autoria

Luís Gabatelli

Subeditor de digital para HSM Management e MIT Sloan Management Review Brasil.

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