fb-embedComo o RH pode estar à frente das pautas ESG e outras estratégias? HSM Management

Gestão de pessoas

4 min de leitura

Como o RH pode estar à frente das pautas ESG e outras estratégias?

Quebrar paradigmas e entender seu novo papel é fundamental para a área de gestão de pessoas

Clarice Martins Costa

15 de Novembro

Compartilhar:
Artigo Como o RH pode estar à frente das pautas ESG e outras estratégias?

Quando compartilho minha experiência como diretora de gente e sustentabilidade da Lojas Renner ao longo dos últimos 29 anos, muitas pessoas se admiram, ainda hoje, do fato de uma profissional de recursos humanos ter incorporado também temas da pauta ESG em suas atribuições. Estou falando de 2008, época da criação do Instituto Lojas Renner, quando a importância dessa agenda não estava tão em evidência nas organizações, mas já se falava bastante sobre responsabilidade social.

Naquele momento, percebemos que as equipes de diversas lojas começaram a se mobilizar espontânea e regularmente para arrecadar doações de roupas para as comunidades e entidades de sua região. Em geral, recorriam à área de recursos humanos para saber sobre como proceder com aquelas doações e os gerentes, naturalmente, desejavam compartilhar aquele entusiasmo de seus times conosco.

Por conta dessas iniciativas, entendemos que havia um desejo genuíno e latente na empresa de ajudar, de colaborar, porém os esforços eram dispersos. Em paralelo às doações, atuávamos também como mantenedores do Projeto Pescar, um programa pioneiro de formação sócio-profissionalizante para jovens. Começamos, então, a pensar sobre como organizar todas as ações em andamento para que gerassem, de fato, o maior impacto social.

Mapeamento de ações e demandas

O primeiro passo foi mapear o que as lojas já faziam isoladamente. Ficamos surpresos em descobrir tantas atividades interessantes que não eram documentadas de forma padronizada. Analisamos todas as iniciativas com as lentes da cultura de encantamento da empresa, e levamos em conta o público-alvo preferencial de Lojas Renner: as mulheres.

Com base em todo esse conjunto de informações, levantado a partir de um comportamento detectado nas lojas, a área de recursos humanos apresentou para a diretoria o projeto de criação do Instituto Lojas Renner. Ele nascia, nesse contexto, com o propósito claro de apoiar ações sociais empreendedoras, desenvolvidas por organizações da sociedade civil, que contribuíssem de forma eficaz para a qualificação e inclusão da mulher, bem como para o desenvolvimento das comunidades próximas à empresa. Vale dizer que, nessa época, a Lojas Renner atuava há três anos como uma organização de capital aberto e, portanto, o “G” da governança já estava ancorado.

O “S” do social surgia, dessa forma, como uma demanda interna, sem a pressão do mercado ou de investidores. A iniciativa de criar uma agenda social alinhada ao negócio e ao público da empresa poderia ter sido uma iniciativa da área de marketing, de operações ou ainda de relacionamento com investidores? Poderia. Nesse caso, no entanto, o RH quebrou o paradigma de ser apenas uma área de apoio a outros segmentos da organização, para estruturar, de fato, esta agenda, e ajudar a empresa a adotar uma nova postura, dar um passo importante e estratégico no mercado.

Ímpeto ESG

Com a criação do Instituto Lojas Renner, novos projetos foram agregados e ajudaram a ampliar o impacto social da empresa, por meio de iniciativas que estimulam a geração de renda, o empreendedorismo e a formação profissional de mulheres. Importante frisar que, ao mesmo tempo em que definimos as prioridades de alcance externo por meio do instituto, contemplamos também nossos stakeholders internos, promovendo, por exemplo, o censo da empresa, para conhecer e atuar sobre a diversidade no time de colaboradores, assim como o desenvolvimento e a formalização de boas práticas com nossos fornecedores.

Implementamos ainda uma política de direitos humanos e mantivemos, com regularidade, a pesquisa de satisfação de colaboradores, para entender nossas vulnerabilidades e tomar as melhores decisões em relação à equipe no menor tempo possível. O “S”, semeado pela área de recursos humanos, rendeu vários frutos ao longo do tempo.

