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Intraempreendedorismo

4 min de leitura

Dois erros comuns ao intraempreender

Trocando experiências sobre como construir inovação com sucesso

Colunista Alexandre Waclawovsky

Alexandre Waclawovsky

11 de Janeiro

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Artigo Dois erros comuns ao intraempreender

Ao longo de 25 anos atuando como intraempreendedor, quebrei muito a cara tentando emplacar novos projetos, inovações e negócios. Sim. Começo com essa confissão já na lata.

Intraempreender é um perfil e não um cargo, assim um(a) intraempreendedor(a) será uma pessoa inquieta e inconformada por natureza. Outra característica, muitas vezes incompreendida, por quem não tem essa vocação é a resiliência inquebrável, para não se deixar abalar em colecionar nãos, que com o tempo se transformam no combustível de estar no caminho certo.

Gosto de repetir que intraempreender é sinônimo de desconforto, afinal você será aquele(a) a propor algo novo, seja uma evolução ou transformação, logo, a reação instintiva da organização será pedir mais informações, reduzir o seu ritmo ou até inviabilizar a sua iniciativa ou projeto.

Um dos erros mais comuns que cometemos ao intraempreender (sim, eu cometi algumas vezes) é o de propor uma transformação muito rápida ou drástica, que eleva a níveis estratosféricos o desconforto das pessoas e da organização.

Em uma dessas tentativas, junto a um grupo de 3 outros intraempreendedores propus revolucionar uma prática que a empresa, onde trabalhava, mantinha há 40 anos. Sim, a prática já não funcionava mais e existia o desejo de uma mudança urgente, mas ela veio de forma tão grande, rápida e abrangente, que a direção da empresa simplesmente bloqueou o projeto.

E por mais que tentássemos explicar e argumentar ou trazer exemplos de fora formou-se uma trincheira de resistência impenetrável, que inviabilizou o projeto e frustrou a toda equipe envolvida.

Resultado: a iniciativa não foi aprovada e deixou em toda a equipe do projeto um sabor azedo de baixa tolerância ao risco, o que afetou negativamente futuros projetos.

Aprendizado: em uma nova oportunidade, com o mesmo desafio, teria fatiado essa iniciativa em fases menores ou doses homeopáticas, usando a linguagem popular e com um cronograma mais lento. Assim, o choque não teria sido tão grande e poderíamos ir acostumando a organização a entender e aprender com pequenas mudanças e conseguir adaptar-se a elas.

O segundo erro comum vou apelidar de “teimosia cognitiva” do(a) intraempreendedor(a), que ao se apaixonar por uma ideia, a defende com unhas e dentes (o que é bom), mas tem, por vezes, extrema dificuldade para aceitar críticas e opiniões (o que é ruim).

Quando trabalhei em uma grande multinacional de bebidas, descobrimos não existir um guia com curadoria de bares e restaurantes em um país da América Latina. Ser pioneiro em trazer um serviço digital assim para aquele país encaixava muito com o posicionamento da maior marca daquele mercado. Investigando outros mercados e soluções encontramos um serviço (hoje seria uma startup) de grande sucesso entre bares, restaurantes e especialmente entre as pessoas, que comentavam as suas experiências e ajudavam outras a tomar decisões sobre onde ir e o que consumir (hoje, uma solução assim parece até trivial, mas estávamos em 2008).

Esse projeto foi apresentado com tamanha convicção que as objeções ou críticas, mesmo construtivas, foram ignoradas. Uma delas era a diferença da tecnologia disponível na América Latina versus no mercado de onde a ideia havia sido espelhada e a outra era o investimento necessário para sustentar esse serviço ao longo do tempo, em um mercado, ainda não habituado a esse tipo de serviço.

Recursos foram reunidos (capital humano e financeiro) e mesmo com os indícios, cada vez mais claros, que as objeções estavam se confirmando, ao longo do projeto, trabalhamos dias e noites durante quase 1 ano, culminando em uma grande cerimônia para a imprensa.

Resultado: o serviço foi muito bem recebido, mas a tecnologia era instável, as pessoas não estavam ainda habituadas a se expor deixando comentários (hábito depois popularizado pela Amazon) e o capital financeiro não era suficiente para trazer bares e pessoas para usar o serviço. Em apenas 6 meses todos os avisos foram sendo confirmados na prática e no final do 1º ano o serviço foi descontinuado, por falta de verba para um 2º ano.

Aprendizado: a inquietação e a convicção são duas qualidades vitais para um(a) intraempreendedor(a), porém, hoje eu seria menos inabalável em minhas crenças e mais desconfiado sobre minhas convicções.

Explico. As paixões nos levam a ignorar alguns sinais e avisos, que mesmo positivos, nos soam como críticas e potenciais sabotagens (ok, às vezes são mesmo).

Acredito que os(as) melhores intraempreendedores(as) operam com a mentalidade de um cientista, ou seja, desapegados das certezas que os limitam. Como bons cientistas, estão sempre validando suas hipóteses, curiosos sobre novas possibilidades e novos dados que podem surgir a qualquer momento e fazer com que aquele projeto precise ser recalibrado, assim como nosso pensamento e convicções.

Vivemos em tempos de aceleração e profusão de oportunidades, mas lembre-se que nós (sim eu e você) somos sensíveis a mudanças bruscas. Por mais que os discursos sejam de grandes transformações, as pessoas querem e precisam ser conduzidas pela mão, ganhar conforto e, logo, confiança.

Para terminar, deixo uma frase do Adam Grant, autor de vários livros, como Pense de Novo – o poder de saber o que você não sabe, da Editora Sextante: “se conhecimento é poder, saber o que não sabemos é sabedoria”. Acompanhada de uma reflexão: adoramos fazer listas de nossas fortalezas e conhecimentos. Qual seria a lista do que você sabe pouco ou ainda não sabe e quer aprender mais nos próximos 6 meses?

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Colunista Alexandre Waclawovsky

Alexandre Waclawovsky

Alexandre Waclawovsky | Wacla

Alexandre Waclawovsky é fundador e CEO da senior 45!60, aceleradora de startups e atua no modelo de CMO ou partner as a service. Também é autor do livro Invente o seu lado I - A arte de inovar numa época de incertezas

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