Em 2013, o “E” do ambiente (environment, em inglês) foi contemplado também. Nessa ocasião, começamos a fazer a logística reversa dos frascos de perfume e embalagens de maquiagem, um projeto bem amplo, que envolveu toda a cadeia e incluiu a educação e a adequação dos fornecedores ao processo.

Mobilização e engajamento constantes

Em 2016, o Instituto Lojas Renner atualizou sua missão, que foi orientada para o empoderamento econômico e social de mulheres na cadeia têxtil, e desdobrada em quatro frentes alinhadas ao negócio: matéria-prima, produção, varejo e pós-consumo. Dada a dimensão e ramificação de todas essas iniciativas, fica claro que a área de recursos humanos não fez tudo sozinha e, tampouco, avançou sobre as atividades de outras áreas. Coube ao RH identificar um comportamento latente na empresa e mobilizá-lo em uma direção interessante para todos.

No decorrer de todo esse processo, contamos, conforme o projeto, com patrocinadores de diferentes áreas: compras, logística, operações etc. Da mesma forma, apoiamos os projetos de outros setores da empresa sempre que envolviam questões comportamentais, novos olhares e atitudes. Mais do que abordar as atribuições de cada área em projetos transformadores, o ponto central, aqui, é mostrar que a gestão de pessoas também pode ser uma área estratégica, inovadora, disruptiva e assumir o protagonismo e a mobilização de ações de maior impacto.

Um RH estratégico sabe ler a organização, as tendências, o mercado. Um RH estratégico se prepara para conversar com a alta gestão, para engajar seus pares, para defender projetos e iniciativas que, em última instância, irão contribuir para o desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, do negócio e da sociedade.

Compartilhar:

Autoria

Clarice Martins Costa

Clarice Martins Costa preside o Conselho Deliberativo do Instituto Lojas Renner, além de ser membro dos Comitês de Pessoas de Copersucar, Piccadilly e Grupo Panvel, no qual também é conselheira independente, assim como do CIEE/RS.

Artigos relacionados

Imagem de capa Cinco estratégias para aprimorar a escuta ativa - essencial no mercado

Gestão de pessoas

12 Outubro | 2023

Cinco estratégias para aprimorar a escuta ativa - essencial no mercado

Em um mundo acelerado e com a agenda cheia, parar todas as atividades e ouvir podem ser tarefas difíceis de encaixar na rotina agitada e ocupada. Mas é fundamental que o mercado corporativo reconheça e valorize a importância da escuta ativa

Marcelo dos Santos

4 min de leitura

Imagem de capa Quer atrair, reter e engajar colaboradores millennials? Seja uma empresa diferente

Gestão de pessoas

04 Outubro | 2023

Quer atrair, reter e engajar colaboradores millennials? Seja uma empresa diferente

Pessoas nascidas entre os anos 1980 e o final da década de 1990 se interessam mais por qualidade de vida, tecnologia e empreendedorismo. Então, para tê-las em sua equipe, a organização deve ser diferenciada e manter-se fiel ao seu propósito

Thiago Gomes

3 min de leitura

Imagem de capa Gestão de pessoas como estratégia para o sucesso das startups

Gestão de pessoas

29 Setembro | 2023

Gestão de pessoas como estratégia para o sucesso das startups

A pauta sobre a necessidade da área de recursos humanos ser estratégica é recente no mercado de trabalho, mas essencial para o cenário atual. Uma gestão de pessoas adequada deve ter um forte alinhamento interno, com colaboradores engajados e incansáveis na busca por resultados

Marcus Vaccari

4 min de leitura

Imagem de capa Não esqueça das pessoas na agenda ESG! (elas são prioridade)

Gestão de pessoas

24 Julho | 2023

Não esqueça das pessoas na agenda ESG! (elas são prioridade)

Já é de conhecimento geral no mundo corporativo que o ESG tem como foco o ambiental, o social e a governança. Mas o ativo é a gestão de pessoas e deve ter a atenção das organizações

Lisandra Brasil

2 min de leitura

Imagem de capa Gamificação pode ser uma ajuda (sem volta) no processo de liderança

Gestão de pessoas

05 Julho | 2023

Gamificação pode ser uma ajuda (sem volta) no processo de liderança

Uns dos principais desafios no ambiente corporativo são o engajamento e a motivação. Ferramentas gamificadas podem ser ótimos recursos para melhor a produtividade e o sentimento de pertencimento dos colaboradores

Thiago Gomes

2 min de leitura